A TENTAÇÃO DE JESUS NO DESERTO
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No início da Quaresma, a Palavra de Deus nos convida a repensar as nossas
opções de vida e a tomar consciência das "tentações" que nos impedem
de renascer para a vida nova, para a vida de Deus.
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A primeira leitura é do livro do
Deuteronômio. Este livro é um conjunto de discursos de Moisés pronunciados na
planície de Moab. Antes de entrar na Terra Prometida, Moisés lembra ao Povo os
seus compromissos para com Deus e convida os israelitas a renovar a sua aliança
com o Senhor. Para isso, a leitura de hoje nos convida a eliminar os falsos
deuses em quem às vezes apostamos tudo e a fazer de Deus a nossa referência
fundamental. Alerta-nos, na mesma lógica, contra a tentação do orgulho e da
autossuficiência, que nos levam a caminhos de egoísmo, desumanidade, desgraça e
morte.
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O gesto de oferecer os primeiros produtos da terra era acompanhado de uma
"confissão de fé". No fundo, todo este "credo" que
recapitula as antigas intervenções do Senhor em favor do seu Povo (eleição dos
patriarcas, êxodo, dom da terra) tem como objetivo último afirmar e reconhecer
que essa Terra Boa onde Israel construiu a sua existência é um dom de Deus; e
não só a terra, mas tudo o que cresce sobre ela, é produto do amor de Deus em
favor do seu Povo.
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Já a segunda leitura é da Carta de
Paulo aos Romanos (anos 57/58). Uma carta que trabalha o tema da reconciliação
em muitos aspectos, pois haviam algumas dificuldades na convivência dadas as
diferenças sociais, culturais e religiosas. Todos os que agora são novos em
Cristo são convidados a acolher, uns aos outros, como Cristo os tinha acolhido
pelo Batismo (cf. Rm 15,7). Nela também Paulo critica aqueles que são
autossuficientes e desprezam a graça de Deus, como havia acontecido com os
judeus. É preciso acolher a proposta de salvação que Deus faz através de Jesus
e aderir a essa comunidade de irmãos "justificados" pela bondade e
amor de Deus. Assim, o texto escutado hoje nos convida a deixar de lado a
atitude arrogante e autossuficiente em relação à salvação que Deus nos oferece
e aceitá-la como dom. A salvação não é uma conquista nossa, mas um dom gratuito
de Deus. É preciso, pois, "converter-se" a Jesus, isto é,
reconhecê-lo como o "Senhor" e acolher no coração a salvação que, em
Jesus, Deus nos propõe.
- O evangelista Lucas nos mostra que Jesus
está no início de sua atividade pública após ser batizado por João Batista no
Jordão. Com o Espírito Santo, Jesus se põe em missão. No caminho se depara com
propostas contrárias ao Reino de Deus e sua atividade messiânica. O texto de
hoje apresenta uma catequese sobre as opções de Jesus, em três episódios ou
"parábolas". O relato constrói-se em torno de um diálogo em que tanto
o diabo como Jesus cita a Escritura em apoio da sua opinião.
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A primeira "parábola" sugere que Jesus poderia ter optado por um
caminho de facilidade e de riqueza, utilizando a sua divindade para resolver
qualquer necessidade material. No entanto, Jesus sabia que "nem só de pão
vive o homem" e que o caminho do Pai não passa pela acumulação egoísta de
bens. A resposta de Jesus cita Dt 8,3, sugerindo que o seu alimento - a sua
prioridade - é a Palavra do Pai.
- A segunda "parábola" sugere que
Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder, de domínio, de prepotência, ao
jeito dos grandes da terra. No entanto, Jesus sabe que esses esquemas são
diabólicos por isso, citando Dt 6,13, diz que só o Pai é o seu
"absoluto". Não se pode adorar o poder que escraviza e mata. Adorar,
sim, a Deus que salva, cura e liberta o ser humano.
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A terceira "parábola" sugere que Jesus poderia ter construído um
caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espetaculares e
sendo admirado e aclamado pelas multidões. Jesus responde citando Dt 6,16, que
manda "não tentar" o Senhor Deus com aquilo que Ele mesmo nos
oferece: sua bondade, ou seja, não usar dos dons de Deus para fins egoístas e
interesseiros.
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Apresentam-se, portanto, diante de Jesus, dois caminhos. De um lado, está a
proposta do diabo: que Jesus realize o seu papel na história da salvação como
um Messias triunfante. Do outro, está a escolha de Jesus: um caminho de
obediência ao Pai e de serviço aos homens, que elimina qualquer concepção do
messianismo como poder. Jesus, na força do Espírito, escolhe servir o Reino
sendo obediente a Deus Pai. Contudo, sabia que seus desafios para anunciar o
Reino e ser fiel a esta proposta estavam apenas começando.
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Dentro de cada pessoa, existe um impulso de dominar, de ter autoridade, de
prevalecer sobre os outros. Por isso, muitas vezes, os pobres, os débeis e os
humildes têm de suportar atitudes de prepotência, autoritarismo, intolerância e
abuso. O cristão não pode compactuar com o mal cedendo às tentações do diabo.
Todos nós nascemos em Cristo pelo Batismo para sermos instrumentos da salvação
de Deus no meio do povo.
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Uma das tentações frequentes na vida do homem moderno é colocar a sua vida,
esperança e segurança nas mãos dos falsos deuses: dinheiro, poder, êxito social
ou profissional, ciência ou técnica, partidos, líderes e ideologias. Estas
realidades podem ocupar, com frequência, o lugar de Deus na vida de todos nós!
É preciso confiar na presença e força de Deus para resistirmos às tentações.
- Quais são os deuses diante dos quais o mundo
se prostra? Quais são os deuses que, tantas vezes, impedem que Deus ocupe, na
minha vida, o primeiro lugar?
http://diocesedesaomateus.org.br/wp-content/uploads/2021/12/06_03_22.pdf
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