“Vamos lançar as redes para as águas mais profundas”(cf. Lc.5,5)
Padre Wagner Augusto Portugal.
Meus queridos Irmãos,
Vamos caminhando adentro do tempo
chamado comum ou cotidiano: Deus se realiza na história e nos convida a avançar
para as águas mais profundas. Neste quinto domingo do Tempo Comum nós somos
convidados a refletir sobre a nossa vocação cristã, a vocação que Jesus nos
convida a sermos pescadores de homens.
A Primeira Leitura (cf. Is. 6,1-2a.3-8) nos apresenta a vocação de
Isaías, resumida em uma palavra – PRONTIDÃO. Ao adorar no Templo, Isaías
experimenta a presença do Deus inacessível (6,1-4) e toma consciência de sua
impureza diante do Sagrado (6,5). Mas Deus o purifica (6,6-7), para lhe
conferir sua missão, que Isaías prontamente aceita (6,8). Por amor de Deus,
terá que dirigir palavras duras ao povo do meio do qual ele é chamado.
Da primeira leitura nós podemos
concluir que cada um de nós, como batizados, temos um itinerário de vocação: de
muitas formas Deus entra na nossa vida, nos desafia para a missão, pede uma
resposta positiva à sua proposta.
A missão que Deus propõe está,
frequentemente, associada a dificuldades, a sofrimentos, a conflitos, a
confrontos… Por isso, é um caminho de cruz que, às vezes, procuramos evitar.
Nesse sentido é preciso ter consciência, também, que as minhas limitações
e indignidades muito humanas não podem servir de desculpa para realizar a
missão que Deus quer me confiar: se Ele me pede um serviço, dar-me-á a força para
superar os meus limites e para cumprir o que Ele me pede. O Profeta Isaías
aceita o envio, ainda antes de saber, em concreto, qual é a missão. É o exemplo
de quem arrisca tudo e se dispõe, de forma absoluta, para o serviço de Deus.
Jesus hoje não está na sinagoga. Seu
afastamento da sinagoga não significa rompimento, mas alargamento. A sinagoga
era sectária, isto é, reservada aos observantes da lei de Moisés. Para o
Evangelista São Lucas, Jesus viera trazer uma mentalidade e uma espiritualidade
universalista. Assim Lucas coloca Jesus fora da sinagoga pregando em praças, em
estradas, nas praias, etc.
Todos os elementos estão presentes no
Evangelho de hoje (cf. Lc. 5,1-11):
a terra, o mar, o céu aberto, a multidão, os indivíduos com seus nomes, a
pregação, o trabalho, o fracasso, a confiança, a abundância, a presença do
Senhor, a presença de um homem pecador, o medo, a admiração, o tempo presente,
o tempo futuro, a partilha do trabalho apostólico e a derrota de Satanás. Jesus
não só prega sobre as ondas, isto é, sentado com poder sobre os demônios, mas
faz a pesca milagrosa, mostrando poder também nas profundezas, aonde apenas
chegava a fantasia popular.
Lucas coloca Jesus escolhendo Pedro
para a pregação. Neste episódio Lucas relembra o doce convite de Jesus: “Vamos
lançar as redes para as águas mais profundas” (cf. Lc.5,5). O
que significa isso, lançar as redes para as águas mais profundas? Significa que
todos nós somos convidados a evangelizar, a evangelizar com renovado ardor
missionário em que todos os homens e mulheres devem deixar o seu comodismo e
dar testemunho do Senhor Ressuscitado.
Jesus pregou a multidão a PALAVRA
DE DEUS. A Palavra é o próprio Jesus. Jesus, por iniciativa
própria, escolhe alguns para participarem de sua missão. Ninguém é presbítero
por vontade própria, mas por chamado e mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Assim acontece com os religiosos, com as religiosas, com os consagrados e com
todos aqueles que se dedicam ao seguimento de Jesus.
Jesus escolhe
seus discípulos e os envia para serem “pescadores de homens”. Os
escolhidos para a missão eram pescadores. Porão sua experiência humana a
serviço de uma missão divina, como Jesus pusera sua divindade a serviço de uma
missão humana, na peregrinação neste vale de lágrimas.
O que é ser pescadores de homens?
Precisa de santidade? Precisa de ciência? Isso, evidentemente, ajuda e vem com
o tempo. Mas as condições para ser pescadores de homens são duas:
1. Uma confiança inabalável em Jesus. Uma confiança
como aquela de Pedro, que exausto da pesca, da falta de peixe, confiou em Jesus
e a barca transbordou de pesca depois da confiança no Redentor. Confiança que
todos nós devemos ter sempre e em todas as circunstâncias, é uma qualidade do
apóstolo do Senhor.
