Meditação para o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor
Por Pe. Paulo
Ricardo
— Na celebração litúrgica deste domingo, recordamos duas realidades: a
entrada triunfal de Jesus na cidade santa de Jerusalém, ocasião em que se
manifesta a Sua realeza divina — Ele é aclamado com cantos de hosana pela
multidão — e, ao mesmo tempo, o mistério da Sua Paixão. Nesse estranho paradoxo, somos
apresentados ao fato de que Jesus é, sim, o Messias que vai nos libertar, mas o
Messias inesperado. Ele não vem como um revolucionário
político, “não se apoia na violência, não começa uma insurreição militar contra
Roma”, mas vem como “servo sofredor”, cujo “poder é de caráter diferente; é na
pobreza de Deus, na paz de Deus que Ele individualiza o único poder salvador”
(Ratzinger, 2011, p. 18).
Os judeus, porém, não O reconhecem. E não O reconhecem porque não têm as lentes da fé que abrem
o coração humano e o fazem exclamar como o centurião no final do Evangelho
deste domingo: “Na verdade, este homem era o Filho de Deus!” Como
“a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes”, precisamos,
hoje, rasgar os véus que cobrem a Cruz de Cristo para enxergá-lO como Aquele
que vai nos salvar de nossos pecados. Do contrário, o episódio da Cruz será,
para nós, apenas mais um crime, um espetáculo de horror como o foi para os
judeus.
Quando Mel Gibson lançou A Paixão de Cristo nos
cinemas, grande parte do público viu apenas um filme de terror. Mas por trás de todo aquele sofrimento e
flagelo havia o mistério da redenção. Na Cruz, Jesus não sofreu
apenas uma execução cruel e injusta; Ele deu a sua vida livremente — “ninguém a tira de mim, mas eu a dou de
mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir” (Jo 10, 18) — para,
através do Seu sangue, realizar um gesto de justiça, amando a Deus como Ele
deve ser amado, e um gesto de misericórdia, reavendo o gênero humano, perdido
pelo pecado. Em outras palavras, Jesus deu a sua vida pela salvação do homem.
Para crermos no mistério da Cruz, devemos apoiar-nos na fé da Virgem Maria. Ela, a mãe do Salvador, foi a única que não vacilou diante da Paixão. Mesmo o apóstolo João, que estava também ao pé da cruz, precisou ver o sepulcro vazio para acreditar na ressurreição. Maria, por outro lado, manteve-se o tempo todo firme, stabat mater, crendo na providência divina apesar de ouvir o próprio filho dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”, pois sabia que Ele precisava padecer a dor do homem, precisava ser dilacerado pelas nossas impurezas. Unida ao mistério da Redenção, Maria ofereceu o único sacrifício que nenhum outro poderia oferecer: o sacrifício da sua fé.
Neste Domingo de Ramos e da Paixão, portanto, façamos de Maria a nossa companheira para que, no crime da cruz, vejamos o alvorecer da nossa redenção.
Oração. — Senhor
Jesus, Vós que fostes pregado à Cruz para redimir-me de minhas culpas,
ajudai-me a reconhecer-Vos como o meu Rei e Salvador. Na Vossa Paixão, não
quero me comportar como os fariseus e os soldados romanos, agindo com escárnio
e desprezo, nem chorar como as mulheres em vosso caminho, que são constrangidas
pela visão desesperadora das Vossas chagas. Quero, ao contrário, estar de pé
como a Vossa Mãe, Maria Santíssima, confiando na providência divina, que sabe
tirar proveito de todos os males. Aumentai, portanto, a minha fé, a fim de que
me arrependa dos meus pecados e diga como o Centurião: “Na verdade, este homem
era o Filho de Deus!”
Propósito. — Decide-te a viver de fé e progredir
na vida de santidade para que, uma vez curado de teus pecados, possas
contemplar a face de Jesus misericordioso. Ó, meu amado Jesus, até agora caminhei como um descrente,
adiando a minha conversão sempre para depois. Concedei-me hoje a firmeza dos
santos para que tenha coragem e decida-me de uma vez por todos a viver de fé e
nada mais!
https://padrepauloricardo.org/episodios/domingo-de-ramos-e-da-paixao-do-senhor-mmxviii
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