A difícil realidade da morte na família
Orfa Astorga
O cristão não vive para morrer, mas para viver mais.
Meu pai,
em seu leito, ouviu o médico dizer-lhe que a grave, penosa e incurável doença de
que padecia acabaria com sua vida terrena em pouco tempo – uma vida que ele amava
intensamente. Assim, teríamos de enfrentar a dura realidade da morte na família.
Depois
de se despedir amavelmente do médico, ele se virou para a luz da janela, profundamente
pensativo; passados alguns minutos, seu rosto ficou sereno e seu semblante transmitia
paz.
– Sabe
o que o médico me disse? Ele afirmou que eu vou para casa. Isso não é lindo?
– Para
você, sim, pai, mas não para nós – respondi.
– Sabe…
a luz da janela me fez sentir nostalgia, uma espécie de saudade. Vou para a casa
do Pai. Sim, sou como uma criança que volta para casa, e que está esperando que
venham buscá-la.
Ele me disse isso com um sorriso cheio de esperança. Assim, minha dor humana cedeu e deixei de sentir pena dele.
Paz diante da morte na família
Meu pai
morreu com muita paz. E deixou bem claro que queria um velório completo, sepultura
cristã do corpo inteiro (não cremação), missa de corpo presente.
Ele nunca
concordou com certas práticas atuais, segundo as quais o corpo vai do hospital para
o crematório diretamente, como se nada tivesse acontecido, como se as crianças tivessem
de ser poupadas desta vivência, como se a morte também não fizesse parte dos planos
de Deus.
Meu pai
aceitou sua morte e quis mostrá-la como o que ela é: um paradoxo divino que nos
dá a maior lição de vida, ao mostrar o amor de Deus. De fato, é assim porque a alma
não morre; a pessoa deixa a visibilidade do corpo, mas sua vida espiritual continua
maior e melhor.
O cristão não vive para morrer, mas para viver mais.
Natureza espiritual
Nossa
sociedade tende a afastar de si a realidade do fim da vida. No entanto, tal pensamento
lhe produz angústia, e ela acaba excluindo esta realidade do campo da existência
humana, fazendo parecer que só “os outros” morrem.
Em nossa
cultura, o homem está mais preocupado com sua natureza corporal que com seu ser
espiritual ou pessoal.
No entanto,
quem se reconhece mais pessoa que natureza, vai além disso, vive para ser elevado,
aceitando em sua vida um Deus pessoal que dá sentido à sua existência.
Mesmo
na fase terminal da sua doença e perante a realidade da morte na família, meu pai
nunca perdeu aquela atitude de pensar nos outros. Na verdade, quando o visitavam
em seu leito, ele perguntava com interesse sincero sobre a vida das pessoas, dando
algum discreto conselho, consolo, esforçando-se em ser ameno sempre com seu bom
humor.
Enfim,
os visitantes chegavam com vontade de consolar e saíam consolados.
No final, ele avisava: “Vou estar de olho em você, hein?”, e piscava para mim. Eu sabia muito bem a que ele se referia.
https://pt.aleteia.org/2021/09/02/a-dificil-realidade-da-morte-na-familia/
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