2. A segunda condição vem do
reconhecimento da divindade de Cristo. Quando Pedro se ajoelha e reconhece
a sua pequenez, a sua nulidade, o seu estado de pecador você adere e se abre
para a graça santificante de Deus. O discípulo de Jesus não pode ser orgulhoso,
ao contrário, deve ser humilde, generoso e amigo. Irmão no meio dos irmãos a
serviço da comunidade de fiéis. O apóstolo tem que ter consciência de que a
seara não lhe pertence, mas que nela é um trabalhador vocacionado, um servidor.
Essa humildade de reconhecer-se, apesar da inteligência, do jeito e da
experiência, mero cooperador de Deus, é também condição fundamental para o
verdadeiro apostolado. O apóstolo é um prolongamento de Jesus. A palavra
pertence a Jesus, mesmo quando pronunciada pelo apóstolo. As mãos eram de
Pedro, as redes eram de Pedro, a barca era de Pedro, o trabalho foi de
Pedro, mas o milagre foi e é de Jesus. Junto a isso temos que ter
na vida de comunidade e de trabalho apostólico a edificação da comunidade, do
trabalho coletivo, do trabalho em benefício da comunidade.
Devemos tomar consciência de que
nosso caminho é feito no barco de Jesus, ou, às vezes, embarcamos em outros
projetos onde Jesus não está e fazemos deles o objetivo da nossa vida.
Por isso somos instados a deixar que
Jesus viaje conosco. Por isso ao longo da viagem, devemos ser sensíveis às
palavras e propostas de Jesus. Com segurança da fé as suas indicações são para
nós sinais obrigatórios a seguir, quando reconhecemos que Jesus é “o Senhor”
que preside à nossa história e a nossa vida, em que o centro do qual constituímos
nossa existência está no Senhor. Chamados a ser “pescadores de homens”, temos
por missão combater o mal, a injustiça, o egoísmo, a miséria, tudo o que impede
os homens nossos irmãos de viver com dignidade e de ser felizes.
A Segunda Leitura (cf. 1Cor 15,1-11 ou 15,3-8.11) apresenta o
Evangelho de Paulo: a Ressurreição de Cristo. Este trecho paulino é a fórmula
mais antiga do querigma cristão, o anúncio de Cristo morto e ressuscitado.
Paulo inclui-se na lista das testemunhas, pois ele também viu o Senhor
glorioso, no caminho de Damasco. Na fé da ressurreição baseia-se toda a
esperança da vida cristã. A Segunda Leitura é ligada ao Evangelho na
transformação da vocação, ou melhor, o encontro com Cristo opera nas pessoas.
Pode-se propor esta ideia para a aplicação pessoal na vida de cada um. Pois não
é preciso fazer parte da hierarquia para receber tal vocação transformadora.
Transformadora, não só da gente, mas também do mundo em que a gente vive. A
ressurreição de Cristo garante-nos que não há morte para quem aceita fazer da
sua vida uma luta pela justiça, pela verdade, pelo projeto de Deus.
Qual é o conteúdo da missão dos
apóstolos? A segunda leitura explicita a nossa indagação: o anúncio de Cristo
morto e ressuscitado. Olhem só como Paulo, o apostolo dos gentios, assume essa
missão com toda a força. Para pescar na empresa de Jesus precisamos de
transmitir o que recebemos a seu respeito, a mensagem de sua vida, morte e
ressurreição. Esta é o núcleo central do apóstolo, da missão, da pastoral. Mas,
para sermos escutados, talvez devamos abordar o assunto por um outro lado, mais
próprio da situação das pessoas. De todas as maneiras devemos chegar a
comunicar que Jesus por sua vida e morte nos mostrou quem é Deus e qual é o
sentido de nossa vida e da nossa história: amou até o fim, dom de vida.
Transmitir isso é o que se chama “tradição” cristã, a
memória de Cristo que devemos manter viva na história e na comunidade.
Rezemos, pois, para que em cada missa a comunidade crista se sinta convidada a realizar uma intensa experiência de Deus para que, em seguida, participe da missão libertadora de Cristo, Jesus. Daí os momentos de profunda adoração em forma de doxologia, como os pórticos de entrada nas diversas partes da Missa. Assim Jesus nos dirá; “Não tenhais medo. Ide também vós e preparai os corações das pessoas para a minha chegada. Amém!”.
https://catequizar.com.br/liturgia/homilia-do-5o-domingo-do-tempo-comum-c/
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