Festa do
Batismo do Senhor
O Evangelho deste domingo se inicia com
uma síntese sobre a pregação de João
Batista, na qual ele anuncia a vinda do Messias, que vai
provocar uma profunda transformação. As multidões acorrem ao rio Jordão e
aderem à proposta do Batista, que consiste na conversão dos pecados como
caminho para quem deseja receber o Reino de Deus que está próximo. A primeira
condição para acolhê‑lo é reconhecer‑se pecador. Assim, às margens do Jordão,
afluíram aqueles que desejavam libertar‑se do pecado. Os fariseus e os saduceus
não procuravam o batismo de João porque se consideravam justos, sem pecado (cf.Lc7,30).
Naqueles dias, também, Jesus chegou de
Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no rio Jordão. À primeira vista,
o batismo de Jesus nas
águas do rio Jordão pode parecer inútil. Eram as pessoas conscientes de seus
pecados que procuravam o batismo, perante a iminente chegada do Messias
prometido. Jesus, além de não ter pecados, não precisava mudar de vida. Mas sua
vinda ao mundo tinha um objetivo: ir ao encontro e oferecer a salvação aos
pecadores. Aderindo ao batismo
de João, Jesus expressa sua solidariedade para com os pecadores
e se coloca próximo a eles não como juiz, mas como salvador.
Mais que fazer uma crônica do que
aconteceu, o evangelista quer revelar quem é Jesus e o faz servindo-se de três
imagens. Jesus, ao sair das águas, “viu os céus se abrindo”. “Os céus fechados”
lembram o silêncio e o distanciamento de Deus de seu povo (cf. Is 65,15‑19). O
evangelista revela que o início da atividade pública de Jesus reconstitui a
aliança entre o céu e a Terra, Deus e seu povo.
“O
Espírito Santo em forma de pomba desceu sobre ele “. Na
compreensão de Israel, a pomba era símbolo da doçura e do amor. O estilo suave
dessa ave expressa o agir de Jesus que se aproxima dos pecadores e os trata com
misericórdia. Além disso, o Espírito, que antes era como uma pomba que voava
sem encontrar sobre quem repousar, agora repousa em Jesus para consagrá‑lo.
“E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu
Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição. ” ‑. A voz é expressão de alguém
sendo solenemente apresentado para determinada missão. O Pai apresenta Jesus
como o servo fiel e predileto. A missão do Filho de Deus tem sua imagem na do
servo sofredor de Isaías: aquele que carrega sobre si os pecados do povo.
Ao sair das águas do Jordão, Jesus é proclamado “Filho bem-amado”, sobre o qual
pousou o Espírito que o consagrou para a missão de anunciar a Boa‑Nova da
Salvação. Como o Messias esperado e Salvador, Ele recebe a força de Deus para
conduzir a humanidade rumo ao novo céu e à nova terra.
RENASCER PELA ÁGUA E PELO ESPÍRITO SANTO
Com a festa do Batismo do Senhor,
recebido pelas mãos de João Batista nas águas do rio Jordão, encerra-se o ciclo
de Natal. O dia seguinte já pertence ao Tempo Comum, cuja primeira fase se
estende até à terça-feira antes da quarta-feira de Cinzas. Esta festa do
Batismo de Jesus é, portanto, um marco importante. Mas não só no calendário
litúrgico. Significa a entrada de Jesus para sua vida pública, depois dos
trinta anos de vida oculta em Nazaré. Pelo sinal do Batismo, João Batista
reconheceu a Cristo como o Messias, e o pôde apresentar ao povo: “Eis o
Cordeiro de Deus, eis o que tira o pecado do mundo”(Jo1,2.9).
É muito saudável o costume de nossas
igrejas – principalmente as mais antigas – de reproduzir num painel na parede
do batistério a cena do Batismo de Jesus. Pinturas como essas já foram
definidas como a Bíblia dos humildes, dos que não sabem ler. E não faltam
catequistas que, quando ensinam o capítulo do batismo para os seus pequeninos,
levam-nos a visitar o batistério e lhes explicam todos os pormenores do
sugestivo quadro. O rio Jordão, que já era o rio sagrado dos hebreus, e que,
pela presença de Cristo em suas águas, ficou sendo sagrado para os cristãos e
para todo o mundo. Sobre Jesus, na hora em que Ele é batizado, paira o Espírito
Santo em forma de pomba. E se ouve a voz do Pai eterno dizendo – uma inscrição
na parede o indica -“Este é o meu Filho muito amado, no qual ponho toda a minha
complacência” (Mt 3, 17).
Não há dúvida de que a Igreja, ao
celebrar esta festa, não quer apenas louvar a Deus pela grandeza e santidade de
seus mistérios, como se faz sempre na Liturgia. Ela quer chamar a atenção para
a realidade – tantas vezes esquecida – de nosso batismo, do qual o de João
Batista era apenas um humilde prelúdio, como ele próprio o diz: “Agora eu batizo
com água, mas já vem Aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou
digno de desatar a correia das sandálias, Ele vos batizará com o Espírito Santo
e com o fogo”(Lc3,16). Aí a referência é ao fogo purificador profundo, que
penetra a alma para libertá-Ia de toda a maldade, em oposição àquele batismo de
água, puramente exterior. Aliás, línguas de fogo apareceram em Pentecostes,
essa solene descida do Espírito Santo, que se pode considerar como sendo o
batismo da Igreja.
O Concílio Vaticano II orientou a Igreja
para reformular o rito do batismo, tanto de crianças como de adultos, a fim de
indicar com mais clareza o sentido profundo desse sacramento (Sc, 66/129). E o
esforço pastoral da Igreja hoje é no sentido de que o batismo seja cada vez menos
um rito puramente tradicional e social, e cada vez mais uma entrada consciente
do homem para o mundo de Cristo e do seu Evangelho. Um “mergulhar” em Cristo,
talvez pudéssemos dizer, traduzindo a palavra “batismo” que tem exatamente esse
significado. Como os israelitas, pela circuncisão, eram agregados ao antigo
Povo de Deus, assim o batismo nos faz agora “concidadãos dos santos” (Ef 2.19)
– não mais estrangeiros -, e destinados a ser na eternidade habitantes f
“daquela Roma onde Cristo é romano”, conforme disse alegremente Dante na Divina
Comédia (Purg. XXXII, 102). O cristão é alguém que tem que sentir e viver essa
realidade sublime: ele entrou para o mundo de Cristo. Deixou para ! trás o
mundo dos valores puramente terrenos e recebeu o Espírito Santo para viver uma
vida nova. A água que se derramou sobre ele no rito do batismo não significa
apenas ablução, purificação. Significa vida, e vida nova. O batismo é um
“renascer”- um nascer de novo: “Quem não renascer pela água e pelo Espírito
Santo, não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5).
Nessa nova vida – convém recordar – não
se introduz alguém de maneira automática, como se fosse por um passe de mágica.
É como uma semente que se recebe para se cultivar. Quem se batiza assume um
compromisso para ser cumprido ao longo de toda a vida. Dia por dia, com
sinceridade, realizando a verdade na caridade -é São Paulo que no-10 ensina –
temos que crescer em tudo, na direção daquele que é a Cabeça, Cristo” (Ef4,15).
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