Os demônios do apostolado (II)
“Sejam advertidos, pois, os que são muito ativos, que pensam abarcar o mundo com suas pregações e obras exteriores, que fariam muito mais bem á Igreja e agradariam muito mais a Deus, sem falar no bom exemplo que dariam, se gastassem ao menos a metade deste tempo em estar com Deus em oração… Com isso, fariam mais e com menos trabalho com uma só obra do que com mil, alcançando merecimento de sua oração e recobrando forças espirituais com ela; do contrário, tudo não passa de agitação, de fazer pouco mais que nada e, às vezes, nada e, outras vezes, dano” (São João da Cruz)
9. 0 sectarismo
O demônio do sectarismo
leva o apóstolo a isolar-se em seu campo de trabalho, em suas ideias, em seu
grupo… Pouco a pouco, ele vai perdendo seu sentido de pertença e de integração
numa Igreja mais ampla, mais rica, numa Igreja universal, na qual todo cristão
é solidário em seus êxitos e cruzes, em seus problemas e conquistas, seja em
seu país ou no mundo todo. O apóstolo sectário se fecha em sua visão das
coisas, nos limites de sua experiência e, través disso, vê e julga a Igreja.
Com isso, sua visão deixou de ser verdadeiramente católica.
O sectarismo tem
sintomas pessoais e grupais. No nível pessoal, um dos mais típicos, é o
isolar-se. O apóstolo trabalha sozinho, sem integrar-se numa missão de
conjunto. Não participa das reuniões programadas para esta finalidade, nem de
encontros de atualização e de capacitação. Não lhe interessa incorporar-se a
critérios e planos comuns, a instâncias de avaliação ou revisão, nem procura
relacionar-se com outros evangelizadores.
Consequentemente, o
sectário isola seu trabalho do resto. Faz “sua coisa” e tem “sua gente”, sua
própria experiência e sua visão do apostolado. Tudo o que é diferente de sua
visão e experiência é questionável: só vê “poréns” e defeitos. A própria
autoridade pastoral da Igreja é ignorada ou criticada quando não concorda com
sua visão e idéias próprias.
Outro sintoma desta
tentação é reduzir o apostolado a um só tema ou pouco mais, a uma determinada
linha de pastoral, como grupos de oração, direitos humanos, liturgia, jovens… O
resto não interessa.
Isto não quer dizer que
não deva haver evangelizadores especializados. É que o bom especialista precisa
ter uma visão mais ampla e de conjunto.
O resultado é que o
apóstolo se torna sectário também em relação às pessoas ás quais se dirige. Se
ele for monotemático, sua freguesia habitual também o será: falará sempre ao
mesmo público, que partilha sua visão e seus interesses limitados. Ora, isso
leva ao perigo de suscitar comunidades tão sectárias quanto ele.
O demônio do sectarismo
pode ser, portanto, também grupal. Não se trata, porém, do que é normal no
apostolado e na Igreja, isto é, o fato de pessoas mais afins em
espiritualidade, em pastoral ou simplesmente por pertencerem a uma mesma
geração, formarem grupos de trabalho, de vida cristã ou de amizade. Isto não é
sectarismo, ainda que todo grupo afim precise saber que poderia estar exposto a
esta tentação. O sectarismo grupal consiste em fechar-se nas idéias do grupo ou
do movimento teológico, pastoral, espiritual… Os participantes do grupo acabam
pensando que têm a melhor versão da verdade ou toda a verdade, que sua
orientação é privilegiada, que não têm muito que receber de outros grupos ou
movimentos de Igreja.
Este tipo de sectarismo
nos faz marcadamente proselitistas, ignorando o legítimo pluralismo. Não há
integração com outros movimentos em tarefas comuns: se costuma ter a própria
agenda. Esta tentação pode conduzir, sutilmente, a fazer da própria
espiritualidade, da própria pastoral ou de sua teologia, em principio
legítimas, uma ideologia, um integrismo conservador, progressista ou de
qualquer outra cor.
10. Fechar-se em sua própria
experiência
Este demônio não é
sectário, nem tem muita gravidade. E uma tentação mais benigna e sutil.
