“PROMESSA DE AMOR”
Neste domingo, a Palavra de Deus trata
do matrimônio e de sua indissolubilidade. Eis aqui um tema que se tornou tabu
nos tempos atuais e, por isso mesmo, precisa ser tratado com toda clareza pelos
cristãos… Afinal, se o Evangelho não for sal e luz, para que serve?
Comecemos com o plano de Deus, descrito
no Gênesis de modo figurado, como as parábolas que Jesus contava. São textos
que não devem ser tomados ao pé da letra! Se lermos com atenção, perceberemos
algo muito belo: Deus, à medida que vai criando, vê que tudo é bom… Ao criar o
ser humano, vê que “era muito bom” (Gn 1,31). Mas, há algo na criação que o
Senhor Deus viu que não era bom: “Não é bom que o homem esteja só”. Se o ser
humano é imagem do Deus-Trindade, ele não foi criado para a solidão, mas deve
viver em relação com outros: “Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja
semelhante”. Notemos os detalhes tão belos da criação da mulher: (1) “O Senhor
Deus fez cair um sono profundo sobre Adão”. Por quê? Para ficar claro que o
homem não participou da criação da mulher; esta é tão obra de Deus quanto
aquele. (2) “Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. Da costela
tirada de Adão, o Senhor Deus formou a mulher”. A imagem é bela: tirada do lado
do homem, como companheira e igual! (3) “E Adão exclamou: ‘Desta vez sim, é
osso de meus ossos e carne da minha carne!’” É a primeira vez que o homem
falou, na Bíblia! E sua palavra foi uma declaração de amor… não a Deus, mas à
mulher que o Senhor Deus lhe dera de presente: osso de meus ossos, carne de
minha carne… parte de mim, cara metade, outro lado do meu coração! E,
finalmente, o preceito de Deus, inscrito no íntimo do coração humano pelo
próprio Criador: “O homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e
eles serão uma só carne”. Pronto! Esta é o sonho de Deus para o amor humano!
Já aqui há três observações a serem
feitas: (a) o laço de amor entre o homem e a mulher é superior a qualquer outro
laço, inclusive aquele que liga pais e filhos: o homem e a mulher deixarão pai
e mãe para ir ao encontro de sua esposa, de seu esposo. (b) Esta união, no
sonho original de Deus, envolve a pessoa toda, corpo e alma: “serão uma só
carne”! É uma união completa, abrangente, total: serão um só coração, um só
sonho, uma só conta bancária, uma só casa, um só futuro, um só destino! (c) A
relação matrimonial, no sonho de Deus, é uma relação entre um homem e uma
mulher. Por isso mesmo, jamais os cristãos poderão equiparar a união entre
homossexuais ao matrimônio! O respeito às pessoas homossexuais é dever de todos
nós; o respeito pela consciência dessas pessoas, que têm o direito de dar o
rumo que acharem justo às suas vidas, é obrigação nossa, é gesto de amor que
Jesus espera de seus discípulos. Mas, equiparar a relação matrimonial a
qualquer outra relação afetiva, sobretudo homossexual, nunca! Por fidelidade a
Cristo, nunca! Por respeito ao plano de Deus, jamais! Hoje, no Direito, há uma
forte corrente aqui no Brasil, que considera como sendo família qualquer união
simplesmente afetiva: não importa se a união é entre marido e mulher, entre
amigos ou entre duas pessoas do mesmo sexo. Para nós cristãos, tal concepção é
inaceitável! A família, para nós, não é uma realidade simplesmente natural, mas
tem sua raiz no próprio plano de Deus. A família é uma realidade também
teológica! É preciso escutar o que Deus tem a dizer sobre a família! O problema
é que nossa sociedade já não é cristã; é pagã e pensa e age como pagã; é atéia
e age como se Deus não existisse… Nossa sociedade acha que o homem é a medida
de todas as coisas, o senhor do bem e do mal, do certo e do errado. Isso é
absolutamente inaceitável para o cristão!
