4.º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B
O Demônio, o Pecado.
Mons. José Maria Pereira
O Evangelho (Mc 1, 21-28) apresenta – nos Jesus que, no dia de sábado,
prega na Sinagoga de cafarnaum. Conta que
Ele “começou a ensinar” e os seus ouvintes “se maravilhavam… porque ensinava como
quem tem autoridade”. Até o espírito impuro, presente num homem, se dá conta da
Sua presença e, enquanto grita, não deixa de reconhecer em Jesus “o Santo de Deus.”
Ao expulsar o demônio, libertando o possesso, todos ficam maravilhados e dizem:
“Que é isto? Eis uma nova doutrina e feita com tal autoridade que até manda nos
espíritos impuros, e eles obedecem-lhe”. À eficácia da palavra de Jesus acrescentava
a dos sinais de libertação do mal. Santo Atanásio observa que “comandar os demônios
e expulsá-los não é obra humana, mas divina”; com efeito, o Senhor “afastava dos
homens todas as doenças e todas as enfermidades. Quem, vendo o seu poder… ainda
duvidaria que Ele é o Filho, a Sabedoria e o Poder de Deus?”
Desde a chegada de Cristo,
o demônio bate em retirada, mas o seu poder é ainda muito grande e “ a sua presença
torna-se mais forte à medida que o homem e a sociedade se afastam de Deus” (São
João Paulo II); devido ao pecado mortal, não poucos homens ficam sujeitos à escravidão
do demônio, afastam-se do Reino de Deus para penetrarem no reino das trevas, do
mal; convertem-se, em diferentes graus, em instrumento do mal no mundo e ficam submetidos
à pior das escravidões. Jesus sabe que para libertar a humanidade do domínio do
pecado, Ele deverá ser sacrificado na Cruz como verdadeiro Cordeiro Pascal. O demônio,
por sua vez, procura distraí – lo em vista de o desviar ao contrário para a lógica
humana de um Messias poderoso e com sucesso. A Cruz de Cristo será a ruína do demônio,
e é por isso que Jesus não cessa de ensinar aos seus discípulos que para entrar
na sua Glória deve sofrer muito, ser rejeitado, condenado e crucificado ( cf. Lc
24, 26), dado que o sofrimento faz parte integrante da sua missão.
Jesus sofre e morre na Cruz por amor. Deste modo, considerando bem,
deu sentido ao nosso sofrimento, um sentido que muitos homens e mulheres de todas
as épocas compreenderam e fizeram seu, experimentando uma profunda serenidade também
na amargura de árduas provas físicas e morais.
A experiência da ofensa a Deus é uma realidade. E o cristão não demora
a descobrir essa profunda marca do mal e a ver o mundo escravizado pelo pecado,
ensina a Gaudium et Spes, 13.
São Paulo recorda-nos que fomos resgatados por um preço muito alto
(1Cor 7, 23) e exorta-nos firmemente a não voltar à escravidão. Ensina São Josemaría
Escrivá: “O primeiro requisito para desterrar esse mal é procurar comportar-se com
a disposição clara, habitual e atual, de aversão ao pecado. Energicamente, com sinceridade,
devemos sentir – no coração e na cabeça – horror ao pecado grave” (Amigos de Deus,
243).
O pecado mortal é a pior desgraça que nos pode acontecer. Quando um
cristão se deixa conduzir pelo amor, tudo lhe serve para a glória de Deus e para
o serviço dos seus irmãos, os homens, e as próprias realidades terrenas são santificadas:
o lar, a profissão, o esporte, a política… “Pelo contrário, quando se deixa seduzir
pelo demônio, o seu pecado introduz no mundo um princípio de desordem radical, que
afasta do seu Criador e é a causa de todos os horrores que se aninham no seu íntimo.
Nisto está a maldade do pecado: em que os homens tendo conhecido a Deus não o honraram
como Deus nem lhe renderam graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos,
e se lhes obscureceu o coração insensato… Trocaram a verdade de Deus pela mentira
e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito pelos séculos”
(Rm 1, 21-25).
O pecado – um só pecado – exerce uma misteriosa influência, umas vezes
oculta, outras visível e palpável, sobre a família, os amigos, a Igreja e a humanidade
inteira. Se um ramo de videira é atacado por uma praga, toda a planta se ressente;
se um ramo fica estéril, a videira já não produz o fruto que se esperava dela; além
disso, outros ramos podem também secar e morrer.
Renovemos hoje o propósito firme de repelir tudo aquilo que possa ser
ocasião, mesmo remota, de ofender a Deus: espetáculos, leituras inconvenientes,
ambientes em que destoa a presença de um homem ou uma mulher que segue o Senhor
de perto… Amemos muito o Sacramento da Penitência (Confissão). Meditemos com frequência
a Paixão de Cristo para entender melhor a maldade do pecado.
Os santos recomendaram sempre a confissão frequente, sincera e contrita,
como meio eficaz de combater essas faltas e pecados, e caminho segura de progresso
interior. Dizia S. Francisco de Sales: “Deves ter sempre verdadeira dor dos pecados
que confessas, por leves que sejam, e fazer o firme propósito de emendar-te daí
por diante. Há muitos que perdem grandes bens e muito proveito espiritual porque,
ao confessarem os pecados veniais como que por costume e só por cumprir, sem pensarem
em corrigir-se, permanecem toda a vida carregados deles”.
“Oxalá não endureçais os vossos corações quando ouvirdes a sua voz”
(Sl 94, 7-8). Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a ter um coração cada vez
mais limpo e forte, capaz de cortar o menor laço que nos aprisione, e de se abrir
a Deus tal como Ele espera de cada cristão. E, assim seremos capazes de entender
e acolher a mensagem de S. Paulo que apresenta a beleza e a grandeza do seguimento
do Senhor, no Celibato.
Paulo, adverte que os casados, sujeitos aos deveres familiares, não
podem entregar-se ao serviço de Deus com a mesma liberdade que os celibatários.
O Apóstolo louva e aconselha a virgindade que permite ocupar-se nas coisas de Deus
com um coração indiviso e sem preocupações (1Cor 7, 32-35). A Virgindade consagrada
é uma maneira típica da novidade da resposta, que devem a Deus os seguidores de
Cristo e tem, ao mesmo tempo, a função de recordar a todos os crentes que, em todas
as coisas, o primeiro lugar pertence a Deus.
Fonte:
https://www.presbiteros.org.br/homilia-do-mons-jose-maria-iv-domingo-do-tempo-comum-ano-b/
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