Basicamente, consiste em elevar as experiências apostólicas pessoais à
categoria de princípio universal. Se tal ou tal experiência foi boa, todos os
que trabalham neste tipo de apostolado deveriam fazê-la. Se a experiência foi
má, ninguém deveria fazê-la. E caso se esteja numa posição de autoridade, se
procurará simplesmente suprimi-la.
A tentação está em
esquecer que toda experiência é relativa: tem circunstâncias próprias, agentes
e evangelizadores próprios, tempo e lugar próprios e irrepetíveis. Assim, o que
não deu resultado positivo num certo momento, com determinadas pessoas e num
certo conjunto de circunstâncias, não significa que não possa dar resultados
com protagonistas e circunstâncias diferentes.
Com o passar dos anos,
evidentemente, esta tentação se agrava, dado que o apóstolo já acumulou um
número significativo de experiências falidas e frustrantes. A tendência, então,
é instalar-se e promover só o que deu resultado a ele próprio, desconfiando de
outras experiências e iniciativas.
A verdadeira sabedoria,
em contra-partida, consiste em não deixar-se condicionar pelos fracassos, nem
pelo acervo positivo das experiências passadas, mas em estar disposto a tentar
outras formas de apostolado e a abrir-se à experiências de outros.
11. Esperar do apostolado
uma carreira gratificante
Este demônio do
apostolado é muito ativo. O apostolado da Igreja é bastante organizado e
hierarquizado, como é normal que aconteça em toda instituição humana que tem
uma missão a cumprir. Assim, na Igreja, há cargos e tarefas de maior autoridade
ou de maior poder ou prestígio que outras. Também existem títulos e honras
externas: a Igreja mantém isso com sábio realismo e consideração com a condição
humana. A tentação está em ir identificando o apostolado com uma carreira
eclesiástica e sua importância e eficácia profunda com o cargo que se ocupa.
O demônio das
gratificações terrenas pode tentar de muitas maneiras. A maneira mais rude é
quando se une ao apostolado a ganância pelo dinheiro, fazendo dele, não tanto
no nível das convicções como na prática, uma profissão lucrativa, seguramente
mais generosa e idealista que outras. Algo muito deferente é ganhar a vida com
o trabalho apostólico, sem ânsias de lucro, sobretudo quando se está dedicado a
ele em tempo integral. Quando esta tentação se agrava, se chega a fazer do
apostolado a aparência de um negócio que, embora não seja “negócio”
estritamente falando, é suficiente para tirar-lhe a credibilidade. Esta
tendência pode levar o apóstolo a interessar-se exclusivamente pelas tarefas
apostólicas remuneradas, perdendo, com isso, o sentido da gratuidade no serviço
e na evangelização.
Uma outra tentação mais
sutil deste demônio, é esperar reconhecimento e até elogios das pessoas e da
hierarquia da Igreja. Quem cai nesta tentação, passa a necessitar deste tipo de
gratificação para manter seu entusiasmo e seu élan. Pareceria que no apostolado
não se devesse buscar agradar a Deus, mas recompensas humanas. Quando não há
elogios e reconhecimentos explícitos, se interpreta isso como uma ingratidão e
uma falta de valorização, provocando uma baixa na própria motivação e entrega.
De modo semelhante, quando há críticas por parte das pessoas com quem trabalha
ou da hierarquia da Igreja, o apóstolo se sente rechaçado e perseguido. Mais
uma gota d’água, e o apóstolo deixará o seu trabalho.
Entretanto, talvez o
demônio mais sutil se dá na aspiração de postos e cargos; na necessidade de que
toda mudança de apostolado signifique igualmente uma promoção. Há uma
expectativa latente por “ascender”. O apóstolo marcado por esta tentação, se
não ascende em tempo, fica ressentido e, às vezes, se “desestrutura”. Trata-se
de um demônio sutil, que costuma fantasiar-se de “anjo da luz” (2 Cor 11,14):
dissimula a ambição de promoções e postos com a desculpa do apostolado mais
eficaz, de serviço à Igreja, etc… Na prática, se faz da “carreira” um fator de
apostolado, e da ascensão um referencial constante, em geral não totalmente
consciente. O resultado desta tentação é a imperfeição das motivações: lhe
interessa não só servir à Igreja gratuitamente e seguir a Cristo pobre, mas
ficar bem com todos e “ganhar pontos”. Esta tentação produz também uma falta de
liberdade no apostolado e uma preocupação pela própria imagem. Evita-se toda
discordância ou oposição legitima com a autoridade, que em certos momentos pode
ser um dever no apostolado, não tanto por lealdade, mas pelo interesse de
mostrar-se agradável e dialogante.