Agora podemos compreender a palavra de
Jesus no Evangelho! Naquele tempo havia o divórcio… E Jesus, que é tão
misericordioso, condena sua prática: “Foi por causa da dureza do vosso coração
que Moisés” permitiu o divórcio! “No entanto, no princípio da criação Deus os
fez homem e mulher… Já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus
uniu, o homem não separe!” É uma palavra que parece dura, e os próprios
discípulos tiveram dificuldades em compreender… como muitíssimos a têm hoje em
dia. Compreendamos! Jesus veio para reconduzir este mundo ferido pelo pecado ao
plano original de Deus. Ora, o sonho de Deus para o amor conjugal é que ele
seja uma entrega total e plena, no amor indissolúvel, fiel e fecundo. Este é o
ideal que Jesus aponta aos seus discípulos! Na perspectiva de Jesus, o divórcio
é contrário ao plano de Deus para o amor humano! Por isso mesmo, o matrimônio
abraçado por um cristão e uma cristã, no Senhor Jesus, é indissolúvel! Aqui é
preciso deixar claro que a Igreja não tem autoridade para ensinar ou fazer
diferente! Seria trair o Senhor! Surgem, no entanto, algumas questões sérias e
graves:
(1) Como prometer amor por toda a vida,
se nosso coração é inconstante? Primeiramente é necessário recordar que o
matrimônio cristão somente pode ser abraçado na fé, sabendo os esposos que
jamais a graça de Cristo lhes faltará. Com toda certeza, o Senhor haverá de
conduzir os esposos no caminho do amor. Isto, no entanto, de modo algum,
dispensa os esposos de cultivarem esse amor, com o diálogo, os gestos de
carinho e de perdão, de compreensão e de atenção. Amor não é só sentimento: o
amor não nasce de repente, não é fatal, não é cego, nem morre de repente. O
amor pode e deve ser cultivado, cuidado. Como dizia São João da Cruz: “Onde não
há amor, semeia amor e colherás amor”. A grande ilusão do mundo atual é pensar
que o amor se reduz a sentimento, que não precisa ser cuidado nem cultivado!
Confunde-se amor com paixão!
(2) Como fazer uma aliança para sempre,
se esta depende não só de mim, mas também da outra pessoa? A questão é séria e,
para nós, cristãos, deve ser pensada na fé. O matrimônio entre cristãos é
sinal, é sacramento, do amor entre Cristo e a Igreja. São Paulo explica este
mistério de modo belíssimo no capítulo quinto da Carta aos Efésios: marido e
mulher devem se amar como Cristo e a Igreja (cf. Ef 5,21-32). Ora, este amor
foi selado na cruz e na ressurreição; é amor pascal, amor que envolve morte e
vida! A indissolubilidade não deveria ser vista como um fardo, mas como uma
proposta de um Deus que crê no homem que criou; um Deus que nunca brinca com o
amor, um Deus que aposta na nossa capacidade, quando aberta à sua graça! Ora,
este amor-doação matrimonial, imagem daquele outro, entre Cristo e a Igreja,
certamente terá a marca da cruz. As dificuldades conjugais, para o cristão, têm
o nome de cruz, cruz que, assumida com amor e por amor, é transformada em
alegria e plenitude de ressurreição. Aqui não se trata somente de palavras
bonitas, mas de uma realidade impressionante: quem capitula, quem desiste ante
as dificuldades, nunca plantará um amor no sentido cristão! A presença de
Cristo na união conjugal não exclui as crises, as dificuldades, a
incompatibilidade de temperamentos e até mesmo os erros na escolha do cônjuge!
Mas tudo isso, por quanto doloroso possa ser, pode se tornar, em Cristo, um
modo libertador e eficaz de participar com generosidade e desapego da cruz do
Senhor e caminho de felicidade! “Loucura! Insanidade! Demência!” – dirá o
mundo! Mas, a linguagem da cruz é loucura para o mundo! A sabedoria da cruz é
tolice para o mundo! Nunca esqueçamos isso! Mas, para quem crê, é poder de Deus
e sabedoria de Deus! (cf. 1Cor 1,18; 3,18-20). O problema é que as pessoas
casam como os cristãos, mas não creem nem vivem como os cristãos! Que fique bem
assentado: o sonho de Deus em Cristo para o matrimônio é a indissolubilidade!
(3) E os nossos irmãos e irmãs que
fracassaram na aliança conjugal e estão numa nova união? É uma situação
dolorosa. Se são cristãos de verdade, a coisa é primeiramente difícil para
eles. Não nos compete julgar suas intenções e sua história! Compete-nos
respeitá-los e acolhê-los com espírito fraterno, ajudando-os a viver esta nova
união do melhor modo possível. Isto, no entanto, não significa aprovação da
separação nem da nova união. Mas, simplesmente, respeito pela história, pela
consciência e pelo mistério da vida e das opções de cada irmão e de cada irmã.
Mesmo porque, quem estiver sem pecado, que atire a primeira pedra. Cuidado,
irmãos: não coloquemos fardos na vida dos outros!
Que o Senhor socorra as famílias e
fortaleça no amor os esposos cristãos, fazendo-os simples como as crianças,
capazes de acolher a proposta do Cristo para o matrimônio e que, nas
dificuldades, recordem-se que Cristo, autor da nossa salvação, também foi
levado à consumação passando pelos sofrimentos. Que nossos sofrimentos, unidos
aos dele, sejam semente e penhor de vida eterna. Amém.
D. Henrique Soares da Costa
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