REFLEXÃO
DOMINICAL II
DICAS DE HOMILIA - 25º Domingo do Tempo Comum
A Lógica de Deus - Viver à altura do Evangelho - Os Caminhos do Senhor
(Is 55,6-9 / Sl
144 / Fl 1,20c-24.27a / Mt 20,1-16a)
A Lógica de Deus -
Viver à altura do Evangelho - Os Caminhos do Senhor
A Liturgia
da Palavra desse Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum apresenta, de forma
clara, a necessidade que tem o cristão de aprender a conhecer os caminhos de
Deus e fazer deles os seus próprios caminhos, vivendo como verdadeiros
discípulos missionários de Cristo. Algo que é apresentado no Evangelho, que
retrata a lógica de Deus, baseada na sua liberdade e amor, diversa da lógica
dominante que se baseia na justiça distributiva. Para compreender tal proposta
divina é necessário assumir como caminho de vida, o que o apóstolo Paulo fala
de si mesmo ao afirmar: viver à altura do Evangelho (Fl 1,27).
O texto da Primeira Leitura relata o retorno dos filhos de Israel do Exílio e
de como o profeta percebe que deveria se dar a reconstrução de Israel. Em suas
palavras fica claro que os exilados deveriam buscar os caminhos do Senhor,
abandonando os próprios caminhos e estradas, a fim de abraçarem a lógica de
Deus: "Estão os meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus
pensamentos acima dos vossos pensamentos". Tal afirmação deve ser
compreendida na proposta de uma nova lógica baseada nos critérios divinos e não
naqueles humanos, que nascem no horizonte limitado da humanidade.
No caso de Israel, que deveria
reconstruir o seu país, significava dar crédito à lógica divina, isto é,
abrir-se ao novo de Deus. De fato, depois da tragédia do Exílio, Israel deveria
ter sido capaz de compreender que os caminhos do Senhor são diversos daqueles
dos homens. De modo a poder retornar à terra prometida imbuídos de um novo
espírito e do desejo de comunhão com os outros povos. Realizando assim a sua
vocação de ser, para todas as nações, uma luz da graça divina, como proposto
pelo próprio Senhor (Is 49,6). Desse modo, procurar os caminhos do Senhor é
como um refrão que se encontra em toda a Sagrada Escritura, expressão do desejo
de Deus para todo aquele que o deseja seguir e realizar a sua vontade. Sendo
assim, o discípulo de Cristo, abraça o caminho do Senhor como seu, fazendo de
sua estrada o percurso para a vida inteira, à exemplo do que propõe o profeta
Isaías na Primeira Leitura.
O Evangelho desse domingo traz uma
parábola contada por Jesus aos seus discípulos, ela é introduzida pelo texto
anterior que não aparece no texto litúrgico. Nele, Pedro em nome de todos os
discípulos, se dirige a Jesus e afirma ter deixado tudo para segui-Lo, o que
provoca no Senhor a resposta clara: "Muitos dos primeiros serão os últimos
e muitos dos últimos serão os primeiros". Tal resposta pode parecer sem
sentido no contexto da pergunta, mas, ela se refere a uma provável difícil
situação encontrada na comunidade de Mateus, isto é: dois grupos de cristãos
que se disputavam o primado do chamado de Jesus. Não é difícil reconhecer que
um grupo era formado por cristãos vindos do judaísmo, que foram chamados ao
seguimento primeiro, como filhos mais velhos da comunidade cristã, nascidos na
Aliança de Deus com os seus e em seu amor de Pai. Um grupo não somente
numeroso, mas, também forte e influente na comunidade, unido pelas tradições
que traziam de sua experiência no judaísmo. O segundo grupo, não menos amado
por Deus, era composto por aqueles que não eram reconhecidos pelo primeiro
grupo, isto é: pecadores públicos, prostitutas, publicanos, ou seja,
pagãos que não pertenciam ao povo eleito.
Nesse difícil convívio dentro da
comunidade, na qual se encontravam aqueles que se sentiam filhos privilegiados
e os que vieram depois como de segunda classe, nasceram alguns conflitos. Neste
caso, a parábola vem revelar a lógica de Deus, baseada em seu amor gratuito e
livre, fonte de bênçãos para uns e para os outros. O texto da parábola é claro
e deixa margem para a presença de uma lógica distributiva, que é a dominante,
segundo a qual, os que trabalharam mais, deveriam receber mais que os outros
que trabalharam menos. De fato, seguindo a maneira de pensar vigente, aqueles que
enfrentaram o calor do dia inteiro, trabalharam desde a manhã até o final do
dia, deveriam, em tese receber mais do que os que pouco, ou até mesmo nada
fizeram. Aqueles que foram contratados no final do dia, provavelmente, seguindo
a parábola, nem sequer conseguiram chegar ao local de trabalho, visto que, o
dia já findava. Desse modo, a parábola coloca em questão a lógica distributiva,
segundo a qual, os que estiveram o dia inteiro no trabalho árduo, esperavam
receber muito mais do que os que pouco ou nada fizeram. O espanto é geral,
muito provavelmente, até por parte dos que receberam muito, sem terem
trabalhado tanto. Todavia, ao pagar o mesmo para todos o patrão revela a lógica
de Deus, que é baseada em seu amor livre e gratuito, cheio de compaixão e largo
no perdão e na acolhida.
