"Vinho Novo"
Não sei dizer a razão pela qual faltou o
vinho nas Bodas de Cana, talvez a família não tivesse muitos recursos e fez uma
festa bem modesta, só para os mais íntimos. Também pode ser que o Encarregado
da cozinha, tenha errado no cálculo, ou então, porque havia um número excessivo
de “penetras”. Só sei que os convidados das bodas de Canaã ficaram admirados
com a qualidade e o sabor inigualável daquele vinho que serviram na última
hora, quando muitos já estavam até embriagados. Os discípulos e os que serviam
estavam de boca aberta, pois só eles sabiam que todo aquele vinho delicioso
fora tirado de seis talhas de barro, cheias de água. Um prodígio promissor para
Jesus iniciar seu ministério!
Em Israel muita gente andava descontente
com a religião, porque transformaram o Deus da Aliança, tão rico em bondade e
misericórdia, em um legislador implacável, alguém frio que passava os dias
observando atentamente quem ousava desrespeitar a lei de Moisés. As pessoas iam
ao templo ou nas sinagogas com o coração pesado, por medo do que pudesse
acontecer, se deixassem de observar alguma das mais de seiscentas leis e
prescrições da religião. Existiam para os faltosos a possibilidade de se
livrarem da culpa, cumprindo os rituais de purificação feitos com água, mas que
também era complicado pois naquele tempo não se tinha a facilidade da água
encanada como hoje.
Às vezes a prática da religião se torna
um peso quase insuportável, as vezes ao receber um sacramento, ou ao término de
alguma celebração, há quem dê um suspiro de alívio “Arre ! já cumpri minha
obrigação e estou livre!” para curtir o domingão. Certa ocasião depois da
celebração de crisma, um adolescente em frente a igreja dava pulos e esmurrava
o ar festejando quando alguém perguntou; “ feliz com a crisma recebida?” .
---Muito feliz --- desabafou o jovem – pois agora não preciso mais vir à igreja
e estou livre!
Para ir a uma festa, um dia antes já
estamos na expectativa, já para ir à igreja, chegamos na última hora e ás
vezes, se a celebração se alongar um pouco, saímos antes da bênção final pois
só temos paciência para agüentar a missa por uma hora. Precisamos rever o que
está errado, nossas liturgias não podem resumir-se ao “oba-oba” mas temos que
lhe dar vivacidade para que as pessoas saiam convencidas da graça de Deus e
cheias de coragem para dar testemunho.
Não vale a pena praticar esse tipo de
religião meramente cultual! Nas bodas de Caná Jesus, ao transformar a água da
purificação em vinho da melhor qualidade, acabou com essa “chatice religiosa”
mas muitos ainda hoje insistem em beber desse vinho azedo de uma religião
angustiante, que bota freios no ser humano e coloca em seus olhos uma “viseira”
para somente enxergar na direção que aponta os dirigentes “iluminados” sendo
terminantemente proibido olhar em outra direção.
A verdadeira religião supõe liberdade e
uma alegria incontida pelo fato de se tomar conhecimento de que Deus,
apaixonado pelo homem, manifestou o seu amor no seu filho Jesus, que ao chegar
a sua hora, a hora de mostrar a que veio, em um gesto de loucura aos olhos de
muitos, derramou até a última gota do seu sangue na cruz do calvário, para que
nós pudéssemos ser felizes e ter uma vida nova como homens livres.
É este o pensamento que deve nortear a
nossa relação com Deus no âmbito da Igreja, uma alegria de saber que ele nos
ama tanto, que ele só quer o nosso bem em seu sentido mais pleno, um amor que
nos ama sem exigir nada, sem cara feia, sem mau humor, sem palavras amargas e
sem nenhuma censura – Deus é amor infinito, bondade eterna e misericórdia para
sempre! É essa, portanto, a novidade que Jesus traz ao mundo nas bodas de Caná,
ele é na verdade o noivo apaixonado pela noiva que é a Igreja, assembleia de
todos os que creem. Uma noiva não muito bela e nem sempre fiel, que às vezes se
deixa seduzir por outros “amantes”
Entendida e aceita essa verdade, a
Palavra de Deus celebrada e proclamada em nossas comunidades, é uma carta de
amor que ouvimos com o coração aos pinotes, e a eucaristia se transforma em um
jantar a luz de velas com Cristo Jesus, o amado de nossa vida, ao sabor do
vinho novo da graça santificante que nos salva e liberta. Irradiar este amor a
todos com o testemunho de vida, é a única forma de transformar a sociedade e
não adianta se buscar outras alternativas, pois somente assim a glória de Cristo
será manifestada semeando a fé no coração dos descrentes! (2º. Domingo do Tempo Comum João 2,
1-11)
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
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