Pe. Zezinho: “Papa Francisco sabe o que faz”
Thanassis Stavrakis / POOL / AFP
O sacerdote brasileiro comenta o episódio em que
um clérigo ortodoxo acusou o Papa de herege
O Papa Francisco sabe o que faz,
declarou o pe. Zezinho ao comentar o recente episódio em que um clérigo
ortodoxo acusou o pontífice de herege, durante a sua viagem apostólica ao Chipre e à Grécia.
Eis o que o sacerdote brasileiro
escreveu em sua rede social, sob o título “Papa Francisco sabe o que faz”:
“Um padre ortodoxo xingou o Papa católico
de herege, diante dos líderes da Igreja Ortodoxa. Se os lideres daquela igreja
irmã receberam o Papa Francisco para dialogar é sinal de que confiam no Papa e
na liderança católica.
Foi-se o tempo em que católicos e
ortodoxos se agrediam um chamando o outro de herege. Faz mil anos que as duas
igrejas se separaram. Agora faz quase 70 anos que estamos nos encontrando. Não
é um padre ortodoxo ou algum padre católico que não aceita atualizações que vai
estragar o clima de fraternidade inaugurado com São João XXIII e São Paulo VI.
Uns pouquíssimos padres e bispos e
leigos católicos também xingaram o Papa de herege. Herege é quem está separado.
Ora, se tais bispos, padres e leigos estão se separando do Papa, que é o líder
da nossa Igreja, então os hereges são eles”.
“Papa Francisco sabe o
que faz”
O pe. Zezinho prosseguiu:
“Errou o padre ortodoxo, erram os bispos
e padres e leigos católicos que acusam o Papa católico de heresia. Acusam o
Papa do que eles se tornaram ao se insurgirem contra as atualizações desde 1965,
assinadas por mais de três mil bispos no Concílio Vaticano II.
O Papa Francisco só está obedecendo
àquele concílio que continua valendo para os católicos que não xingam o Papa.
Os outros já escolheram o cisma ou o rompimento com a esmagadora maioria que
deseja mais diálogo ecumênico”.
https://pt.aleteia.org/2021/12/06/pe-zezinho-papa-francisco-sabe-o-que-faz/
Pedro, João Paulo, Bento e Francisco: 4 Papas “decepcionantemente humanos”
Quando o Papa “falha” perante as expectativas do mundo
Ao longo dos últimos anos, o Papa
Francisco defendeu explicitamente, em diversas ocasiões, a doutrina da Igreja
que rejeita a contracepção artificial. Muitos liberais se disseram
“decepcionados”, porque esperavam que Francisco fosse mais “progressista”.
O mesmo Papa Francisco também defendeu
em várias oportunidades o controle natural e responsável da natalidade,
chegando certa vez a afirmar: “Alguns
acham que, para ser bons católicos, precisam ser como coelhos. Não! Paternidade
responsável!”. Neste caso, foram os conservadores que se
escandalizaram, porque esperavam que Francisco fosse mais “tradicionalista”.
Francisco não falou absolutamente nada
que já não fosse bem claro na doutrina da Igreja.
Afinal, para a Igreja, o planejamento
familiar pode e deve ser usado para manter o tamanho da família dentro das
reais possibilidades dos pais de oferecerem boas condições de vida e formação
aos filhos; e esse planejamento deve se basear em métodos naturais e não
artificiais de controle da natalidade, para manter o casamento e a intimidade
sexual dos cônjuges sempre abertos à vida, sem dissociar o prazer da capacidade
pessoal e conjugal de autodomínio e sem antepor a paixão ao amor maduro,
integral e sublime, capaz de transcender a corporeidade.
Se os católicos (e os não católicos)
depositam as suas expectativas “ideológicas” no Papa, eles o fazem por sua
própria conta e risco, porque não é para satisfazer preferências humanas que um
Papa é Papa.
De qualquer forma, é compreensível que o
tom informal usado por Francisco em sua declaração sobre os “coelhos” tenha
magoado os católicos que têm famílias numerosas.
