REFLEXÃO DOMINICAL II
O AMOR VENCE O MEDO
Por Regina Candida Führ, sc,
1ª
Leitura: Atos 8,5-8.14-17
Salmo: Sl – 65/66,1-7.16.20
2ª Leitura: 1 Pedro 3,15-18
Evangelho: João 14,15-21
Domingo
da promessa do Espírito Santo. A
liturgia nos coloca neste sexto domingo da Páscoa em clima de Pentecostes.
Aprofunda o significado da ressurreição, preparando-nos para a grande
celebração da vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, a manifestação
pública da Igreja. Jesus não nos deixou órfãos de sua presença (cf Jo14,18),
mas mandou-nos o Defensor, o Espírito da Verdade, companheiro fiel de quem se
dispõe a amar como o Senhor amou. Este amor implica em acolher e viver sua
Palavra, como discípulo missionário que se coloca junto aos feridos, aos
empobrecidos de nossa sociedade.
Todo
aquele que acolhe o Espírito Santo que foi entregue aos apóstolos (At 8,15),
torna-se apto a defender a fé que recebeu (1 Pd 3,15) com mansidão, respeito e
com boa consciência (1 Pd 3,16), inclusive em meio a perseguições e
sofrimentos. É esta a única vocação dentro da Igreja: imitar a vida e morte de
Jesus por estarmos convictos de que esta é a essência do amor e da missão com
quem nos encontramos, principalmente com os mais excluídos.
A 1ª
leitura (Atos 8,5-8.14-17) narra o início da missão evangelizadora da
Igreja, fora de Jerusalém. O nosso texto divide-se em duas partes. Na primeira
parte (vers. 5-8), temos um sumário que resume a atividade missionária de Filipe
entre os samaritanos. Filipe pregava “o Messias” – isto é, apresentava aos
samaritanos Jesus Cristo e a sua proposta de salvação e de libertação. Diante
da interpelação do Evangelho, os samaritanos “aderiam às palavras de Filipe”.
Dessa adesão, nascia a comunidade do “Reino”, isto é, começava a aparecer uma
comunidade de pessoas livres, iluminadas pela luz libertadora de Jesus, e que
possuíam a vida nova de Deus: os espíritos impuros abandonavam os possessos, os
coxos e paralíticos eram curados. Desta nova realidade brotava uma profunda
alegria: a alegria é um dos traços característicos que, na obra de Lucas,
acompanha a erupção da comunidade do “Messias”.
Na
segunda parte (vers. 14-17), Lucas refere a chegada à Samaria dos apóstolos
Pedro e João. Quando a comunidade cristã de Jerusalém soube que a Samaria tinha
já acolhido a mensagem de Jesus, enviou para lá Pedro e João em visita de
inspeção. Lucas não diz qual a reação de Pedro e João ao constatarem o avanço
do Evangelho; apenas refere que os samaritanos, apesar de batizados, ainda não
tinham recebido o Espírito Santo. Que significa isto? Provavelmente, significa
que a adesão dos samaritanos ao Evangelho era superficial e que não havia
ainda, entre eles, uma verdadeira consciência de pertencer a essa grande
família de Jesus, a Igreja universal. Assim que chegaram Pedro e João impuseram
as mãos aos samaritanos, a fim de que também eles recebessem o Espírito. O
Espírito aparece como o selo que comprova a pertença dos samaritanos à Igreja
de Jesus Cristo.
Diante deste fato podemos perceber para que uma comunidade se constitua como
Igreja, não basta uma aceitação superficial da Palavra, nem manifestações
humanas, por mais atrativas que sejam. Torna-se necessário que toda comunidade
cristã tenha consciência de que é convidada a viver a sua fé em comunhão com a
Igreja universal. Toda a comunidade que quer fazer parte da família de Jesus
deve, portanto, viver a comunhão e sinodalidade com os pastores da Igreja
universal. Só então se manifestará nela o Espírito, a vida de Deus.
O salmo
(Sl 65) é uma oração de ação de graças pública e de caráter universal,
ação litúrgica feita por um fiel que, juntamente com outros viveu uma dura
prova e foi dela libertado (cf. versículos 16.20). A oração expressa um Deus
que se coloca junto na defesa e promoção da vida, libertando e introduzindo o
povo na terra da liberdade (versículo 6), preservando a terra da promessa
(versículo 7). Ao cantarmos este salmo neste sexto domingo da páscoa,
agradecemos ao Pai por ter realizado a maior obra de salvação em Jesus Cristo
através de sua morte e ressurreição.
Na segunda leitura (1 Pedro 3,15-18) o apóstolo
Pedro se dirige aos cristãos da Igreja primitiva que experimentavam as
perseguições religiosas em diferentes contextos. Apesar de confrontados com a
hostilidade do mundo, os cristãos são convidados a santificar o coração que
significa reconhecer, respeitar, dar ao Cristo, Senhor, e à sua vontade o lugar
que Lhe compete, a terem confiança, a darem um testemunho sereno da sua fé, a
mostrarem o seu amor a todas as pessoas, mesmo aos perseguidores: “Santificai
em vossos corações o Senhor Jesus Cristo, e estai sempre prontos a dar razão da
vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e
respeito e com boa consciência” (1Pd 3, 15 – 16a). Cristo, que fez da sua vida
um dom de amor a todos, deve ser o modelo para os cristãos configurarem a sua
vida. O texto exorta os cristãos à prática da não violência em meio aos
conflitos, à perseverança e à fidelidade aos compromissos assumidos com Cristo
no batismo.
