O Padre Zezinho publicou nesse mês em sua página no Facebook o artigo escrito pelo Arcebispo de Sorocaba, dom Júlio Akamine, sobre a polêmica controvérsia gerada pela Carta dos Bispos da CNBB com relação às atividades do Governo Federal.
Como todos sabemos essa carta gerou muitos comentários e manifestações de católicos e não-católicos, muitas vezes com uma visão distorcida da Igreja Católica, e nessa carta Dom Júlio deixa patente sua opinião pessoal e de conduta desejável, pelo menos dos católicos.
Nas palavras do Padre Zezinho ele classificou o artigo como: “Excelente, claro e sereno o texto de Dom Júlio Akamine, Arcebispo de Sorocaba.”
Fonte: https://www.facebook.com/padrezezinhoscj/posts/1646269608855451
Transcrição da publicação do Padre Zezinho no Facebook:
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Divulgo para quem se considera católico!
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Bispos Comunistas
Artigo escrito por Dom Julio Endi Akamine, arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.
Há muito tempo — talvez tempo demais — pululam na internet insinuações e acusações de que há bispos comunistas no Brasil. Penso que chegou o momento de afirmar com clareza que isso é uma tremenda besteira. Não recebi delegação para fazer a defesa de quem quer que seja. Nem sei se os argumentos apresentados irão convencer os super-católicos mais católicos do que o Papa, que se julgam investidos com o poder de purificar a CNBB de infiltrações vermelhas a serviço de Satanás.
Por isso, prefiro apresentar minha experiência como membro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) há 9 anos.
A CNBB é formada por bispos com uma grande variedade de posições religiosas e
políticas. Nela há também grupos diferentes que se identificam com correntes
teológicas diversas, que apoiam políticas diferentes e até mesmo partidos
políticos distintos. E isso não é negativo. Pelo contrário, é muito positivo.
Afinal, a Igreja Católica não é uma seita. É próprio da seita o pensamento
único, a teologia uniforme, a prática política de cabresto. Por isso, a
alternativa para o pluralismo da CNBB não é a Igreja Católica, mas a seita de
pensamento, prática e política uniformes. A Igreja é católica exatamente porque
é una sem ser uniforme.
Entristecem-me os que aceitam a proposta dos profetas de desgraças, que querem
uma igreja mais parecida com o Partido Comunista, que expurga os que se desviam
da “sã doutrina”. A história já teve regimes totalitaristas demais.
Infelizmente, há pessoas que desejam a volta do totalitarismo envernizado de
pureza católica.
É verdade que o pluralismo provoca no episcopado brasileiro tensões e também
conflitos. Tive a oportunidade de participar de sessões da Assembleia da CNBB
em que o debate foi cerrado, a discussão tensa e o diálogo muito difícil.
Graças a Deus, a CNBB é tão plural e diversificada! Dessa forma ela é obrigada
— quase condenada — a buscar no diálogo as ações mais acertadas e a se empenhar
na leitura dos sinais da ação de Deus na nossa história tão complicada quanto
confusa. Posso testemunhar que, mesmo expressando posições diferentes, eu e
todos os que fazem seus pronunciamentos somos acolhidos com respeito e com
verdade.
Outra coisa que aprendi com os bispos, com cujas posições nem sempre concordei,
é que o diálogo nunca significa renunciar às próprias convicções. Para
dialogar, nenhum bispo pede ao outro que abdique de suas convicções (também as
políticas). Pelo contrário, todos desejam que as posições sejam claras e que a
partir delas o diálogo se enriqueça e proceda para uma convergência. Se o
consenso não é possível, o diálogo deve continuar até que as posições se
encontrem.
Quando as divergências entre os bispos se tornam públicas, há também os que se
regozijam com a divisão da CNBB, a sua ruína e esfacelamento. Mais uma vez,
preciso dizer que isso é a mais pura bobagem. As diferenças políticas dos
bispos em relação ao PT não levaram à divisão da CNBB nem da Igreja, e não
serão as diferentes posições políticas em relação ao atual governo que vão
provocar a divisão da Igreja Católica. O PT passou, e o atual governo também
vai passar. A Igreja continua.
Alguns podem se lamentar pelo fato de a Igreja não ser uma organização
monolítica e perfeitamente alinhada em todas as suas posições. Eles até
acreditam que isso existia no passado, antes do Concílio Vaticano II. O que os
saudosistas sem causa não compreendem é que essa uniformidade nunca existiu,
exatamente porque ela não é a unidade que o Espírito Santo forma na Igreja.
Basta estudar um pouco o Novo Testamento para se dar conta de que um sadio
pluralismo na Igreja sempre existiu (cf. At 6,1-6; 11,1-3; 15,1-2; 1Cor
12,4-31; Gl 2,11-14). O Espírito continuamente está conduzindo a pluralidade
para a unidade e disseminando a unidade na pluralidade.
Se alguém quiser uma igreja segundo o modelo da uniformidade que funde uma: basta ir ao cartório e registrar um CNPJ. Mas isso também não é novidade: alguns já o fizeram e não apresentaram uma alternativa que valesse a pena.
Dom Julio Endi Akamine
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