sábado, 15 de junho de 2024

07-REFLEXÃO DOMINICAL III: O REINO DE DEUS É SEMELHANTE AO GRÃO DE MOSTARDA 16 de junho – 11º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

07-REFLEXÃO DOMINICAL III:

O REINO DE DEUS É SEMELHANTE AO GRÃO DE MOSTARDA

16 de junho – 11º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Por Ir. Izabel Patuzzo, pime*

 

 

I. INTRODUÇÃO GERAL 

Na tradição bíblica, há forte ênfase no fato de que Deus usa pequenas coisas para fazer grandes coisas acontecer. Isso nos alerta contra o menosprezo aos começos pequenos, aos eventos insignificantes e às pessoas simples ou anônimas, que podem levar ao cumprimento dos propósitos de Deus. Enquanto o sucesso e o poder superam o fracasso e a fraqueza, de acordo com a lógica da cultura popular, é a vulnerabilidade, a impotência e a pequenez que prevalecem, de acordo com a lógica da Bíblia. Na primeira leitura, Ezequiel profetiza que Deus remodelará Israel, apesar das ameaças à própria existência do povo. Ele exerce seu ministério profético em um momento muito tumultuado na história do povo escolhido. A era dourada de Davi e Salomão havia terminado. Israel se tornou uma casa dividida e uma peça nas mãos de reinos muito mais poderosos, como Babilônia, Egito e Pérsia. O povo de Deus enfrentou violência chocante, guerra, invasões e ocupação. Sua fé foi testada até os limites extremos. No entanto, no meio desse tumulto prolongado, o profeta os fortaleceu com uma mensagem de esperança. Ele usou a metáfora do pequeno ramo novo, semelhante à imagem do tronco de Jessé em Isaías, para descrever a revitalização de Israel. Na segunda leitura, tirada da segunda carta aos Coríntios, Paulo expressa o desejo de estar “com o Senhor”. O texto sugere que o apóstolo vê sua presente existência apostólica como um exílio. A tarefa atual, no entanto, é viver de tal forma, que sejamos considerados dignos desse destino tão esperado. Seguindo a tradição profética, Jesus fala do Reino no contexto das expectativas populares de um Messias semelhante a César. Ele já havia experimentado uma recepção fria por parte de seus próprios conterrâneos. Foi um desapontamento e uma realidade dura após o sucesso inicial em seu ministério de pregação e cura. Também foi uma lição sóbria para aqueles que o seguiam. Eles não deveriam ter ilusões sobre o tipo de Messias que Jesus era e o que significava ser seu discípulo. O Evangelho de Marcos deixa claro que Jesus não é um herói no sentido convencional. Em vez disso, ele é totalmente um anti-herói, pois age na perspectiva dos pequenos. 

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1.    I leitura (Ez 17,22-24)

 

 A primeira leitura, tirada do livro do profeta Ezequiel, expressa a dura realidade do exílio da Babilônia. Ezequiel é chamado a exercer sua missão profética entre os exilados, para manter viva a esperança de que Deus não abandonou seu povo. Ele dirige sua mensagem em forma de oráculo, propondo um enigma, uma parábola a ser decifrada. O oráculo proferido por Ezequiel, em forma de parábola, apresenta a imagem de Deus plantando um ramo novo de um cedro frondoso, para retratar sua fidelidade às promessas. A mensagem profética assegura aos exilados que Deus cuida de seu povo escolhido como um agricultor cuida da plantação de seu campo, pois Ele mesmo é quem toma o ramo novo e o planta, para que se torne nova árvore. Desse modo, o texto sublinha a presença onipotente de Deus, que conduz a história. Ele sempre toma a iniciativa do cuidado por seu povo, e quem preside a história humana não são os governantes deste mundo, pois Deus é o único soberano que tem controle absoluto da história. É precisamente neste ponto que a parábola narrada pelo profeta encontra sua explicação: os exilados não devem depositar a confiança nas autoridades políticas de seu tempo nem alimentar ilusões, pois somente Deus cuida verdadeiramente do povo escolhido, quaisquer que sejam as circunstâncias ou dificuldades pelas quais esteja passando. 

 

2.    II leitura (2Cor 5,6-10) 

 

No texto que nos é proposto na segunda leitura, Paulo reflete com a comunidade de Corinto acerca do presente e do futuro da vida nova em Cristo. Para ele, a vida terrena é passageira, mortal; este mundo não é nossa pátria definitiva. O apóstolo compara a vida presente a um exílio, no sentido de que a vida em plena comunhão com Deus só se realizará no futuro, quando nos encontrarmos face a face com ele. Na visão do texto, o tempo de exílio neste mundo caracteriza-se por um conhecimento parcial de Deus; é o tempo da fé, um tempo transitório. Para Paulo, a perspectiva da esperança na vida nova em Cristo, plena e eterna, não significa o acomodar-se diante das responsabilidades terrenas, pois aos cristãos compete, enquanto habitam no corpo mortal, viver de acordo com as exigências de Deus, caminhar à luz da fé, assumir de forma radical os compromissos de discípulos de Cristo, trabalhando intensamente para que seu Reino seja uma realidade. A grande preocupação de Paulo é lembrar aos cristãos sua condição de peregrinos neste mundo, cujo destino final é a vida em plena comunhão com Deus. 

