4 conselhos de um monge para
vermos o invisível desta pandemia
© Philippe
Lissac / GODONG Ref:367
Álvaro Real
Dostoiévski, Gógol e Tolstói
buscaram respostas nos “starets" de um mosteiro ortodoxo. Por que não
fazermos o mesmo durante a pandemia?
O
mundo de hoje quer respostas fáceis e modelos “low-cost”. Muita gente se
concentra nos “influencers” e no que eles vendem. Mas há muito mais além disso.
Há muitas pessoas além daquelas representadas nas séries, nos nossos programas
favoritos, nas redes sociais. São, de fato, aqueles seres humanos dotados de
uma sensibilidade especial: os “ouvintes” do mundo.
Neste
universo em constante movimento, atormentado pelas mil e uma atividades, além
do ideal de produtividade e renda, há pessoas que, aparentemente, não fazem
nada. São aqueles enviados por Deus para permanecer em silêncio, para não ter
que desempenhar um papel, mas contemplar, ver, esperar.
Se
realmente existisse um comitê de especialistas que nos permitisse sair melhor
desta pandemia, certamente eles seriam os que vislumbram o que se vê no
invisível, no essencial – aquilo que, nas palavras de Saint-Exupery é
“invisível aos olhos”.
A pandemia através dos olhos de um monge
Grandes
escritores e pensadores buscaram paz e serenidade no exemplo destes homens.
Dostoiévski, Gógol e Tolstói, por exemplo, procuraram respostas ao drama do
homem no famoso mosteiro de Optina Poustinia. Buscaram os conselhos dos famosos “starets”, ou seja, os anciãos dos mosteiros ortodoxos russos. Então, por que
não podemos fazer o mesmo hoje? Por que não buscarmos respostas em uma abadia?
Por que não vermos a pandemia através dos olhos de um monge?
Talvez
assim poderíamos encontrar respostas para questionamentos como: Para onde
vamos? Por que tanto sofrimento? O que é mais importante na vida? Sairemos
melhores desta pandemia? O que realmente é essencial neste momento?
A fé em tempos de pandemia
Mauro-Giuseppe
Lepori, abade geral da Ordem de Cister, reflete sobre essas perguntas no
livro La
fe en tiempos de Pandemia (“A Fé em Tempos de Pandemia”).
Seu texto é denso, profundo e enriquecedor. Na obra, ele oferece quatro grandes
reflexões sobre este momento de pandemia:
1 – A importância do coração
O
autor define o coração do homem como uma “espinha na carne do mundo” e mostra
que esse coração está na consciência. Sem o coração humano nada teria sentido.
“O coronavírus e a economia têm
suas próprias leis, seus próprios processos, que, geralmente, parecem
enlouquecer, rebelar-se contra o homem. Mas nenhuma lei física, biológica ou
econômica é maior que a liberdade de um só coração humano”.
2- A obra de Deus nos gestos humanos
Deus
está em cada gesto. Isso é o que faz com que cada uma das pequenas ações que
realizamos em casa tenham sentido. Alguém acha que perde tempo ao ficar em
casa? Você acha que quando você fica em casa na quarentena está desperdiçando o
tempo?
Mauro-Giuseppe
Lepori explica:
“Até o menor gesto, até a obra mais
oculta, como a oração na cela de um ermitão ou o mais humilde serviço no âmbito
familiar se converte em um acontecimento que introduz uma semente de novidade
humanamente impossível no processo histórico, já que é uma novidade divina e
eterna”.
3 – A vivência do presente
Durante
o confinamento, percebemos que era ruim fazer nada. De repente, nos vimos sem
capacidade de pensar no futuro. Tudo é presente. E, para muitos, isso é um
pesadelo.
O relógio não corria e todas as nossas metas tinham
desaparecido. Um ritmo que não era real. Só o presente e o agora passaram a
existir. Lepori faz uma ligação disso com o capítulo 43 da Regra de São Bento:
“É uma forma de viver, de
concebermos a nós mesmos, ao tempo, às coisas, às relações, ao dever, ao
prazer, a toda nossa relação com a realidade, que nos fazem humanamente
intensos”.
4- Viver com a consciência de que Deus está presente
Lepori
termina sua reflexão confessando que não tem uma solução para os problemas do
homem. Mas nos oferece uma maneira de enfrentá-los: dar testemunho da presença
de Deus a todo momento.
“Não se trata de impor a fé, mas de
propor a intensidade humana que a fé produz em quem a experimenta”.
Enfim,
em seu texto, Lepori, serve como vigia noturno do mar, um farol na escuridão e,
embora não nos ofereça repostas concretas, apresenta uma nova maneira de
enfrentar os desafios. Vale a pena recorrer à sabedoria de um «starters» e à
reflexão dos monges para sairmos das confusões da história.
Fonte: https://pt.aleteia.org/2021/02/19/4-conselhos-de-um-monge-para-vermos-o-invisivel-desta-pandemia/
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