O Evangelho
(João 14,15-21) faz parte do discurso da despedida de Jesus. É o
testamento que o mestre deixa à Comunidade antes de partir. Os discípulos se
mostram abalados e tristes. Jesus os anima, declarando que não os deixará
órfãos no mundo: “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós”. (Jo 14,18). Ele vai
ao Pai, mas vai encontrar um modo de continuar presente e de acompanhar a
caminhada dos seus discípulos. É uma alusão à sua volta invisível, mas real,
mediante o Espírito Santo, que o substituirá junto aos discípulos e permanecerá
sempre com eles e com toda a Igreja. É a possibilidade de viver em intensa
comunhão com o Pai e o Filho, pelo Espírito da Verdade, que nos é dado como dom
da Páscoa.
Jesus
promete aos discípulos o envio de um "defensor", de um
"intercessor", que irá animar a comunidade cristã e conduzi-la ao
longo da sua história. A comunidade cristã, identificada com Jesus e com o Pai,
animada pelo Espírito, é o "Templo de Deus", o lugar onde Deus habita
no meio da humanidade. Através dela, o Deus libertador continua a concretizar o
seu plano de salvação.
Para
isso, é preciso um amor autêntico, que se manifesta na observância dos
mandamentos: "Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama.
Ora, quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a
ele” (Jo 14, 21). Só quem vive esse amor estará apto a receber o Espírito
Santo. O amor supera o medo, a separação e a morte.
Pistas para Reflexão:
Assumir e
testemunhar a fé e a esperança em tempos de incertezas, conflitos e pandemia,
requer dos/as discípulos/as missionários/as de Jesus um anúncio transformador,
não meramente por meio de uma celebração eucarística virtual ou presencial, mas
através de atitudes concretas de amor que se manifestam na proximidade com o
outro que se encontra em situação de abandono, desprotegido dos direitos
sociais. A força do Espírito Santo pode transformar o coração dos cristãos,
para que a prática do amor compaixão possibilite a cura da fome, da doença, do
desemprego que viraliza a humanidade. Desta forma, o nosso anúncio poderá
devolver a alegria aos rostos enlutados, sofridos e famintos que se encontram
estampados nas famílias e ruas de nossas comunidades.
A
primeira carta de São Pedro nos exorta: “[...] estai prontos a dar razão da
vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir. Fazei-o, porém com mansidão e
respeito e com boa consciência” (1Pd 3, 15b- 16a). O tempo que vivemos requer
de nós, homens e mulheres, atitudes de esperança e a construção de relações
novas infundidas no Espírito Santo, onde amor se constitua o tecido social
capaz de pacificar os conflitos, perseguições humanas e ecológicas que emergem
a todo instante em nossa Casa Comum.
Para o
Espírito Divino, não há barreiras nem fronteiras. Ele é Espírito de unidade e
de paz. Com a sua força e dinamismo somos capazes de reiventar a nossa vida no
contexto atual onde vivemos um tsunami de catástrofes naturais, de pandemia, de
fome, de conflitos entre povos, de terrorismo, de injustiça e opressão. A
presença do Espírito Santo possibilita os(as) discípulos(as) a penetrar no
coração de Deus, descobrir seu amor e seu projeto para toda a humanidade. A
condição para ter este Espírito é a vivência dos mandamentos que se resumem em
um só: O AMOR. Jesus nos chama a viver no amor como Ele viveu. A igreja dá
testemunho de um Deus que deseja oferecer à humanidade a salvação por meio de
gestos de amor, de serviço, de humanidade, de liberdade, de compreensão, de
perdão, de tolerância, de solidariedade para com os pobres?
A
comunidade cristã, identificada com Jesus e com o Pai, animada pelo Espírito, é
o “templo de Deus”, o lugar onde Deus habita no meio da humanidade. Através
dela, o Deus libertador continua a concretizar o seu projeto de salvação.
·
A Igreja
é, hoje, o lugar onde as pessoas encontram Deus?
·
O que é
que nos falta para sermos verdadeiros sinais de Deus no meio da humanidade?
·
Qual a
novidade que o Espírito desperta em nós neste tempo de pandemia?
Neste
domingo vamos refletir e rezar sobre estas provocações que nos faz a Palavra de
Deus
(*)Regina Candida Führ, sc,
Religiosa da Congregação
das Irmãs de Santa Catarina. Ela é doutora em Teologia, PhD e Mestre em
Educação, Membro da Equipe de Coordenação da CRB/RS, pesquisadora e prientadora
de teses do IESLA, avaliadora do BASis pelo MEC, avaliadora dos artigos
científicos para a Revista da ANEC, integrante do Projeto Mistério da Palavra
na Voz das Mulheres –IHU/ Unisinos
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