Acontece que este fato pode ser uma
excelente oportunidade de amadurecimento para os católicos.
Francisco
Francisco mesmo já declarou que se sente
desconfortável com a visão idealizada que muita gente criou a respeito dele. O
Papa, disse o próprio, não é uma espécie de super-homem ou de astro pop:
“O
Papa é um homem que ri, que chora, que dorme serenamente e que tem amigos, como
todo mundo. Uma pessoa normal”.
E, como toda pessoa normal, o Papa é
naturalmente sujeito a cometer deslizes tipicamente humanos na sua forma de ser
e de comunicar-se, o que em nada afeta o conteúdo e a verdade do seu magistério
que, para os crentes católicos, é iluminado pelo Espírito Santo (se é que os
católicos que se dizem crentes acreditam mesmo naquilo que dizem).
Pedro
Não se trata de novidade alguma. Pedro,
o primeiro Papa, assim como os demais apóstolos escolhidos por Jesus, não era
um homem particularmente “impressionante” aos olhos do mundo. Pedro era um
pescador rude, grosso, ignorante, impulsivo, inconstante, com arroubos de medo
e de covardia. Nada disso, porém, era um obstáculo para a graça de Deus, que já
tinha chamado um Moisés gago e conflituoso, um Jonas assustadiço, um Davi
mulherengo e mentiroso, um Noé que se embriagava e tantas outras pessoas que,
por si mesmas, não tinham grandes condições de guiar um povo e, muito menos, de
“salvar o mundo”.
É que não são esses eleitos que guiam o
povo de Deus. É o Espírito Santo através deles.
Não são esses eleitos que salvam o
mundo. É Deus, e Deus parece escolher reiteradamente homens e mulheres normais,
cheios de virtudes e defeitos, para agir através deles e apesar deles.
João Paulo
João Paulo II, em seus últimos anos de
pontificado, era tratado pela mídia como um idoso fraco, inchado, curvado, que
babava e sofria para balbuciar as palavras. E tudo isso era verdade. Mas era
também uma maneira de dizer: “Eu
não sou um super-homem. A minha imagem não é planejada por uma equipe de
marqueteiros. Eu sou apenas um instrumento frágil da graça de Deus”.
Bento
Bento XVI teve a coragem de se expor a
um bombardeio de críticas quando reconheceu a sua fragilidade física diante das
exigências de guiar o rebanho católico e renunciou ao papado. Para quem tivesse
a boa vontade e a humanidade de entender os seus motivos sem quatro pedras na
mão, porém, ele transmitiu a mesma mensagem de João Batista: “É necessário que Ele cresça e eu
diminua”.
Homens
No fim das contas, um Papa, mesmo sendo
escolhido pelos desígnios de Deus, é e continua sendo um homem. E estes homens
são tão expostos quanto quaisquer outros às fraquezas próprias da nossa
condição humana, o que deixa ainda mais claro que é Deus quem age através
deles. Eles encarnam, na sua fragilidade, uma prova de fé para os que se dizem
crentes: “Creio realmente que,
por trás deste homem, existe um desígnio divino que a razão não explica?”.
Deus
A fragilidade desses escolhidos por Deus
para missões muito maiores do que eles mesmos torna ainda mais inspiradora a
sua fidelidade a Deus apesar de tudo.
O inconstante Pedro se tornou forte a
ponto de sofrer o martírio na cruz. O atlético João Paulo II aceitou perseverante
a humilhação de definhar ao vivo, diante de um mundo incapaz de aceitar o
envelhecimento, a doença e a dependência dos cuidados do próximo. O poderoso
Bento XVI não fraquejou ao ceder o trono a outro pontífice, perante um mundo
obcecado por poder e ego, status e vaidade. O singelo Francisco não deixa a sua
simplicidade se amoldar aos julgamentos mundanos de uma sociedade que não sabe
lidar com a autenticidade e com a própria condição de humanidade imperfeita.
São oportunidades adicionais para percebermos que a genuína proposta cristã não é apenas mais espiritual e transcendente que as ofertas do mundo. A genuína proposta cristã é mais humana, também. Ou não é genuína.
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