12. Perder o gosto pelo
apostolado
Este demônio transforma
a evangelização em rotina e num dever, quando deveria ser a principal fonte de
alegria para a apóstolo. A alegria e a plenitude interior de colaborar com a
vinda do Reino de Deus e de trabalhar na vinha do Senhor devem ser para o
apóstolo uma experiência constante.
Esta tentação está
ilustrada precisamente na parábola dos operários contratados para a vinha, em
que alguns chegam cedo e outros mais tarde (Mt 20,lss). Os que haviam
trabalhado o dia inteiro, se queixam de que seu salário é igual ao daqueles que
haviam trabalhado só uma hora. Ora, o que eles não tinham compreendido, é que o
salário não era importante, nem era a verdadeira gratificação pelo seu
trabalho. Seu prêmio e gratificação era o próprio fato de terem dedicado o dia
inteiro à vinha do Senhor, com a satisfação e a alegria que isso lhes poderia
ter ocasionado.
O apóstolo que sucumbe a
esta tentação, fará de seu apostolado um trabalho a mais, como outros, limitado
pelo peso do dever e da rotina. Como os operários que trabalharam o dia todo,
trabalhará bem e com dedicação, mas perderá de vista o sentido último do que
ele faz: um trabalho para a eternidade, pelo qual Deus age nele, para libertar
a condição humana e semear vida de fé, de esperança e de amor a Deus e aos
outros, que é o Reino de Deus que se antecipa.
É no apostolado que o
apóstolo encontra sua alegria e o sentido de sua vida. É parte de sua alegria
comprovar o bem que Deus faz através dele, e dar graças a Deus, sem vanglória,
porque Cristo o elegeu como seu instrumento livre e responsável, para “dar
fruto que permaneça” (Jo 15,16). O que não dispensa o apóstolo de, sem perder a
paz e sua entrega alegre, também pedir perdão com humildade, pois devido às
suas falhas pessoais e falta de santidade, Deus não pôde fazer através dele
todo o bem que ele queria. Pedir perdão porque, por ele não ter sido melhor,
muitos não se tornaram melhores, nem se converteram e nem recuperaram a
esperança.
O gosto e a gratuidade
por trabalhar na vinha do Senhor não deve fazer-nos complacentes. Há muito o
que mudar e do que nos arrepender no apostolado. Por nossa falta de santidade,
seus frutos, reais pela graça de Deus, são, às vezes, medíocres.
13. A instalação
O demônio da instalação,
às vezes com boas desculpas, corrói no apóstolo o espírito de superação em
todos os aspectos. É uma tentação que costuma chegar, ainda que nem sempre, com
o passar dos anos e a chegada da maturidade. Ela se expressa no fato do
apóstolo ter encontrado seu cantinho, seu ritmo e seu modo de trabalhar, e de
se ter arraigado em seus critérios e idéias. Ele é consciente de que o
apostolado da Igreja avançou, que ele apresenta novos desafios e exigências,
mas não tem disposição para mudar e renovar-se. Aos mais jovens que trabalham
junto dele, os deixa fazer, mas não se deixa questionar. Pode até participar de
reuniões e cursos de renovação, mas estes não têm influência sobre ele. Tudo o
que ele espera é o que o deixem em paz, instalado em sua pastoral que, além do
mais, costuma realizar de forma irrepreensível. Apesar disso, é possível até
que ocupe altos cargos na Igreja.
