REFLEXÃO
DOMINICAL I
COMENTÁRIO DOS TEXTOS
BÍBLICOS
Textos: Isaías 55, 6-9;
Filipenses 1, 20-24.27; Mateus 20, 1-16
Caros irmãos e irmãs
No Evangelho deste Domingo,
Jesus conta aos seus discípulos a parábola dos trabalhadores da vinha. A
parábola fala de um proprietário de vinha que saiu a contratar trabalhadores
para a sua vinha. Saiu logo de manhã cedo e contratou alguns que
encontrou, prometendo dar a eles, no fim do dia, o pagamento de um denário, o
que equivale a uma moeda de prata, que era o salário normal para um dia de
trabalho. Este proprietário saiu novamente na hora terceira e contratou mais
outros que estavam na praça, com a mesma promessa de dar a eles o que fosse
justo. Saiu de nova à hora sexta e à hora nona e contratou mais outros, com a
mesma promessa: pagaria o que fosse justo. Já quase no fim do dia, à
décima primeira hora, que corresponde ao horário das cinco da tarde, saiu e
encontrou outros que estavam ainda na praça sem trabalho, uma vez que ninguém
os convocara, e os mandou também para a sua vinha.
A oração canônica da Igreja,
rezada pelo clero, pelos religiosos e religiosas e por leigos mais integrados
na oração litúrgica, é dividida ao longo do dia em quatro horas: prima,
terça, sexta e noa. Essa divisão é retirada do modo de contar o tempo
usado pelos judeus. À semelhança dos gregos e dos romanos, eles dividiam
o dia, do amanhecer ao entardecer, em doze horas. Mas, na prática, depois
das primeiras horas do dia, falavam apenas em hora terceira, das nove ao
meio-dia; hora sexta, do meio-dia às três da tarde; e hora nona, das três ao
fim da tarde. Jesus se refere a essas horas na parábola que nos conta, em
conformidade com o Evangelista São Mateus.
Os homens que estavam na
praça, aguardavam possíveis convites para trabalho. Na Palestina, a praça
era uma espécie de bolsa de trabalho. Muitos que estavam desempregados
iam muito cedo à praça com suas ferramentas e esperavam até que viesse alguém
para contratá-los. O fato de alguns permanecerem nesse lugar até às cinco da
tarde, demonstra que estavam ansiosos por encontrar alguma ocupação. A jornada
de trabalho naquela época era de 12 horas, iniciava às seis da manhã, e era
concluída às 6 da tarde, não sendo mais possível trabalhar após este horário.
A parábola nos diz que, ao
findar o dia, o patrão mandou o seu administrador efetuar o pagamento aos
trabalhadores, começando pelos últimos. E eles receberam um denário. Depois
vieram os outros, que tinham começado a trabalhar desde cedo. Vendo como tinham
sido pagos os da última hora, ficaram na esperança de receber mais. Porém
receberam apenas o denário que lhes tinha sido prometido. Naturalmente,
reclamaram contra o patrão que pagava o mesmo valor aos que tinham trabalhado
apenas uma hora e a eles que tinham suportado o peso do cansaço e do calor do
dia inteiro.
E vem então a explicação do
proprietário da vinha a um dos que reclamavam: “Meu amigo, não estou
sendo injusto para contigo. Não tínhamos combinado que receberias um
denário? Toma o que é teu e vai em paz. Se eu quero dar a este
último o mesmo que te dei, não tenho o direito de fazer com o meu dinheiro o
que eu quiser? Ou estás vendo de maus olhos o bem que eu estou
fazendo?” (Mt 20,13-15).
A queixa que os primeiros
operários expressam reflete a mentalidade de inveja que normalmente domina o
coração do homem. O invejoso, quando vê alguém feliz, se entristece com a sua
alegria. Mas o patrão, através de Jesus, denuncia a inveja que tal queixa
esconde. O proprietário cumpre a justiça, entregando o que fora estabelecido
com os primeiros: receber o denário habitual de uma jornada de trabalho, mas,
além disso, ele se compadece dos últimos. Se eles recebessem proporcionalmente
aos seus méritos, não receberiam o suficiente para seu sustento e o de suas
famílias. O proprietário é generoso com os últimos sem ser injusto com os
primeiros.
