REFLEXÃO
DOMINICAL II
"OS DOIS FILHOS"
Há uma música muito bonita chamada Filho Adotivo, onde o filho
adotado atende e assiste o pai, na hora de suas necessidades, fazendo aquilo
que competia aos filhos legítimos que não o fizeram, ou seja, sempre é de se
esperar, que o adotado nem sempre corresponda ao amor do pai, agindo com
sentimento de gratidão. Mateus escreve para as comunidades de origem judaica e
sempre que aparece em seu evangelho dois personagens diferentes, aquele que
posa de “bom moço”, mas que no fundo é enganado, são pessoas que pertencem ao
judaísmo, a reflexão segue nessa linha, se Mateus escrevesse a história do
Filho adotivo, certamente ele seria alguém de fora da comunidade e não o
contrário. O desejo de Deus é que todos os homens se salvem. O seu projeto de
vida nunca exclui ninguém, mas é necessário que através de uma fé encarnada na
vida e na história, o homem lhe dê uma resposta autêntica, pois em um primeiro
momento, essa relação com Deus foi marcada por uma ruptura, porque o homem
optou em dizer não, quando pecou, ao querer ser conhecedor do Bem e do Mal,
quando manifestou a vontade de fazer a sua própria história, sem se importar
com o que Deus pensava a respeito.
Israel é a nação escolhida, a raça eleita, a quem Deus convida a
caminhar junto com ele, quando chama Abraão, o Pai da Fé, confirma o chamado e
a aliança em Isac e Jacó, manifesta a força libertadora do seu amor através de
Moisés, o amado toma as dores da amada, humilhada, agredida, oprimida pelo
Egito, e depois, com o passar do tempo, manda recados de amor através dos
profetas, para que o povo não perdesse o rumo e a direção.Deus nunca escondeu o
seu projeto, ao contrário, foi se revelando aos homens que abriram a ele o
coração e a vida, havia um trabalho a ser feito, algo a ser plantado, um reino
novo com novos horizontes de uma vida nova, é como na relação de um casal de
esposos, o amor deve ser vivenciado em gestos concretos, Israel é na verdade
esse segundo Filho, que aceitou com entusiasmo ser o seu povo, o escolhido, o
amado, o predileto, “Eu serei o seu Deus, e Vós sereis o meu povo” – Mas logo
esse sistema religioso, centrado na aliança, e que exigia fidelidade diante de
um Deus que ama e que caminha junto, se tornou um mero formalismo, perdendo
toda graça e o encanto.
Hoje há muitas igrejas cristãs onde se diz SIM, na base do
entusiasmo, da euforia, de uma conversão milagrosa, ocorrida da noite para o
dia, por conta de algum prodígio, o SIM se torna fórmula mágica, quando no modo
de se viver a religião, nada se perde, mas tudo se ganha. O que importa é
participar do rito, sentir-se protegido por Deus, na religião do SIM da
euforia, sem raiz, sem maturidade, o homem pode determinar e Deus cumpre, na
religião do SIM formal, sem exigência e compromisso com a ética, moral, a
liberdade, o respeito à vida e a busca da justiça, o que vale é o SEJA FEITO Á
NOSSA VONTADE, é o homem poder tirar vantagem dessa “pseuda” relação com Deus,
por trás de uma instituição religiosa. Israel, o Povo da Promessa e da Aliança,
enveredou por este caminho, da religião dos detalhes, das formalidades, dos
ritos purificatórios, dos preceitos, e quando se faz o rito pelo rito, o coração
vai perdendo a esperança, a crença, sem compromisso com o chão da história, vai
se tornando monótona, vazia, sem sentido. Deus é nosso, a salvação é nossa, a
Vida Eterna é nossa, e o Espírito Santo vai e vem, conforme nossas ordens. Não
seria esse o modo de pensar do fenômeno religioso da modernidade? Eis o grande
perigo para nossa vida de fé na comunidade: Dizer um SIM a Deus, ao seu projeto
de Vida, mas ter o coração distante, frio, algo como que um casamento apenas no
papel, ou o casamento da aparência, onde marido e mulher dormem em quartos ou
camas separadas, porque não se suportam. Essa religião é coisa do Homem!
Já o primeiro Filho, aquele que disse NÃO, acabou mudando de
idéia e foi trabalhar na Vinha do Pai, porque descobriu que a relação com ele,
não se fundamenta no formalismo, no contratual ou na obrigatoriedade, no
meramente ritual, mas sim no amor, que quer celebrar a vida, onde o rito de
gestos e palavras, nada mais é do que a expressão dessa gratidão, que irrompe
do fundo da alma humana, e sobe a Deus em oferta agradável. Este Filho
descobriu todo um projeto de vida, onde a vocação para o amor, faz dele alguém
especial, que tem nos mandamentos do Senhor, não preceitos moralistas marcados
pelo rigorismo e pela ameaça de um castigo, mas sim uma sinalização segura, a
conduzir o homem no rumo certo, dos braços de Deus, que o espera com alegria,
como o Pai esperou pelo Filho Pródigo em sua casa. Nesse sentido, nós cristãos
atuantes e membros da Igreja, precisamos tomar cuidado, pois todos aqueles que
rotulamos como Filhos perdidos e ovelhas desgarradas, poderão nos preceder no
coração de Deus, se continuarmos pensando que o mundo se divide entre bons e
maus, entre santos e pecadores, entre justos e injustos, e que nós, estamos
sempre do lado dos bons, só porque um dia dissemos SIM...
“A FÉ SEM OBRAS É
MORTA!”
José da Cruz é Diácono
da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0346.htm#msg01
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