Esta tentação, que vai
tomando conta lentamente e se faz inevitável quando o apóstolo perde a
espiritualidade do trabalho, costuma ir combinada com a instalação em seus
próprios defeitos. Provavelmente nem se trate de algo realmente grave, mas o
dinamismo espiritual está estancado. Sob uma aparência exterior honesta, há uma
mediocridade interior. Desanimado, já não tem suficiente esperança e nem
confiança em Deus para melhorar e, tacitamente, já fez um pacto com seus
defeitos e mediocridade que ele pensa, falsamente, que não pode ou não vale a
pena superar. “Eu sou assim mesmo…”.
Este demônio induz a
pensar, sobretudo depois de certa idade, que se tem o direito de buscar
compensações e de aburguesar-se. E, então, o apóstolo termina contentando-se
com as exigências mínimas.
14.Carecer de fortaleza ou
vigor
Este demônio debilita o
apóstolo em algo que é fundamental para exercer um apostolado de envergadura,
abnegado e constante, apesar de toda sorte de contradições: a fortaleza.
Este debilitamento e
carência adquire formas contrárias às que caracterizam a fortaleza apostólica.
Afeta, em primeiro lugar, o vigor físico, que não pode ser o mais relativo no
apostolado. Não se pode, por exemplo, menosprezar a saúde das pessoas. Afeta,
também, os hábitos alimentares: a gente pode tornar-se exigente em qualidade e
quantidade; no horário; apega-se a certos hábitos; chegando à incapacidade de
dar um sentido evangélico ao comer pouco ou nada, caso o serviço pastoral o
requeira. O mesmo ocorre com o sono e o descanso, que muitas vezes o serviço
pede sacrificar. Converte-se numa dificuldade habitual viajar em meios
populares, a pé, em transporte coletivo. Se busca sistematicamente o meio mais
rápido e cômodo, com a desculpa da eficácia apostólica, sem discernimento, uma
vez que, em muitos casos, a escusa pode ser válida. Também o cuidado excessivo
da saúde e a adoção de todas as formas de prevenção às quais recorrem os mais
privilegiados, pode tornar mais aguda esta fase de austeridade e fortaleza.
Poder-se-ia agregar outros exemplos.
A tentação afeta
igualmente a fortaleza psicológica, tanto mais necessária que a física para o
verdadeiro apostolado. Neste campo, é preciso educar-se num alto grau de resistência
psicológica, o que não exclui ser emocionalmente vulnerável como todo ser
humano normal. A fortaleza consiste em assimilar os golpes psicológicos, sem
desanimar e, muito menos, desestruturar-se. Esta deve ser a atitude diante das
críticas injustas ou parciais, diante das calúnias, das acusações… E,
logicamente, diante das perseguições e das diversas formas de sofrimento, que
podem chegar ao martírio, por causa do Reino. A aspiração de muitos apóstolos à
última bem-aventurança – “bem-aventurados os perseguidos por minha causa e a
justiça do Reino” -, não se improvisa, e é vã se não for preparada e se não
estiver acompanhada pela aceitação das provações e crises psicológicas, com
fortaleza evangélica.
A tentação pode ser mais
grave se a provação da fortaleza provém do interior da Igreja. Um dos piores
sofrimentos do apóstolo é o da “contradição dos bons”, de sua comunidade, de
seus irmãos e companheiros de trabalho, de autoridades da Igreja. Em certos
momentos do apostolado, em muitas ocasiões em que se trata de experimentar ou
inovar dentro daquilo que é legítimo, o apóstolo precisa aceitar, com coração
sadio e atitude evangélica, ser minoria ou simplesmente estar sozinho. Por
isso, necessitará fortaleza diante das tensões e conflitos existentes no interior
da Igreja, diante das incompreensões, das suspeitas, da falta de confiança e de
colaboração.
A fortaleza apostólica
purifica, amadurece e prepara para o futuro. O demônio da inércia e da
fragilidade mantém o apóstolo na adolescência, numa certa mediocridade
rotineira, dificultando-lhe exercer o melhor serviço da Igreja, agora e no
futuro.
15. A inveja pastoral
O demônio da inveja não
é alheio ao apostolado. Trata-se de um demônio universal. Obviamente, sua ação
entre os apóstolos não tem os resultados devastadores que tem na política, na
arte ou em outras atividades do “mundo”: as invejas no interior da Igreja são
muito menos graves, mas se apresentam de uma forma sutil.