 

3.    Evangelho (Mc 4,26-34)

 

 No Evangelho segundo Marcos, Jesus parece relutante em revelar sua identidade de Filho de Deus. Após realizar milagres de cura, ele adverte aqueles que foram curados de que não deveriam contar o acontecido a ninguém. Além disso, ao pregar, escolhe falar para as multidões por meio de parábolas, deixando-lhes a missão de interpretá-las. Somente aos seus discípulos Jesus explica o significado das parábolas, e isso em particular, em um momento posterior. O texto desta liturgia consiste em duas parábolas sobre sementes. Na primeira, Jesus diz àqueles que estão reunidos que o Reino de Deus se assemelha à semeadura. Um homem espalha na terra sementes que, ao longo do tempo, germinam e se desenvolvem. Quando os grãos estão maduros, o homem recolhe os frutos. A ênfase da parábola está na semente, que aparentemente tem o poder de crescer por si mesma. Nisso ela é semelhante ao Reino de Deus que Jesus veio semear. A Jesus interessa apenas o fato de que, entre a semeadura e a colheita, a semente cresce e frutifica por si mesma. O resultado final não depende da ação humana. Portanto, a parábola convida à confiança serena em que, quando se semeia, Deus garante os resultados. A segunda parábola foca na pequena semente de mostarda. Embora não seja a menor de todas as sementes, é muito provável que seja a menor entre as sementes conhecidas por um agricultor do século I da região onde Jesus vivia. Pequena como é, ela se transforma em uma planta volumosa. Embora essa planta seja um arbusto com altura muito inferior à de uma árvore, ela tem ampla extensão e fornece um local para os pássaros fazerem ninhos. Assim como a árvore acolhe os pássaros, o Reino de Deus tem um início quase invisível, mas se desenvolve de forma surpreendente, tornando-se acolhedor e aberto a muitos. 

 

 

 

 

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

 

 As parábolas são pequenas histórias que recolhem ditos de sabedoria popular. São um fenômeno do mundo hebraico que consiste em escolher falar de modo indireto, em vez de empregar um discurso direto. Jesus muitas vezes utilizou parábolas para transmitir ensinamentos. Esse modo de ensinar, típico dos mestres de seu tempo, tinha como base histórias curtas e era muito usado por ele sempre que queria falar algo que estava próximo ao seu coração. Ademais, seu ensinamento não consistia apenas em transmitir conceitos acerca da verdade, mas tinha por objetivo, sobretudo, conduzir seus seguidores à pratica da caridade, do bem, da justiça e do cuidado com o próximo. Em sua missão terrena, Jesus plantou as sementes do Reino por meio de palavras e gestos. No entanto, o Reino de Deus ainda não está completamente estabelecido. Embora já presente em Jesus e em seu grupo de doze discípulos, ele ainda precisa frutificar. Assim como a semente na parábola precisa de tempo para crescer, também a missão de construir o Reino de Deus envolve o semear, o crescer e o frutificar. Isso exige tempo, dedicação, cuidado e paciência. Nossa fé, assim como as sementes plantadas na terra, assim como o grão de mostarda, cresce à medida que pomos em prática os ensinamentos de Jesus e nos leva a realizar coisas grandiosas e surpreendentes, à semelhança das imagens presentes nas parábolas do Evangelho deste domingo. À medida que cresce, ela nos conduz a Cristo e, consequentemente, ao seu Reino. Nossa fé também atrai outros para Cristo e para sua Igreja – sinal visível do Reino de Deus na terra. Como Cristo diz: “As aves do céu vêm se abrigar sob seus ramos”. Como nossa fé atrai outros para Cristo? Quando demonstramos ou testemunhamos bem nossa fé individual e coletiva, o resultado é excelente. Vidas podem ser tocadas e transformadas. Ao continuarmos a missão de Jesus, semeando o Reino de Deus, nossa preocupação não deve ser sobre como a Palavra se desenvolve no coração das pessoas, pois o agir é de Deus; nossa missão consiste em semear sempre e em todos os lugares. A eficácia do crescimento pertence a Deus. A referência à pequenez, na segunda parábola, convida-nos a rever os critérios de nossa atuação no mundo, a qual não deve ocorrer na perspectiva da grandiosidade, mas da qualidade de nosso testemunho e dedicação.

Ir. Izabel Patuzzo, pime*

 

*pertence à Congregação Missionárias da Imaculada. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção. Doutora em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. E-mail: isabellapatuzzo@hotmail.com

https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/16-de-junho-11o-domingo-do-tempo-comum-2/

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