sábado, 22 de janeiro de 2022

JESUS NA SINAGOGA DE NAZARÉ


Con. José Geraldo Vidigal

Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

A primeira pregação de Jesus na sinagoga de Nazaré é como uma síntese de toda sua missão de evangelizador (Lc 4, 14-21). O trecho de Isaías mostra que lhe foi dado o Espírito do Senhor que estava sobre ele e lhe conferiu a unção para uma obra de libertação, de luz e de misericórdia. Ao fazer o comentário Cristo diz claramente: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. É que Ele aplicou a si mesmo a palavra do profeta. Logo ele que os ouvintes conheciam como o filho do carpinteiro José se identificava com o Messias prometido e esperado! Todos tinham os olhos cravados nele e admiravam com sua mensagem, pois era a graça de Deus que Ele anunciava a todos.


Bem sabemos que aquele arrebatamento foi instantâneo, pois, quando Jesus afirmou que ele levaria a boa nova e seus milagres igualmente aos pagãos como no tempo de Elias e Eliseu, seus conterrâneos se enfureceram. Aí então uma primeira indagação que se deve fazer: “Qual é o ato de fé que Cristo-Messias pede a cada um, quando assim ele se manifesta como o Redentor que o Pai enviou a esta terra”? Ele quer que nos identifiquemos não a Ele, o profeta portador do Espírito, mas àqueles visados por Isaias, ou seja, os pobres, os cativos, os cegos e os oprimidos.


Com efeito, é preciso verificar se não somos pobres de esperança e de alegria, mas repletos da certeza de que Ele veio para tirar esta mendicidade espiritual. Hoje é preciso mostrar a Ele as cadeias que prendem o coração, por não se acreditar completamente no perdão que Ele concedeu de todas as faltas passadas já anistiadas no Sacramento da Confissão. Ele quer retirar tudo que paralisa o amor no cotidiano, tudo que retém o élan da total confiança num futuro feliz graças à sua proteção. Ele deseja tirar qualquer cegueira que turva a caminhada rumo à pátria celeste e almeja iluminar os olhos de seus seguidores para reconhecerem os dons de Deus nos quais se acham envoltos.


Aqueles que se acham oprimidos pelas paixões ou escravos de seus erros que com sua graça poderosa possam obter total liberdade uma vez sua misericórdia é sem limites. Ele oferece a todos libertação por causa de sua dileção sem fronteiras a qual ninguém pode estancar. Tudo Ele oferece hoje, por que, segundo seus dizeres hoje se cumpre o que foi predito por Isaías. Uma condição, contudo, Ele estabelece: ter os olhos fixos nele como os nazarenos lá na Sinagoga. Tudo a ser feito com Ele, por Ele e nele, o grande Libertador.


Apenas assim se penetra fundo no admirável sentido messiânico daquilo que Ele proclamou lá na Sinagoga de Nazaré. O hoje de Deus deve, portanto, ressoar sempre no íntimo dos corações que nele crêem. Ao cumprir a profecia de Isaías, Ele, o enviado do Pai, inaugurou, de fato, uma nova época na qual todos os homens podem conseguir a extinção de todos os seus males. Tudo porque Jesus não falou à maneira dos escribas e doutores da Lei que simplesmente comentavam as passagens da Revelação. Sua palavra, com efeito, era Ele mesmo, a Verdade Suprema. Não somente havia uma beleza nas suas explicações, depois compendiadas no Evangelho, mas sobretudo resplandecia uma força que perenemente fluía de sua pessoa. Seus conterrâneos admirados exclamavam: “Donde lhe vem esta sabedoria? ” No começo de sua vida pública Jesus manifestou deste modo uma inteligência das Escrituras e de Deus que Lhe advinha de sua filiação divina. Eis porque mais tarde Ele enfrentará com sapiência maravilhosa as agressões verbais e físicas que o conduzirão à Cruz, momento zenital da dor pela regeneração humana. Tanto isto é verdade que lá no Calvário, Ele o Messias, doce e humilde de coração, rico em misericórdia abrirá as portas do Reino dos céus ao bandido arrependido: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Cumpria-se plenamente o que Ele dissera na Sinagoga de Nazaré, aplicando a si as palavras de Isaías. Os pobres, os cativos, os cegos, os oprimidos Ele faria entrar na eternidade de Deus. Nele e por Ele, o hoje se tornaria o eterno presente de Deus, não já no paraíso perdido por Adão e Eva, mas no paraíso do Reino Novo por Ele instalado nesta terra.


Para isto, como acontecia na Sinagoga de Nazaré, é preciso que os olhos estejam fixos nele. Isto se dá quando o cristão dirige o olhar no mais profundo de seu coração e aí contempla a Sabedora, a Verdade do Filho único de Deus. Cumpre ver Jesus com os olhos da alma. Então o pobre em espírito se torna rico; quem estava preso a seus erros fica liberto; quem estava possuído pela cegueira espiritual, passa a enxergar as maravilhas de Deus e os que estavam oprimidos  pela tristeza deparam a liberdade dos Filhos de Deus.

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