Queremos refletir hoje sobre a parábola do Pai Misericordioso. Ela nos fala de um pai e de seus dois filhos, e nos apresenta a misericórdia infinita de Deus.
Vamos
partir do fim, isto é, da alegria do coração do Pai, que diz: “Façamos festa, porque
este meu filho estava morto e voltou a viver, estava perdido e foi encontrado” (vv.
23-24). Com estas palavras, o pai interrompeu o filho menor no momento em que estava
confessando sua culpa: “Não sou mais digno de ser chamado de teu filho…” (v. 19).
Mas. Esta expressão é insuportável para o coração do pai, que se apressa em restituir
ao filho os sinais de sua dignidade: a bela roupa, o anel, os calçados. Jesus não
descreve um pai ofendido e ressentido, um pai que, por exemplo, diz ao filho: “Você
vai me pagar”: não, o pai o abraça, o espera com amor.
Ao contrário, a única coisa que o pai tem
no coração é que este filho está diante dele são e salvo e isto o faz feliz e faz
festa. O acolhimento do filho que retorna é descrito de maneira comovente: “Quando
ainda estava distante, seu pai o viu, teve compaixão, correu-lhe ao encontro, abraçou-o
e beijou-o” (v. 20). Quanta ternura; viu-o ao longe: o que isso significa? Que o
pai subia continuamente sobre o terraço para observar a estrada e ver se o filho
voltava; aquele filho que tinha aprontado de tudo, mas o pai o aguardava. Que coisa
mais bela a ternura do pai!
A misericórdia do pai é transbordante, incondicional,
e se manifesta ainda antes de o filho falar. Certo, o filho saber que errou e o
reconhece: “Pequei… trata-me com um de teus empregados” (v. 19). Mas estas palavras
se dissolvem diante do perdão do pai. O abraço e o beijo de seu papai os fazem entender
que sempre foi considerado filho, apesar de tudo. É importante este ensinamento
de Jesus: a nossa condição de filhos de Deus é fruto do amor do coração do Pai;
não depende de nossos méritos ou de nossas ações, e portanto ninguém pode tirá-la,
nem mesmo o diabo! Ninguém pode nos tirar esta dignidade.
Esta palavra de Jesus nos encoraja a não
desesperar jamais. Penso nas mães e nos pais apreensivos quando veem os filhos distanciando-se
e tomando caminhos perigosos. Penso nos párocos e catequistas que, às vezes, se
perguntam se o trabalho deles está sendo em vão. Mas penso também em quem está preso,
e lhe parece que a sua vida
tenha terminado; a muitos que fizeram escolhas erradas e não conseguem olhar para
o futuro; a todos aqueles que tem fome de misericórdia e de perdão e creem não merecê-lo…
em qualquer situação da vida, não deve esquecer que não deixarei jamais de ser filho
de um Pai que me ama e espera o meu retorno. Mesmo na situação mais feia da vida,
Deus me espera, Deus quer me abraçar, Deus me espera.
Na parábola há um outro filho, o mais velho;
também ele tem necessidade de descobrir a misericórdia do pai. Ele sempre permaneceu
em casa, mas é tão diferente do pai! As suas palavras carecem de ternura: “‘Eu trabalho
para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua… mas quando chegou
esse teu filho…” (vv. 29-30). Vejamos o desprezo: não diz nunca “pai”, não diz meu
“irmão”, pensa só em si mesmo, se gaba de ter sempre ficado ao lado do pai e tê-lo
servido; apesar de nunca ter vivido com alegria esta proximidade. E agora acusa
o pai de não ter-lhe dado um cabrito para fazer festa. Pobre pai! Um filho que tinha
ido embora, e outro nunca lhe foi próximo de verdade! O sofrimento do pai é como
o sofrimento de Deus, o sofrimento de Jesus quando nos distanciamos ou porque fomos
distante ou porque estamos perto mas sem ser próximos.
O filho mais velho, também ele tem necessidade
de misericórdia. Os justos, aqueles que acreditam ser justos, também tem necessidade
de misericórdia. Este filho representa nós quando nos perguntamos se vale a pena
fadigar tanto se não recebemos nada em troca. Jesus nos recorda que na casa do Pai
não se permanece para ter uma compensação, mas porque tem a dignidade dos filhos
corresponsáveis. Não se trata de “permutar” com Deus, mas de estar no seguimento
de Jesus que deu a si mesmo sobre a cruz sem medida.
“Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o
que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar- nos” (v. 31). Assim diz o Pai
ao filho mais velho. Sua lógica é a da misericórdia! O filho mais novo pensava merecer
um castigo por causa de seus próprios pecados, o filho mais velho esperava uma recompensa
por seus serviços. Os dois irmãos não se falam, vivem histórias diferentes, mas
pensam de acordo com uma lógica diferente da de Jesus: se faz o bem recebe um prêmio,
se faz um mal é punido; esta não é a lógica de Jesus, não o é! Esta lógica é subvertida
pelas palavras do pai: “era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão
estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado” (v. 31). O pai recuperou
o filho perdido, e agora pode também restituir ao seu irmão! Sem o mais novo, também
o filho mais velho deixa de ser um “irmão”. A alegria maior para o pai é ver que
seus filhos se reconhecem irmãos.
Os filhos podem decidir unirem-se à alegria
do pai ou rejeitá-la. Devem se interrogar sobre seus próprios desejos e sobre a
visão que têm da vida. A parábola termina deixando o final suspenso: não sabemos
o que tenha decidido fazer o filho mais velho. E isso é um estímulo para nós. Este
Evangelho nos ensina que todos temos necessidade de entrar na casa do Pai e participar
da sua alegria, da sua festa da misericórdia e da fraternidade. Irmãos e irmãs,
abramos nosso coração, para sermos “misericordiosos como o Pai”!
Com tradução de Canção Nova
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