REFLETINDO AS TRÊS
LEITURAS: Is 62,1-5; 1Cor 12, 4-11;Jo 2,1-11.
Padre Wagner Augusto Portugal
Meus caros irmãos,
A Primeira
Leitura (cf. Is 62,1-5) fala que depois do fim do Exílio, veio do difícil
período da restauração. O povo pergunta se isso é a salvação. O profeta
responde: “Esperança! ” Não pode calar-se de anunciar, com nomes carinhosos,
quanto Deus ama seu povo. É a renovação dos esponsais.
O amor de Deus pelo
seu Povo é um amor que nada consegue quebrar: nem o nosso afastamento, nem o
nosso egoísmo, nem as nossas recusas. Ele está sempre lá, à espera, de forma
gratuita, convidando ao reencontro, ao refazer da relação; e esse amor gera
vida nova, alegria, festa, felicidade em todos aqueles que são atingidos por
ele. Viver em relação com o Deus-amor implica também dar testemunho, ser
“profeta do amor”.
Caros irmãos,
A Segunda
Leitura (cf. 1Cor 12,4-11) nos fala da diversidade de dons, mas um só
Espírito. Trata-se do início de uma sequência de leituras de 1Cor 12-15. Nestes
capítulos nos é apresentado os carismas que são diversos, mas isso não pode
causar divisão, pois têm a mesma fonte: a riqueza de Deus e o amor do Espírito,
mandado pelo Filho por parte do Pai. Cada cristão está com seu dom específico:
a serviço de toda a comunidade.
A comunidade cristã necessariamente deve ser o
reflexo da comunidade trinitária, dessa comunidade de amor que une o Pai, o
Filho e o Espírito. Como cristãos, somos todos membros de um único corpo, com
diversidade de funções e de ministérios. A diversidade de “dons” não pode ser
um fator de divisão ou de conflito, mas de riqueza para todos. Os “dons” que
Deus nos concede deve sempre ser colocado ao serviço do bem comum.
Irmãos e Irmãs,
Está inaugurado o tempo comum depois da celebração
do Batismo do Senhor e o encerramento do tempo do Natal. O tempo comum é
inaugurado pela reflexão do Evangelho (cf.
Jo. 2,1-11) que nos apresenta a narrativa das Bodas de Caná. Ali Jesus iniciou
a sua vida pública de maneira festiva, de maneira solene, num casamento, na
celebração de bodas de amigos. O gesto de Caná demonstrado por São João quer
significar que Jesus é o Verbo de Deus que contraiu com a natureza humana um
casamento, um pacto nupcial.
Entre Deus e o povo do Antigo Testamento, o povo
israelita, existia um pacto, uma aliança, como se fosse um casamento. Mas
Israel foi infiel e traiu a confiança de Deus. Por causa de presumidas
vantagens materiais, correu atrás de Deuses dos povos pagãos. Este
acontecimento é conhecido como prostituição. O resultado foi que Israel caiu
nas mãos dos povos estrangeiros narrado pela primeira leitura e conhecido como
Exílio. Os israelitas foram levados para o cativeiro na Babilônia, daí o Exílio
da Babilônia. Entretanto, agora, o profeta anuncia, em nome de Deus, a
salvação. Deus vai acolher de novo sua esposa fiel, proclama e ensina a
primeira leitura (cf. Is. 62,1-5).
O amor de Deus pela
humanidade ao amor ao esposo, e a aliança entre Deus e as criaturas humanas
como um amor esponsalício, amor dialogante, repleto de alegria de ambas as
partes.
Meus caros Irmãos,
O Evangelho
de hoje (Jo 2,1-11) anuncia a origem divina e missão de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Houve o casamento. Estiverem testemunhando este casamento Jesus, os
discípulos e a Virgem Maria. Faltou vinho. Houve a transformação de água em
vinho. Por detrás desses fatos há muito mais do que a realidade que eles
contam. O vinho era considerado uma bebida de imortalidade, a bebida do amor
divino, a expressão da força de Deus que penetra e inebria o coração dos
viventes.
A água sempre representou a matéria-prima da vida.
Água que dá vida e que embala a vida de todos os homens. Vinho que significa a
vida divina e água que significa a vida humana, a humanidade. Jesus ao
transformar a água em vinho anuncia que dará ao homem a eternidade. Assim,
depois que Jesus desposou a humanidade, introduziu-a no lugar de Cristo, porque
“quem está em Cristo, é criatura nova” e “Cristo
será tudo em todos” e todos formamos “um só Corpo em
Cristo”.