A parábola é dirigida aos
fariseus, povos observantes da lei de Moisés, mas eram pessoas incapazes de
assimilar conceitos como o amor e o perdão, fechavam o caminho de Deus aos
pobres, ignorantes, pecadores, publicanos e marginalizados; e criticavam Jesus
porque acolhia esses pecadores, como fez com Maria Madalena, com o publicano
Zaqueu e muitos outros que encontrou em seu caminho. Assim age Deus:
oferece a todos um espaço em seu Reino de salvação. Este Reino é um dom
oferecido por Deus a todos, sem qualquer exceção.
Cristãos da primeira hora ou
da última hora são filhos amados do mesmo Pai. O dom de Deus destina-se a
todos, por igual. A parábola nos convida a perceber que Deus oferece
gratuitamente a salvação a todos, aos primeiros e aos últimos. Os últimos
são os pecadores que Jesus veio buscar e que, convidados por Ele, entram no
âmbito da misericórdia de Deus. Um ocaso que se pode destacar como um
sinal do amor gratuito do Senhor, como o dos operários da última hora, foi o
Bom Ladrão, que conseguiu acesso ao Reino de Deus no último instante. A ele
Jesus disse: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).
Também muitos outros santos
tiveram este privilégio. É o caso, por exemplo, do próprio São Mateus.
Antes de ser chamado por Jesus, desempenhava ele a profissão de publicano e,
por este motivo, era considerado um pecador público. Mas tudo mudou quando
Jesus disse a ele: “Segue-me” (Mt 9,9). O então publicano, considerado o
último, converteu-se imediatamente em discípulo de Cristo, pregando o evangelho
até o martírio. Ele é, portanto, o exemplo das duas realidades: não só se
converteu, mas também foi o que trabalhou até o fim, ganhando do Senhor a graça
de merecer morrer por sua causa. Também o apóstolo São Paulo experimentou
a alegria de sentir-se chamado pelo Senhor a trabalhar em sua vinha. Mas como
ele mesmo confessa, foi a graça de Deus que atuou nele, essa graça o fez passar
de perseguidor da Igreja a apóstolo dos povos (cf. Fl 1,22).
Esta parábola mostra a
gratuidade e universalidade da salvação porque Deus é bom e generoso.
Este denário oferecido pelo patrão aos seus operários, representa a vida
eterna, dom que Deus reserva para todos.
Chama a nossa atenção nesta
parábola que o dono de uma vinha, precisando de operários, saiu de casa
diversas horas do dia para chamar trabalhadores para a sua vinha (cf. Mt
20,1-16). Não saiu apenas uma vez. Na parábola Jesus diz que ele saiu pelo
menos cinco vezes: ao alvorecer, às nove, ao meio-dia, às três e às cinco da
tarde. Havia tanta necessidade de operários na sua vinha que ele passou
quase todo o tempo em busca de operários. Podemos dizer que este patrão
representa Deus e é Ele que também vem ao nosso encontro e nos convida a
trabalhar na sua vinha. Mas também esta deve ser a nossa missão, sair
incansavelmente ao encontro daqueles que ainda não conhecem a vinha do Senhor.
Cabe também a nós convidar mais pessoas para fazer parte desta vinha.
Peçamos a intercessão da
Virgem Maria, para que saibamos corresponder com dignidade e alegria o convite
do Senhor que a todo momento nos chama a segui-lo; e que possamos estar entre
os bons e fiéis operários da sua vinha. Assim seja.
PARA REFLETIR
Tomemos como norte de nossa
meditação da Palavra que o Senhor nos dirige neste Domingo a leitura primeira desta
Liturgia sagrada, retirada da profecia de Isaías. O profeta convida-nos,
dirigi-nos um apelo para que busquemos o Senhor, o invoquemos, voltemos para
ele. Eis aqui, caríssimos, um grito tão necessário nesses tempos do homem cheio
de si, preocupado consigo, embriagado pelos seus próprios feitos e tão confiado
em suas próprias idéias! O profeta grita-nos, quase que nos prevenindo,
ameaçando-nos: “Buscai o Senhor; invocai-o! Que volte para o Senhor!”
Mas, isso significa ter a
coragem de sair de si mesmo para abraçar os pensamentos e caminhos do Senhor.
Pensem bem, caríssimos, que felicidade, que graça: abraçar os desígnios de
Deus, entrar no seu projeto, viver a sua proposta! Pensem bem: não seria isso a
sabedoria plena, a felicidade verdadeira da humanidade e do mundo? E, no
entanto, isso não é possível sem um doloroso e generoso processo de conversão.
