A invocação das ‘dores’ começou a ser pública e específica desde que o Papa Benedito XIII, em 22 de agosto de 1727, mandou que se rezasse sobre as ‘dores de Nossa Senhora’.
Mulher eis aí o teu filho; filho eis aí a tua mãe. (Jo
19,26-27).
Esses dois versículos de São João, são conhecidos como o
testamento de Jesus. Jesus encontra-se já pregado na cruz, momento altíssimo da
sua missão salvífica. Está próximo o momento do seu retorno para a glória do
Pai. Antes de voltar para o seio do Pai, de onde Ele veio, Jesus deixa para
nós, homens, a sua herança.
Entrega a João, o discípulo amado e fiel até a cruz, a
maternidade de Maria. João é figura de todos os discípulos fiéis e de todos os
tempos. Portanto, quando Jesus, do lenho da cruz, diz a João: “Eis a tua Mãe”;
na realidade está confiando toda a sua igreja à guarda da proteção materna de
Maria.
Daquele momento em diante, por desejo e ordem do próprio Jesus,
a maternidade espiritual de Maria, estendeu-se sobre todos aqueles discípulos
de Jesus, que como João lhe são fiéis até o fim, até a cruz; em todos os tempos
e lugares onde estiver presente a sua igreja.
Também à Maria Jesus diz: “Eis o teu filho”, referindo-se a
João. Pela sua fé inquestionável, Maria teve coragem de oferecer seu único e
amado Filho na cruz. Provavelmente esse foi o momento mais doloroso da sua
caminhada de fé. Provavelmente, na cruz, foi a última e mais difícil renovação
do seu “sim” ao plano de Deus, pois humanamente tudo parecia obscuro, incerto.
Tudo parecia ter chegado ao fim e o seu sofrimento materno
atingia o grau máximo. Humanamente Maria não deveria ter mais forças e nem
motivos para continuar tendo esperanças. Porém, ela espera contra toda
esperança.
Mais uma vez, ela se abandona totalmente no mistério divino,
confiando somente na fidelidade de suas promessas. Quase que como recompensa ao
seu total despojamento, que lhe faz capaz de oferecer tudo, até mesmo seu único
filho.
Jesus entrega João à Maria como filho e, através dele, entrega
toda a sua igreja, todos os seus discípulos fiéis de todos os tempos aos
cuidados maternos de sua Mãe. Foi em base a estas palavras de Jesus na cruz,
que o Papa Paulo VI, disse que nenhuma igreja pode ser verdadeiramente cristã,
se não for Mariana. Nenhuma igreja que se diz cristã, não honra o seu nome, se
não ama, não respeita e não venera a Virgem Maria, da qual nasceu Jesus, em
quem se fundamenta toda igreja que carrega o peso do nome “cristão”.
Uma igreja cristã sem a Mãe de Jesus, seria como uma bonita
construção, com colunas e paredes resistentes, mas sem telhado ou sem abertura.
Mas, a intenção de São João ao narrar as últimas palavras de
Jesus na Cruz, não é somente aquela de comprovar o desejo de Jesus sobre a
maternidade espiritual de Maria dentro da igreja.
Nas palavras de Jesus e no fato da presença de Maria aos pés da
cruz, ele quer mostrar-nos também em que consiste essa maternidade espiritual
de Maria dentro da igreja. De fato, o que o evangelho quer nos ensinar, é que a
maternidade espiritual de Maria sobre toda a sua igreja, não é somente um
título de honra dado a Maria, mas é a justa recompensa pelo modo como a Virgem
Mãe colaborou ativamente na obra salvífica do seu Filho e nosso Senhor Jesus.
A sua maternidade espiritual é a justa recompensa de Deus, pela
atitude de inteira entrega e doação que Maria assumiu desde o momento em que
deu o seu primeiro “sim” ao plano de Deus. Por isso mesmo, a maternidade
espiritual de Maria, não é somente um privilégio, mas acima de tudo, uma nova
missão que Deus lhe confia. A cooperação de Maria no calvário é o prolongamento
daquele seu consenso ativo, irreversível e incondicionado dado na anunciação,
mas que persiste e culmina aos pés da cruz..
Através do conceber a Jesus; gerá-lo em seu seio, nutri-lo,
apresentá-lo ao Pai no templo e do seu sofrer com o filho que morre na cruz,
Maria coopera de modo muito especial na obra da nossa salvação, com a sua
obediência, sua fé, sua esperança e sua ardente caridade, para restaurar a vida
sobrenatural de todos as almas.
Se Jesus é o homem das dores, Maria é a mulher das dores. Ela,
aos pés da cruz, sofrendo com seu filho, é para todos os cristãos, modelo da
perfeita união com Cristo até as últimas consequências. Mais importante do que
a presença física de Maria entre os poucos discípulos fiéis a Cristo aos pés da
cruz, é a sua comunhão íntima com o Cristo crucificado. Maria juntamente com os
poucos discípulos fiéis (que representam dignamente o resto fiel de Israel),
abraça aquela cruz como se fosse sua, faz sua a mensagem contida naquele gesto
de Jesus.
Ela, aos pés da cruz, torna-se o modelo perfeito do verdadeiro
discípulo de Cristo, que o segue até ás últimas consequências. Seguir a Cristo
até a cruz, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos, é o verdadeiro
teste de maturidade da fé, pelo qual Maria passou e foi aprovada. Portanto, a
celebração de hoje, deve nos conduzir a uma reavaliação da nossa condição
cristã.
Ser cristão, não é somente dizer-se tal, ter recebido o batismo,
rezar ou frequentar a igreja. Ser cristão, é dar um sim a Deus e ser fiel a ele
até as últimas consequências. É abraçar a cruz de Cristo e fazê-la nossa. É não
perder a fé e a esperança na fidelidade de Deus, mesmo diante da dor, da
incerteza e da crueldade da cruz. É saber fazer nascer a vida a partir das
situações de morte, pelas quais passamos.
Que a Virgem Mãe das Dores, nos ensine a abraçar com coragem
nossas cruzes, viver cristãmente nossas dores, sendo fiéis a Cristo até as
últimas consequências.
http://www.pnslourdes.com.br/formacao/formacao-liturgica/a-semana-santa/
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