sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

REFLEXÃO DOMINICAL III 11 de fevereiro – 6º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

REFLEXÃO DOMINICAL  III


11 de fevereiro – 6º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Por Pe. Junior Vasconcelos do Amaral*

 

“Eu quero: fica curado!”

I.              INTRODUÇÃO GERAL

 

Se, por um lado, a liturgia nos põe diante da exclusão e do mal causados pela doença então conhecida como lepra, por outro, apresenta-nos a inclusão e o bem protagonizados por Jesus, que diz: “Eu quero: fica curado!” As palavras de Jesus têm poder de incluir e salvar: essa é a mensagem do Evangelho do dia. A primeira leitura lembra-nos o que aconteceu com Naamã, o sírio, purificado de sua doença ao realizar o que o profeta Eliseu lhe havia pedido. Na segunda leitura, Paulo nos convida a ser seus imitadores, assim como ele imita a Cristo, buscando em tudo o bem dos irmãos.

II.            COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

 

1.    I leitura (2Rs 5,9-14)

 

Naamã, o sírio, está com uma doença de pele e vai até Eliseu – um homem reconhecido como poderoso em razão de seus milagres –, na esperança de que o profeta o toque. Contudo, Eliseu diz, por meio de um mensageiro, que Naamã deverá lavar-se sete vezes no rio Jordão para ser curado. O general sírio, reticente, questiona a atitude do profeta de mandar-lhe um servo dizer tais palavras (v. 11). Na verdade, esperava que Eliseu saísse para recebê-lo de pé, que invocasse sobre ele o nome do Senhor e o tocasse com sua mão. Naamã também questiona o fato de ter de banhar-se no rio Jordão, uma vez que, em sua terra, há outros dois rios mais caudalosos e importantes – o Abana e o Farfar –, que ele julga serem melhores do que todas as águas de Israel (v. 12). Indignado, Naamã dá meia-volta.

Na Antiguidade, a doença então denominada lepra sujeitava as pessoas a viver nas saídas das cidades e a não se relacionarem fisicamente com os outros. Constituía uma doença excludente, que retirava da pessoa a possibilidade de conviver e de tocar em outras por causa do risco de transmissão, situação que perdurou até pouco tempo atrás, a ponto de muitos doentes serem levados a leprosários.

Contudo, na cena do relato, os servos de Naamã o convencem a mudar de ideia: “Senhor, se o profeta te mandasse fazer uma coisa difícil, não a terias feito? Quanto mais agora que ele te disse: ‘lava-te e ficarás limpo’”. Na verdade, eles tocam a consciência do seu senhor, que fez um esforço para vir a Israel e agora deve ouvir a mensagem do profeta Eliseu. O v. 14 descreve que ele desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme a orientação do profeta. Depois disso, sua carne se tornou semelhante à de uma criança, pois ele ficou purificado. Naamã, antes incrédulo, converte-se à mensagem profética de Eliseu. Tudo isso por intercessão de seus servos, que são, para nós, neste trecho, símbolos de fé.

2.    II leitura (1Cor 10,31-11,1)

 

Paulo, nesta altura de sua carta, convida a comunidade de Corinto a imitá-lo, ele que é imitador de Cristo e vive sua vida iluminada pela ressurreição do Senhor (v. 1). “Quer comais, quer bebais” corresponde às atitudes basilares da pessoa humana, às suas necessidades vitais. Isso e tudo o mais devem ser realizados para a glória de Deus, e não como efeito das idiossincrasias e misérias humanas. No entendimento de Paulo, o importante para o cristão é não ser pedra de tropeço e de escândalo para o próximo. Ser motivo de tropeço para o outro, seja judeu, seja grego, seja ainda um cristão da Igreja de Deus (v. 32), não é honroso.

A comunidade eclesial deve ser lugar de fraternidade, no qual deve imperar o amor, e não a busca de vantagens pessoais. A Igreja deve ser lugar em que se almeja a salvação para todos, e não o privilégio de alguns, em detrimento do sofrimento e exploração de muitos. A essência da comunidade cristã é o amor fraterno.