O amor vence toda a meritocracia, ou
seja, é oferecido a todos em igual medida e sem reservas, pois, diante de Deus
que escolheu e salvou a todos, não existem grandes ou pequenos, fortes ou
frágeis, primeiros ou últimos. A escolha de Deus e o seu chamado são frutos de
seu amor livre e gratuito, que extrapolam a lógica do mundo, marcado pela
exclusão e pela escolha de uns em relação aos outros. Escolher viver segundo a
lógica de Deus, significa abolir as diferenças e os primeiros lugares, perceber
que, por vezes, as ações cotidianas são marcadas por valores que se afastam da
gratuidade e da liberdade. Todos são acolhidos diante de Deus, não importa
quando chegaram e nem mesmo de onde vieram, pois a todos, em Cristo, o Pai se
apresenta como sendo misericordioso e compassivo, cheio de amor e gratuidade.
A compreensão da lógica apresentada na
parábola do texto evangélico pode ser auxiliada pela proposta do apóstolo Paulo
apresentada na Segunda Leitura, isto é: Viver à altura do Evangelho. Em muitos
escritos paulinos, encontra-se a palavra Evangelho, a ponto que, muitos autores
e estudiosos chegaram a pensar e propor que ela teria sido inventada pelo
próprio apóstolo, visto a quantidade que ele a utiliza. Todavia, mais do que
saber se a palavra é de fato dele, faz-se importante reconhecer qual o seu
conteúdo, a que ele se refere ao utilizá-la. De fato, ao utilizar a palavra
Evangelho, Paulo não se referia aos Evangelhos conhecidos, visto que eles
teriam sido, em sua maioria, escritos depois das cartas paulinas. Nesse caso,
ele mesmo indica a que se refere ao utilizar a palavra, isto é, o Evangelho tem
um conteúdo e esse se refere a Cristo morto pelos pecados e ressuscitado pela
salvação da humanidade. Sendo assim, ao afirmar na segunda leitura que:
"só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho de Cristo", ele
aponta um caminho de seguimento do Senhor para todos os cristãos.
O próprio Paulo, na Segunda Leitura, afirma já viver em
Cristo, algo que ele repete em muitas de suas cartas, isto é, a sua vida
cotidiana foi marcada pela presença, pelos sentimentos e pelas escolhas de
Cristo. Desse modo, ao afirmar que somente uma coisa importa, isto é, viver á
altura do Evangelho, ele apresenta a si mesmo como modelo aos irmãos e irmãs
que desejam seguir o Senhor no caminho do discipulado missionário. Paulo
abandonou a lógica das relações distributivas ao abraçar Cristo, ou seja,
deixou para traz as glórias que carregava como judeu, cumpridor da Lei e
perseguidor dos cristãos, para reconhecer o valor de Cristo e por Ele tudo
abandonar. Nessa dinâmica de vida, ele encontrou a gratuidade de Deus, seu amor
sem limites e a salvação, foi mergulhado na vida divina e abraçou o seguimento
de Cristo até a sua morte. Por isso, viver à altura do Evangelho significa
seguir Cristo, deixar-se moldar por Ele, segundo os seus valores e opções. Um
chamado que impõe escolher e assumir um novo modo de pensar e agir, por isso,
abraçar uma nova lógica nas relações cotidianas. Aquele que deseja viver à
altura do Evangelho, não somente segue o Senhor, mas deixa-se transformar por
sua Palavra e pela ação do seu Espírito. Reconhece também a necessidade de
rever os valores que professa e pelos quais direciona a própria vida, para
abraçar os valores verdadeiros do Evangelho. Sendo assim, não compactua com a
violência, com a miséria e a exclusão, mas faz da própria vida um sinal de
Deus, por meio da partilha, do serviço solidário e do comprometimento na
construção de uma sociedade mais fraterna, justa e solidária.
Que a Liturgia da Palavra desse
Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum provoque nos corações a necessidade de
que cada um reveja os seus próprios caminhos. No intuito de que, iluminados
pela liturgia da Palavra, desejam abraçar os caminhos do Senhor, que propõe a
todos uma nova lógica, baseada no seu amor gratuito e livre. A fim de que,
todos se sintam chamados a viver à altura do Evangelho, por meio das atitudes
cotidianas, segundo as escolhas de Cristo, à exemplo de Paulo. Capazes de
afirmar todos os dias da vida: "Viver para mim é Cristo".
Pe. Andherson
Franklin Lustoza de Souza
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