Irmãos e Irmãs,
A água transformada em vinho encontrava-se em seis
talhas de pedra, porque era a água reservada para as purificações legais, e os
hebreus preferiam as de pedra às de terracota, porque essas nem sempre
correspondiam às exigências legais da pureza. Jesus transformou 500 litros de
água em vinho. Abundância para que? O tempo que Jesus inaugura é um tempo de
abundância. Aquele que nasceu pobre numa gruta à beira da estrada e morreu nu
pregado numa cruz trouxe para a humanidade graça sobre graça. Deus é sempre
abundantemente; o homem é que estabelece limites, exatamente como acontece na
vida prática. Deus cria os campos sem horizontes e o homem súbito lhes põe uma
cerca.
Jesus fala de hora e de glória no Evangelho de
hoje. A hora de Jesus é a sua glorificação. E essa hora lhe foi fixada pelo Pai
do Céu: será o momento de sua morte na Cruz. Assim João já prefigura que com a
inauguração da vida pública de Jesus, manifestando o seu poder e a sua glória
em Cana, Jesus tem ciência de que sua existência e sua missão era um caminho
que ultimaria na paixão e na morte. Paixão e morte que se transformarão em ressurreição,
em vida eterna, em salvação do mundo, em vitória da morte e anúncio da vida
plena, da vida em abundância, em Glória eternal.
Caros irmãos,
Para São João, os “milagres” são sempre “sinais”
que nos reenviam para além da materialidade dos fatos. Será bom olhar com mais
atenção esta água mudada em vinho. A água é um elemento vital. Mas é, antes de
mais, um elemento ordinário e bruto. A água encontra-se na natureza, não
precisa de ser fabricada. O vinho é fruto da vinha, mas também do trabalho do
homem, como rezamos na Eucaristia. Jesus manda encher as talhas de água, a água
que é símbolo da nossa vida ordinária, de todos os dias. Jesus toma esta água
ordinária para a transformar. Não com uma varinha mágica, mas com a força do
Espírito Santo, com a força do amor. É porque este vinho é melhor que o vinho
dos homens… Por este “sinal”, Jesus quer vir ter conosco na nossa vida
cotidiana, para aí colocar a sua presença de amor, o amor do Pai, o Espírito
Santo. Toma a nossa vida, com as nossas alegrias, os nossos amores, as nossas
conquistas humanas, importantes, mas tantas vezes efêmeras, com os nossos
tédios, os nossos dias sem gosto e sem cor, os nossos fracassos e mesmo os
nossos pecados, também eles cotidianos.
Irmãos e Irmãs,
Junto de Jesus está a sua Mãe que dá uma esplêndida
manifestação do Poder e do Senhorio do Redentor: “Fazei tudo que Ele
vos Disser! ”. João estabelece um paralelo entre Eva e Maria,
querendo dizer que, a partir do nascimento de Jesus, Eva foi substituída por
Maria. Eva significa a mãe dos viventes. A cena da entrega de Maria a João como
Mãe, quando do alto do Madeiro da Cruz, prestes a expiar o pecado de Adão e de
Eva, o pecado original, Jesus recria o universo, para entregá-lo purificado ao
Pai numa aliança eterna e definitiva. Na nova e eterna aliança anunciada por
Jesus, Maria é a nova mãe de todos os que viverão pelo Cristo.
A fé é virtude, atitude habitual da alma,
inclinação permanente a julgar e agir segundo o pensamento do Cristo, com
espontaneidade e vigor, como convém aos homens justificados. Com a graça do
Espírito Santo, cresce a virtude da fé, se a mensagem cristã é entendida e
assimilada como boa nova, no sentido salvífico que tem para a vida cotidiana do
homem.
Todos nós devemos contribuir de maneira diversa
para formar o Corpo de Cristo. Todos agirão a partir da fé em Jesus Cristo, a
exemplo de Maria, que disse aos serventes: “FAZEI TUDO O QUE ELE VOS
DISSER! ”
Em cada Missa somos convidados a participar do banquete das bodas que Deus celebra com a humanidade, onde Jesus Cristo é ao mesmo tempo esposo e alimento e a Comunidade cristã, esposa alimentada pela vida e o amor de Deus.
https://catequizar.com.br/liturgia/homilia-do-2o-domingo-do-tempo-comum-c/
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