3.    Evangelho (Mc 1,40-45)

 

Jesus é o taumaturgo por excelência, capaz de recriar o decaído. Para o Evangelho de Marcos, Cristo tem poder sobre as doenças, incluindo aquela que acometia o homem da perícope em análise, do qual, diferentemente de Naamã, não sabemos o nome, mas reconhecemos a fé. A lepra bíblica – em hebraico, sara‘at, no Antigo Testamento, e lepra no Novo Testamento – era um termo geral para designar qualquer doença repulsiva relacionada à escamação da pele, como psoríase e dermatite seborreica. Por exemplo, o livro do Levítico, mais especificamente o capítulo 13, descreve os vários tipos de enfermidade e sua detecção pelo sacerdote, que declarava, no final do tratamento, a pessoa pura ou impura.

O homem leproso (do grego, lepros) aproxima-se de Jesus e, ajoelhado, suplica-lhe: “Se queres, tens o poder de curar-me” (ou, no grego marcano, “purificar-me”). O verbo encontrado no texto grego é katharisai, que pode ser traduzido por “declarar puro” ou “purificar” (v. 40). A fé do doente o faz burlar a lei do distanciamento; sua fé o aproxima de Jesus. Sua iniciativa se dá, exclusivamente, pela fé. Por sua vez, no v. 41, Jesus, cheio de compaixão (em grego, splanchinistheis), comovido interiormente, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero: fica curado!” As palavras de Jesus levam o doente à cura, à sua purificação. No v. 42, o evangelista Marcos afirma que o homem ficou puro.

Jesus o mandou embora para cumprir o ritual de apresentar-se ao sacerdote, que o declararia puro, de acordo com a lei de Lv 14. “Não contes nada disso a ninguém” (v. 44) corresponde ao segredo messiânico, comum ao Evangelho de Marcos e, por isso, comum também aos Evangelhos sinóticos. No entanto, assim que ele partiu, começou a proclamar e divulgar o fato (v. 45). Esse que conta e divulga os fatos, supostamente, é o homem curado. Há, contudo, quem sugira que o pronome “ele” possa ser atribuído também a Jesus. Dessa maneira, diluiria o efeito do segredo messiânico, pois Jesus mesmo teria contado o que fez, a cura praticada. O fim do v. 45 afirma que, em razão de tal divulgação, Jesus já não podia entrar publicamente nos lugares e de toda parte as pessoas vinham para que ele pudesse curá-las.

Jesus é o taumaturgo do Pai que segue, em sua vida itinerante, curando e purificando as pessoas de suas misérias e pecados. Que ele continue a agir por meio de nossas atitudes no interior das comunidades cristãs! Que sejamos casa de clemência e misericórdia, na acolhida aos nossos irmãos e irmãs, como exorta o papa Francisco em sua ação pastoral.

III.           PISTAS PARA REFLEXÃO

 

Mostrar a sintonia existente entre as leituras e como elas nos convidam à fé em Deus, que age em Jesus, purificando-nos de nossas impurezas, sobretudo a incredulidade. Propor à comunidade cristã a vivência da fé em Cristo, sobretudo o amor e a compaixão. Refletir sobre as exclusões que podemos promover na Igreja, nas situações em que julgamos as pessoas. Evidenciar o Deus da inclusão revelado na face de Jesus, que sente compaixão por todos nós.

Pe. Junior Vasconcelos do Amaral*

 

*é presbítero da arquidiocese de Belo Horizonte-MG e vigário episcopal da Região Episcopal Nossa Senhora da Esperança. Doutor em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje – BH), realizou parte de seus estudo de doutorado na modalidade “sanduíche”, cursando Narratologia Bíblica na Université Catholique de Louvain (Louvain-la-Neuve, Bélgica). Atualmente, é professor na PUC-Minas, em BH, e pesquisa sobre psicanálise e Bíblia. E-mail: jvsamaral@yahoo.com.br

https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/11-de-fevereiro-6o-domingo-do-tempo-comum/

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