A tentação se expressa
habitualmente em forma oblíqua. Manifesta-se com a tendência em encontrar e
assinalar, à primeira vista, defeitos em todas as iniciativas pastorais e em
atividades apostólicas que se destacam e se sobressaem do comum. Se despreza
toda forma de apostolado que tem algo de diferente, com comentários, piadas,
etc. Também no corpo apostólico da Igreja se sofre a tentação do corpo social:
defender a mediocridade e derrubar tudo o que se sobressai e que, por isso,
questiona. A tentação se manifesta também mediante o cinismo diante de
trabalhos, iniciativas ou apóstolos que querem viver radicalmente seu chamado à
evangelização. O cinismo é a expressão mais sutil da inveja; é seu melhor dissolvente.
Agora, em alguns casos,
o demônio da inveja apostólica se revela em forma direta, em formas de
rivalidade e de competição latente ou aparente. Esta tentação atua em todos os
meios e níveis, normalmente dissimulada pelo “zelo pela verdade”, pelo “serviço
do Reino” etc., palavras que escondem, às vezes, inveja pela reputação ou pelo
êxito de um companheiro de apostolado.
Este demônio age também
entre os teólogos, campo em que nem todo conflito ou disputa teológica está
inspirada na busca da verdade; costuma haver questões pessoais misturadas. Age
nos meios pastorais, em todos os níveis. Quantas vezes, apóstolos valiosos,
projetos e experiências prometedoras são marginalizados, postergadas sem
motivo, ou ignoradas, por questões de rivalidade!
O demônio da inveja
pastoral leva a considerar projetos ou atividades de outros, como uma ameaça à
própria influência apostólica. Quando se cai nesta tentação, o relacionamento
apostólico fica inevitavelmente comprometido.
16. Perder o sentido do humor
Este demônio dramatiza e
faz vítimas. Neste caso, o sentido do humor consiste em ver o lado bom das
coisas, ainda que aparentemente de todo negativas; consiste em aprender a relativizar,
a olhar “desde fora” as situações que nos afetam. O sentido do humor, por isso,
ajuda a equilibrar as coisas, a não dramatizar e não ver tudo de maneira
trágica. Ter sentido de humor é não fazer-se de importante, não levar a sério
títulos, nem os problemas, nem os conflitos pastorais e eclesiais. É rir
sadiamente da gente mesmo, das situações e de seus protagonistas.
O demônio que arranca ou
adormece o sentido do humor, arrasta progressivamente o apóstolo à crítica sistemática,
ao azedume, ao complexo de vítima que dramatiza tudo o que o afeta
desfavoravelmente. O apóstolo que se dá muita importância, que acha seu
trabalho o máximo, que busca cargos importantes ou que simplesmente se leva
muito a sério, perde a simplicidade evangélica e, com ela, o sentido cristão do
humor.
O apostolado requer o
sentido do humor. A Igreja também precisa de humor e, obviamente, todos nós. O
sentido do humor é uma qualidade tão humana quanto cristã. Trata-se de uma
qualidade presente nos santos, nos apóstolos e nos missionários mais atraentes.
Teve importância no apostolado de ontem e tem no de agora.
De fato, em tempos de
particular tensão e conflito na vida apostólica e da Igreja em geral, o sentido
do humor se torna imprescindível. Por isso, contribuir com seu desaparecimento
da vida eclesial e pastoral constitui uma tentação permanente, um demônio. Os
cismas, heresias, dissidências, divisões, conflitos insolúveis e falta de
diálogo e de comunhão são atitudes de pessoas que normalmente perderam o
sentido do humor; que dão grande importância a si mesmos e às suas idéias. Sem
sentido de humor, qualquer contradição, reprovação ou questionamento provindos
da Igreja, é um drama, uma perseguição. Portanto, um apóstolo sem sentido de
humor é um apóstolo vulnerável e débil.
Em última análise, o
sentido do humor forma parte da fortaleza cristã e, certamente, a propicia.
(*) Este texto é um extrato do livro do teólogo chileno Segundo GALILEA, Tentación y Discernimiento, Narcea, Madrid 1991, p. 29-67.
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