SANTO
AGOSTINHO E O NATAL
A verdade brotou da terra e a
justiça olhou do alto do céu.
Desperta, ó homem: por tua causa Deus se fez
homem. Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo
resplandecerá (Ef 5,14). Por tua causa, repito, Deus se fez homem.
Estarias morto para sempre, se ele não tivesse
nascido no tempo. Jamais te libertarias da carne do pecado, se ele não tivesse
assumido uma carne semelhante à do pecado. Estarias condenado a uma eterna
miséria, se não fosse a sua misericórdia. Não voltarias à vida, se ele não
tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se ele não te
socorresse. Estarias perdido, se ele não viesse salvar-te.
Celebremos com alegria a vinda da nossa
salvação e redenção. Celebremos este dia de festa, em que o grande e eterno
Dia, gerado pelo Dia grande e eterno, veio a este nosso dia temporal e tão
breve.
Ele se tornou para nós justiça, santificação e
libertação, para que, como está escrito, “quem se gloria, glorie-se no Senhor”
(1Cor 1,30-31).
A verdade brotará da terra (Sl 84,12), o
Cristo que disse: eu sou a verdade (Jo 14,6), nasceu da Virgem. E a justiça
olhou do alto do céu (cf. Sl 84,12), porque o homem, crendo naquele que nasceu,
é justificado não por si mesmo, mas por Deus.
A verdade brotou da terra porque o Verbo se
fez carne (Jo 1,14). E a justiça olhou do alto do céu porque todo o dom
precioso e toda a dádiva perfeita vêm do alto (Tg 1,17).
A verdade brotou da terra, isto é, da carne de
Maria. E a justiça olhou do alto do céu porque o homem não pode receber coisa
alguma, se não lhe for dada do céu (Jo 3,27).
Justificados pela fé, estamos em paz com Deus
(Rm 5,1) porque a justiça e a paz se beijaram (cf. Sl 84,11) por intermédio de
nosso Senhor Jesus Cristo, pois a verdade brotou da terra. Por ele tivemos
acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes e nos gloriamos, na
esperança da glória de Deus (Rm 5,2). Não disse “de nossa glória”, mas da glória
de Deus, porque a justiça não procede de nós, mas olha do alto do céu.
Portanto, quem se gloria não se glorie em si mesmo, mas no Senhor.
Eis por que, quando o Senhor nasceu da Virgem,
os anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa
vontade (Lc 2,14 Vulgata).
Como veio a paz à terra senão por ter a
verdade brotado da terra, isto é, Cristo ter nascido em carne humana? Ele é a
nossa paz: de dois povos fez um só (cf. Ef 2,14), para que fôssemos homens de
boa vontade, unidos uns aos outros pelo suave vínculo da caridade.
Alegremo-nos com esta graça, para que nossa
glória seja o testemunho da nossa consciência, e assim nos gloriaremos, não em
nós mesmos, mas no Senhor. Por isso disse o Salmista: Vós sois a minha glória
que levanta a minha cabeça (Sl 3,4). Na verdade, que graça maior Deus poderia
nos conceder do que, tendo um único Filho, fazê-lo Filho do homem e
reciprocamente fazer os filhos dos homens serem filhos de Deus?
Procurai o mérito, procurai a causa, procurai
a justiça; e vede se encontrais outra coisa que não seja a graça de Deus.
Fonte: Eremita Urbano.
https://meldemoca.blogspot.com/2016/12/sermao-de-natal-santo-agostinho.html
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