REFLEXÃO
DOMINICAL I
QUARESMA:
TEMPO DE PENITÊNCIA E CONVERSÃO
A Leitura do Gênesis
nos apresenta o final do dilúvio, em que Deus preservou Noé e seus filhos da
destruição provocada pelas águas do dilúvio. É um momento de alegria: Deus
promete não mais devastar a terra e estabelece uma aliança, cujo sinal é o
arco-íris. Como ouvimos na Carta de São Pedro, através da arca, poucas pessoas
foram salvas. Essa arca representa o Batismo, pelo qual nós somos salvos do
pecado original e, pela Confissão, somos redimidos dos nossos pecados pessoais,
graças aos méritos da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Tudo isso é para
nós motivo de esperança e de alegria. O Evangelho deste domingo nos apresenta
Jesus conduzido ao deserto, onde permaneceu por 40 dias, em jejum e oração;
terminados os quais, foi tentado pelo demônio. A rigor, Jesus sendo Deus
verdadeiro, uma Pessoa Divina com uma natureza humana completa, isenta de
pecado, não tinha necessidade de fazer penitência, porque possuía o pleno
domínio de suas inclinações e apetites humanos. Mas Ele quer deixar-nos um
exemplo claro: temos que dedicar-nos à oração e à penitência para purificar-nos
do pecado e da inclinação para o mal que sentimos em nossos corações. Por isso
nos diz: O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos
e crede no Evangelho (Mc 1,15). Começamos os exercícios da Quaresma: contemplar
a Paixão de Jesus, fazer a Via Sacra, ler os relatos da Paixão e fazer
penitência pessoal. Tudo isso nos ajuda a perceber a grandeza do amor de Jesus,
que passa ao nosso lado carregando a sua Cruz e nos convida: Se alguém quiser
vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me (Mt 16,24). Um dos
prefácios da Quaresma ensina-nos que o jejum e a abstinência que praticamos
neste período tem várias finalidades: corrigir os nossos vícios, elevar os
nossos sentimentos, fortalecer o espírito fraterno e garantir a recompensa
eterna. Sentimos a necessidade de uma maior purificação pessoal e este deve ser
um dos nossos mais profundos desejos: mudar de vida, escutar a voz de Deus e
conseguir uma conversão sincera. Corrigir os nossos vícios, ou seja, lutar
contra as más inclinações que procedem do nosso interior: desejamos libertar o
nosso coração, as nossas potências e sentidos de tudo aquilo que possa
representar um obstáculo à união com Deus. A penitência permite cortar as
amarras, as cadeias que nos prendem à terra, ao egoísmo, ao orgulho, à
preguiça, à sensualidade etc. Ou seja, purificar os pecados em que caímos com
frequência. A penitência da Quaresma tem também a finalidade de elevar os
nossos sentimentos: permite-nos usufruir desta verdadeira liberdade dos filhos
de Deus. Se o nosso mundo interior estiver agitado (músicas, monólogo interior,
pequenas críticas, etc.) não conseguiremos escutar a voz de Deus. A terceira
finalidade é a prática do amor fraterno: superar as diferenças, os pequenos
atritos e choques com o caráter dos outros. Podemos aproveitar estas pequenas
diferenças para cultivar a virtude da paciência e ter o comportamento de quem
se esquece das suas coisas para fazer os outros passarem um bom momento. Por
fim, garantir a recompensa eterna: confiamos nas promessas de Deus porque Ele é
fiel e nos concede as graças necessárias para crescermos na luta espiritual e
purificarmos as nossas almas do pecado e das suas penas, para sermos admitidos
na presença de Deus, no Céu, o único que realmente vale a pena.
Dom Carlos Lema Garcia Bispo Auxiliar de São Paulo
https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-48b-17-1o-domingo-de-quaresma.pdf
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