Porque, infelizmente, os pensamentos do Senhor não são os nossos e os nossos
caminhos não são os do Senhor! Que triste desacordo, que desencontro danado! Escutem:
“Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são
como os meus caminhos, diz o Senhor!” Isto não é brincadeira: o homem sozinho
não pensa como Deus, não caminha no caminho de Deus: nem na ONU nem na Casa
Branca nem no Palácio do Planalto nem no Congresso nem mesmo no nosso coração!
Somente a conversão pode nos elevar ao pensamento de Deus e fazer com que
nossos caminhos sejam os dele: “Abandone o ímpio seu caminho e o homem injusto,
suas maquinações; volte para o Senhor!” Voltar para o Senhor! Volte, ó homem do
século XXI, para o Senhor! Deixe sua auto-suficiência, seu cinismo, deixe sua
ilusão de pensar que sabe tudo, que é maduro o bastante para prescindir de
Deus! “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto está
perto; volte para o Senhor, que terá piedade, volte para o nosso Deus, que é
generoso no perdão!”
O Senhor nos procura, como o
dono da vinha do Evangelho de hoje – e procura-nos com insistência: sai de
madrugada à nossa procura, porque o amor tem pressa, o amor anseia encontrar a
pessoa amada. E, como o amor é insistente, o Senhor vem sempre, a cada momento,
em cada ocasião, sempre à nossa procura: pelas nove, ao meio-dia, pelas três… e
até mesmo às cinco da tarde, quando o sol já se esconde, o Senhor vem
novamente! Sempre é tempo de conversão, sempre é tempo de voltar para o Senhor!
Aí, então, experimentaremos que tudo é graça, que o pensamento de Deus para nós
é amor que não é mesquinho, que sabe tratar a todos com generosidade, fazendo primeiro
no seu Reino aquele que tem coragem de crer no amor, de ir ao encontro do
Senhor mesmo que seja a última hora! Ó mundo, ó humanidade, ó cristão, voltai
para o Senhor! A única coisa que vos pede é que acrediteis no seu amor generoso
e no seu perdão abundante e vos convertais de todo o coração!
Converter-se, caríssimos,
significa entrar na maravilhosa experiência que São Paulo testemunha na segunda
leitura de hoje: viver de um modo novo, de um viver diferente: “Para mim, viver
é Cristo! Cristo vai ser glorificado no meu corpo, seja pela minha vida, seja
pela minha morte!” Para que idéia mais bela do que seja a conversão: viver em
Cristo! Notemos os passos do pensamento do Apóstolo. Ele é tão unido a Cristo,
tão apaixonado por ele, que seja na vida seja na morte sabe que está unido ao
seu Senhor e em tudo o Senhor é nele glorificado. Que é a vida para quem voltou
para o Senhor? A vida é Cristo! Que é a morte para quem vive mergulhado no
Senhor? A morte é estar com Cristo e, por isso, é lucro! Por isso, a vida de
Paulo – e a do cristão, com Paulo – é atraída para o seu Senhor: “Tenho o
desejo de partir para estar com Cristo!” Eis por que Paulo vive, eis para que
vive: para estar com Cristo! Aqui, uma observação: prestem atenção que São
Paulo sabe muito bem que assim que morrer vai estar com Cristo. Por isso mesmo
ele diz que isso “para mim, seria de longe o melhor!” Jamais o Apóstolo
compartilharia a afirmação errônea das seitas protestantes, que pensam que os
que morrem em Cristo ficam dormindo. Se ficassem, não seria melhor para Paulo
partir para estar com Cristo; seria melhor continuar vivendo e trabalhando
pelos irmãos. Portanto, nem a vida nem a morte nos podem mais separar do amor
de Cristo. É só voltarmos para o Senhor, é só procurá-lo de todo o coração com
nosso afeto, com nossos atos, com nosso desejo sincero de a ele nos converter
de todo coração!
Caríssimos, buscai o Senhor,
voltai para o Senhor, invocai o Senhor! E, lembrai-vos: ele é tão bom, que se
deixa encontrar! Primeiro nos atrai e, depois, deixa que o encontremos e, como
o senhor da parábola, nos enche de dons, sem levar em conta a hora em que nos
convertemos em trabalhadores da sua vinha. Mas, querem saber qual é a hora da
conversão? Esta, agora! Voltai para o Senhor! Amém.
https://www.icatolica.com/2017/09/homiletica-25-domingo-do-tempo-comum.html
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