XIII-REFLEXÕES DE UM PSICÓLOGO, PAI E
AVÔ...
Lindolivo Soares
Moura(*)
Oi
minha linda, tudo bem com você? Lembra-se de quantas vezes você respondeu
"sim" a essa pergunta, mesmo sabendo que "não" era bem essa
a situação? Mas não se preocupe: a isso se pode dar o nome de
"esperança", sabe por quê? Porque esperança vem do verbo
"esperançar", e não do verbo "esperar" como pensa a grande
maioria das pessoas. À primeira vista a diferença pode parecer pequena, mas
basta refletir um pouco para se perceber que se a diferença é pequena a
importância é grandíssima. Conhece aquele ditado que diz: "quando esperar
é preciso, melhor esperar sentado"? A esperança que move o esperançoso é
muito diferente dessa espera, a espera do "des"esperado, pois ela o
impulsiona a fazer exatamente o contrário: levantar-se, seguir em frente e
continuar buscando - se não mais o que se perdeu, ao menos a razão, o sentido e
o significado. "Sacudir a poeira e dar a volta por cima", como sugere
a canção, isso é o que se deve e se precisa fazer; nada de ficar sentado à
beira do caminho, no banco da praça dando milho aos pombos, ou permanecer
debruçado sobre a janela esperando a vida passar. Posturas e atitudes desse
tipo pouco ou nada têm de otimismo e esperança; são típicas de quem caiu, desistiu
e assumiu o papel de vítima, vestiu-se com o manto do pessimismo e agora não
sabe fazer outra coisa senão lastimar e reclamar; o autêntico
"chato", como diria Ariano Suassuna. Deus que nos livre de uma
companhia desse tipo! Quanto mais longe passar, melhor vai ficar. Tais pessoas
se recusam a aceitar o fato de que a vida é feita de "perdas" e "ganhos", e
que quem não aprender a lidar com as perdas tampouco com os ganhos aprenderá. Aliás, esse parece ser um bom assunto para a
"dica" de hoje. Preparada? Então vamos lá: APRENDENDO A LIDAR COM
PERDAS E GANHOS: TAMBÉM ISSO É DEMONSTRAÇÃO DE CRESCIMENTO E MATURIDADE.
Antes
de mais nada, minha linda, observe com atenção o seguinte paradoxo: você diz
"vida!", e o que é que a vida diz!? - "morte!"; você diz "bem!",
e a vida o que é que diz!? - "mal!"; você diz "saúde!", e a
vida diz!? - "doença!"; você diz "bondade!", e a vida diz!?
- "maldade!"; você diz "alegria!", e a vida diz!? - "tristeza!";
você diz "chegada!", e a vida diz!? - "partida!"; você diz
"ganho!", e a vida diz!? - "perda!"; e por aí segue a
carruagem dos opostos ou contrários que do nascer ao morrer, do amanhecer ao
por do sol, insistem em querer dirigir e azucrinar nossas vidas. Isso porém não
é pessimismo, minha linda; a isso chamamos "princípio de realidade".
À dinâmica ou processo que movimenta, sustenta e coloca em marcha tudo isso,
chamamos "processo dialético": tese, antítese, e síntese. Bora lá,
perguntar ao professor de filosofia que tipo mais estranho de bicho é esse. Por
enquanto vamos tentar resumir o que até aqui já foi dito, afirmando o seguinte:
sob o prisma que estamos considerando, ou seja, o da chamada "dialética
dos opostos", a vida não é senão um contínuo e inesgotável esforço que
cada um de nós fazemos, a cada dia e a cada momento, buscando da melhor maneira
possível integrar os opostos e harmonizar os contrários; tarefazinha difícil, é
bem verdade, mas é basicamente isso. Podemos - e de fato assim fazemos -
questionar o porquê da vida ser assim; para cada coisa boa, ter que existir uma
ruim. Mas para ser honesto e sincero com você, nem a vida nem os deuses, nem
tampouco a religião e a ciência com toda sua sapiência, nos deram até agora uma
resposta convincente. A esse intrigante segredo, e a esse inquietante silêncio,
atribuímos o nome de "mistério". "Nossa!!! Você está pra lá de
misteriosa hoje!!!": já ouviu algo desse tipo dito por sua mãe, tio Lúcio,
um professor da escola, ou por um amigo ou amiga que você ama? Pois é! Nós
humanos compartilhamos esse detalhe com a vida: também temos nossos próprios
segredos e mistérios. Alguns guardados "a sete chaves", outros nem
tanto, e por fim aqueles que somente pessoas muito especiais acabam tendo o
privilégio de tomar conhecimento. O certo é que "livro totalmente aberto"
nem mesmo nosso "diário" costuma ser; não sem razão ele é também
chamado de "diário íntimo". Sabe-se lá!? Melhor uma reservazinha,
mesmo que pequena, de segredos e "mistérios"! Afinal, não é isso que
a própria vida nos ensina? E de acordo com quem já viveu bastante e acumulou
experiência, a vida - como de resto a própria morte, de acordo com Rubem Alves
- sempre foi e sempre será uma excelente mestra. Reserve um tempinho para ler:
"Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?", do escritor
norte-americano John Powell. Vai gostar.
