Catequizar é uma obra de
O catequista deve apreender que a todos se deve a mesma caridade.
A obra é datada por volta do ano 400 e foi escrita para atender ao pedido de um diácono.
Por Dom Leomar Brustolin(*)
A ignorância, seja da fé ou da educação
em geral, constitui-se um mal. A misericórdia reside em resgatar das trevas do
erro e do relativismo aqueles a quem o Cristo redimiu por sua paixão. Por isso,
a catequese, enquanto educação da fé, e caminho da iniciação cristã, também é
uma obra de misericórdia. Esta é a tese defendida por Santo Agostinho em seu De
catechizandis rudibus, publicado no Brasil como A Instrução dos
catecúmenos. A obra é datada por volta do ano 400 e foi escrita para
atender ao pedido de um diácono de Cartago, chamado Deográtias, encarregado de
ensinar e de instruir, na doutrina cristã, aqueles que pretendiam conhecer a fé
cristã.
No capítulo quarto do texto, Santo
Agostinho assevera sobre o amor de Deus manifesto em Jesus Cristo que revelou o
desígnio salvífico de Deus ao longo da história, que se condensa no amor e na
misericórdia de Deus para com a humanidade. Partindo dessa premissa: o amor
misericordioso de Deus para com o ser humano, o Bispo de Hipona estrutura sua
pedagogia catequética. Esta é toda moldada pela mensagem de amor, fundada no
amor de Cristo, «que veio ao mundo para que o homem saiba quanto Deus o ama e
aprenda a abrasar-se inflamado no amor de Deus que o amou primeiro, e no amor
ao próximo, de acordo com a vontade e exemplo de quem se fez próximo ao amar
previamente, não o que estava perto, mas o que estava longe dele» (De
catechizandis rudibus 4,7) .
Neste sentido, Santo Agostinho sustenta
que, a partir da misericórdia de Deus face à miséria humana, nasce a caridade
que deve nortear todo o ato catequético. A caridade como núcleo da revelação
cristã e, por conseguinte, como núcleo da transmissão da fé. O catequista deve
apreender que a todos se deve a mesma caridade, porque não há nenhum remédio
melhor do que caridade, que ensina, corrige e cura a todos. Na verdade, é
movido por este amor que o catequista se une aos seus ouvintes. Por isso, a
caridade deve ser comunicada, não só na exposição da fé, que parte do amor e da
misericórdia de Deus, mas, sobretudo, deve ser o fundamento na relação
catequista-catequizando. Porque quanto mais o catequista ama aqueles que lhe
foram confiados para catequizar, mais procurará empenhar-se com muita
alegria, e sem grande fadiga, em ensinar o caminho do amor de Deus aos seus
catequizandos
Para o Santo, somente a caridade do
catequista poderá motivá-lo a prestar atenção às necessidades dos diversos
ouvintes que compõe o grupo de catequese. Na obra De catechizandis rudibus,
Santo Agostinho destaca a humana delicadeza que exige do catequista manifestar
profunda simpatia e sincera amizade para com aqueles que ele deve instruir.
Esta caridade catequética sintetiza toda a missão do catequista, pois será
expressão viva da simpatia e do amor que Deus tem pelo ser humano pessoalmente.
Nesse sentido, o Bispo orienta o diácono Deográtias para que tente todos os
meios possíveis para fazer com que os que eventualmente estejam apáticos,
temerosos ou duvidosos saiam da letargia da timidez e tenham mais confiança e
segurança nas palavras que escutam. Isto implica num grande gesto de amor para
com os ouvintes da mensagem. E acrescenta: Ora, se o coração entorpecido
desperta ao sentir-se amado, se o que já ardia, mais se acende ao saber-se
correspondido, é evidente que nada é mais capaz de despertar o amor daquele que
ainda não ama, que saber-se amado (De catechizandis rudibus 4,7)
CNBB
(*) Bispo-auxiliar de Porto Alegre (RS)
Fonte:
https://domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=970570
Nenhum comentário:
Postar um comentário