"O
CÉU NÃO ESTÁ A VENDA..."
“Bom Mestre, o que devo fazer para
alcançar a Vida Eterna?” É a pergunta que uma pessoa muito boa e piedosa da
comunidade, dirige a Jesus no evangelho desse domingo.
O conceito de um “céu” que pode ser
conquistado com boas obras está muito arraigado em todos nós porque é esta a
pedagogia que se aplicou por muito tempo na educação dos filhos e na escola.
“Seja bonzinho, estude bastante e passe de ano, que no final do ano eu te dou
“aquele” presente que tanto você quer”.
Na minha classe do antigo primário, eu
sentava-me na fila “B” onde os colegas nos chamavam de “burrinhos”, ás vezes só
os alunos da fila “A” saiam para o recreio, como estímulo para continuarem a
ser bons, pois os “bons” são sempre premiados. É normal que a maioria ainda
pense assim em relação à Vida Eterna.
Mas Jesus desmonta este esquema
mercantilista quando afirma, logo de início, que somente Deus é bom. Em seguida
menciona a observância de cinco mandamentos nas relações com o próximo:
adultério, fraude, falso testemunho, furto e a honra ao Pai e à Mãe. Note-se
que não se tratam de simples preceitos, mas de uma relação fundamentada no amor
e na comunhão, sempre marcada pela verdade, na vivência de algo que não se
trata de uma simples aparência, mas que provém do interior, das virtudes
presentes no coração de quem crê verdadeiramente e ama a Deus e ao seu reino.
O coração dessa pessoa, que se aproximou
de Jesus, se encheu de alegria, pois sentiu, na resposta de Jesus, que estava
no caminho certo, respondendo todo cheio de si, que já praticava tudo isso
desde a sua infância. Então, olhando para ele Jesus o amou. Quando Deus nos ama
ele nos quer por inteiro, ele quer ser o único em nossa vida e assim, Jesus
convidou aquela pessoa a dar mais um passo para a perfeição na Santidade, pois
só lhe faltava uma coisa: “vá, venda tudo o que tens e dá aos pobres”.
Esta última frase “dar aos pobres” é
rica em significado, pois pobres são pessoas que têm necessidades, é exatamente
essa a nossa condição diante de Deus: precisamos sempre dele, de sua Graça e
Salvação, do seu amor e da sua misericórdia. Ser pobre em espírito é ter esta
consciência!
O evangelho nos relata que aquela pessoa
foi embora triste, porque no fundo achava que suas virtudes morais e aquela
vida piedosa desde a infância, já eram suficientes para conquistar a Vida
eterna. A sua riqueza, que era muita conforme menciona o e texto, considerada
uma bênção, era um sinal de que sua vida virtuosa tinha a aprovação de Deus.
“Sejam bons, pratiquem o evangelho, cumpram todas as obrigações para com Deus e
a sua Igreja, principalmente dando o dízimo, e a sua vida vai melhorar porque
Deus lhes abençoará dando-lhe prosperidade” Enfim, Deus me dá, porque eu
mereço...
Essa religião dos merecimentos não nos
conduzirá a Vida Eterna, podemos ter a certeza! A Graça e a Salvação que Deus
nos concedeu em Jesus Cristo é puro dom imerecido. Na pobreza em espírito nos
sentimos totalmente dependentes de Deus.
Não é o nosso patrimônio, o capital ou a
riqueza que temos, que nos dá felicidade e segurança nessa vida, mas o senhor
nosso Deus. Por isso, quando não temos a Sabedoria de Deus, e não sabemos nos
relacionar com os bens deste mundo, eles se tornam um grande obstáculo e será
muito difícil um rico entrar no Reino de Deus. Os discípulos ficaram
assombrados justamente porque a riqueza, como já refletimos, era considerada
uma bênção, dada a quem a merecesse.
Quem então poderá se salvar? E diante
dessa pergunta Jesus fala da grande novidade, nada há que o homem possa fazer
que mereça a Salvação, ela é dada e oferecida gratuitamente por Deus a todos os
homens. O apóstolo Pedro ainda pensa em uma religião do merecimento quando
menciona a si e aos demais, que deixaram tudo para seguir a Jesus.
E aí vem a outra grande novidade que eles não sabiam: a Vida Eterna já começa nesta vida e atinge a sua plenitude na eternidade.
Quem colocou toda sua confiança e esperança em Cristo Jesus, fazendo somente
dele a razão da sua esperança, nunca mais terá necessidade de nada em sua vida,
e assim terá de volta o cêntuplo, como garante o evangelho.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
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