Retornando,
minha neta-filha querida, ao foco da presente "dica": dentre todos os
pares de opostos ou contrários com os quais temos maior dificuldade em lidar,
"perdas e ganhos" ocupa sem dúvida e sem muito esforço o primeiro
posto. Isto porque todo tipo de ganho nos traz alegria e satisfação, da mesma
forma que todo tipo de perda provoca em nós tristeza, decepção e frustração.
Esta é uma das leis mais básicas da vida, e não parece haver muito o que fazer
para alterá-la e menos ainda para substituí-la por outra que nos traga menos
sofrimento e mais satisfação. Há perdas que são naturais, como aquelas
provocadas pela doença, pela velhice, e pela própria morte; outras são
consequência da intervenção desastrada e da ambição desvairada do próprio ser humano,
frutos da guerra, do terrorismo, do crime e do banditismo social; outras ainda
são decorrentes da irresponsabilidade desse mesmo ser humano, tais como aquelas
que nos chegam por via do erro, da negligência, da imprudência ou da imperícia,
bem como por via de uma decisão ou escolha mal feita por nós mesmos ou por
outrem; por fim existem aquelas aparentemente fortuitas e acidentais,
produzidas pelas intempéries da natureza, acidentes de trânsito - nem sempre
tão fortuitos como nos querem fazer crer - catástrofes e similares. De uma forma ou de outra, o fato é
que "por vezes os deuses nos impõem pesados fardos", como se queixava
certo personagem do filme italiano "La Cittá della Gioia" - "A
cidade da alegria", em tradução livre. Se não são eles, os deuses, quem
no-los impõem, como advertem alguns, tampouco deles nos livram, o que para quem
os suporta pouca ou nenhuma diferença faz. Pode parecer curioso e até estranho,
mas René Spitz, um dedicado estudioso do comportamento humano, sugere que desde
"O primeiro ano de vida" - é esse o nome da obra na qual ele faz tal
recomendação - pais e cuidadores devem
não só "satisfazer" mas também, gradual e progressivamente, começar a
"frustrar" seus filhos e netos, como forma de ensiná-los e
prepará-los para lidar com as muitas e diferentes perdas que mais tarde
encontrarão pela frente. Perder alguém querido - um pai ou uma mãe, um irmão ou
irmã, um avô ou avó, um professor, um colega ou um amigo - assim como perder um
emprego que nos garante a subsistência, ou um animal de estimação que nos
acompanha por longos anos de nossa vida, são apenas alguns exemplos de perdas e
danos que a existência nos impõe, à total revelia de nossa aceitação ou do
nosso consentimento. Ninguém, absolutamente ninguém, está livre desse tipo de
experiência e de vivências, por mais atenção, cuidado e dinheiro que se possa
investir em prevenção. Portanto, minha linda, se uma perda de qualquer natureza
ou dimensão bater à sua porta, procure manter a calma, a serenidade e o
equilíbrio. E caso você se pergunte: "por quê!? Por que justamente
comigo!?", lembre-se do que falamos antes sobre os segredos e os mistérios
da vida. O melhor que se pode fazer nessas horas é permanecer em silêncio e
procurar ouvir atentamente a voz do seu coração, sem dar exagerada importância
às vozes e burburinhos das pessoas ao seu redor, que para tudo parecem ter
sempre uma explicação. Se preferir e decidir compartilhar com alguém a dor
decorrente dessa perda, sugiro que o faça de preferência com os mais velhos e
mais vividos, que certamente já passaram também eles por muitas dores e perdas
semelhantes. Ah! Chorar também é permitido, e quem já passou pela experiência,
e entende bem do assunto, assegura que por vezes pode ajudar e muito; aliás, é
a isso que nós humanos chamamos de "luto". Viver e elaborar bem cada
perda e cada luto, tanto quanto se possa e se nos esteja ao alcance, é muito
mais importante do que se pensa. Dispensar ou simplesmente ignorar esse
recurso, é certeza de que os espectros e fantasmas que habitam nossa mente
continuarão nos assombrando dia e noite com delírios e alucinações. Por fim,
quando o tempo fizer o seu trabalho e a meditação e a oração cumprirem sua
missão, tranquilizando sua mente e pacificando seu coração, não se esqueça de bendizer e agradecer; agradecer sempre, e
apesar de tudo. Afinal, como nos ensinam os poetas e os grandes mestres, que
têm em comum muito mais do que se pensa, "apesar de toda dor, sofrimento e
provação que a vida nos impõe, ela é e será sempre um verdadeiro show, um maravilhoso
e estupendo espetáculo!". Com relação a "perdas e ganhos", um
último lembrete: a quem verdadeiramente se ama, nunca se perde; mais cedo ou
mais tarde a gente se encontra. AMO MUITO VOCÊ, BIA, O BEN, O FRAN E O ALÊ!
Jamais se esqueçam disso! Amar e ser amado é tudo de bom!
(*)
Lindolivo Soares Moura enviou o texto via whatsapp, de Vitória(ES).
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