A Eucaristia é sinal de uma presença: Memorial, Dom e Compromisso
“Por
um pedaço de pão e por um pouco de vinho
Eu já vi mais de um irmão se
desviar do caminho
Por um pedaço de pão e por um
pouco de vinho
Eu também vi muita gente
encontrar novamente o caminho do céu
Eu também vi muita gente
voltar novamente ao convívio de Deus”
O Filho, feito gente, na pessoa de Jesus de Nazaré,
assumiu a história humana com suas possibilidades e limites. Nele a
transcendência permeia a imanência para dela fazer transparência numa vida
plena de sentido, uma “vida boa” na superação de medos e na entrega livre ao
outro no amor.
Não hesitou em comunicar uma
Boa-Notícia: o Reino
de Deus como evento de Deus na vida da humanidade. Nele
existe espaço para todos. Nele Deus se faz próximo já aqui, começando pelos
mais vulneráveis. Nele os valores fundamentais são Justiça, Direito, Paz,
Verdade, etc. Nele não existe a necessidade de súditos, mas de amigos/as que
compartilham a vida humana na/com a vida de Deus.
Por causa do Reino, Jesus foi condenado
e executado. O projeto de um espaço aberto em Deus para todos não agradou os
“representantes” da religião do seu tempo. Não era uma abertura num
além-distante, mas num “aqui” e “agora” com estrutura humanas e religiosas
justas, que soubessem no seu interior conceder espaço para todos na mesma
medida que Deus concedia em si espaço para todos.
Deus Pai, na ação do Espírito,
ressuscita Jesus dentre
os mortos. Foi numa madrugada. Deus não precisa de plateia. Deus não se vinga
da humanidade: “vence sem vencidos” (Luiz Carlos Susin). O injustiçado ressurge
glorificado, assumindo uma “nova forma” de ser que o conhecimento humano não é
capaz de explicar na sua totalidade. Através Dele, Deus permanece no seu anseio
mais radical: um espaço vital e aberto para todos.
Na eucaristia, as comunidades cristãs vivem o
memorial dessa presença radical e desafiadora. Ao longo do tempo, elas
descobriram formas de manter viva essa memória através de ritos e de
símbolos, respeitando cada momento histórico e cada contexto cultural/social.
Os ritos e os símbolos ajudam no
processo pedagógico de perceber a manifestação da transcendência na imanência,
para que fazer ressurgir na transparência uma experiência autêntica,
considerando os dramas e as esperanças de cada tempo. Sem isso a eucaristia
torna-se esvaziada de sentido.
Deus em si não precisa de rito e de símbolo.
Ele extrapola qualquer formulação humana. Mas, os seres humanos na sua busca
por Ele precisam desse processo pedagógico: na linguagem humana limitada
desvela-se a presença do ilimitado.
Na eucaristia, não reside à lógica da
meritocracia e da deontologia, mas a lógica da gratuidade no amor.
“Não é um prêmio para os
perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos”
(EG 47). Ele quis permanecer conosco, como remédio e alimento, através de uma
comunidade de fé. É um permanecer que enche de sentido a existência humana dos
cristãos, encorajando para uma existência com esperança e que falha a pena.
Na eucaristia, aprende-se a doação e o compromisso com
os outros. O verdadeiro culto é vivido na prática da justiça e do direito. Não
é suficiente comungar. Não é piquenique. Precisa-se de uma atitude frente às
estruturas injustas. Por isso, comungar é sinônimo de incomodar. É uma presença
que faz diferença na sociedade. Jesus incomodou
as estruturas de seu tempo. Ele pagou um alto preço. Hoje, somos convidados a
correr esse risco na aventura da justiça, da misericórdia e do direito para
todos existirem numa vida digna.
“Ele nos deu olhos para ver, orelhas
para ouvir, mãos para trabalhar.
Os nossos olhos devem ser
aqueles com os quais Deus vê a necessidade,
as nossas orelhas aquelas com
que Deus escuta os lamentos,
as nossas mãos aquelas de que
Deus se serve para vir em socorro,
o nosso braço aquele com o
qual Deus oferece seu apoio a quem cansa de caminhar sozinho”.
(Cesare Giraudo)
O Instituto Humanitas Unisinos - IHU, no Cadernos Teologia Pública, edições 50 e 52, apresenta através de dois artigos uma contribuição significativa sobre a vivência da eucaristia. O primeiro aborda-a numa dimensão ética, onde o verdadeiro culto perpassa uma responsabilidade ética com o outro. Não é possível celebrar a eucaristia sem considerar e comprometer-se com/pelos vulneráveis (Cesare Giraudo). O segundo aborda-a numa dimensão ecológica, onde toda a criação está entrelaçada quando se reúne para celebrar a eucaristia. Não é uma vivência desconectada com outras formas de vida. Todos são alcançados (Denis Edwards).
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