IX-
REFLEXÃO DOMINICALIII
Alegria da misericórdia
Ao ler mais uma vez a parábola do filho pródigo, eu pensava que
é verdadeiramente justa a ira de Deus para com os pecadores e que é mais fácil
entender a justiça que a misericórdia. Que o leitor não se escandalize com este
padre! Vou tentar me explicar. Você assistiu ao filme “Sequestro do metrô 123”?
É um filme de ação dirigido por Tony Scott: quatro homens sequestram um metrô e
um deles à cabeça vai negociando com as autoridades uma quantidade de dinheiro
bastante considerável para não continuar matando os reféns. O sequestrador
principal, que parece um autêntico psicopata e sem dúvida um desequilibrado
mental, ao negociar por telefone encontra num dos controladores do metrô uma
pessoa simpática com quem conversar. Neste diálogo há um momento em que o
sequestrador de alguma maneira acaba professando-se católico. Nesse
interessante diálogo, o controlador, do outro lado da linha, lhe diz que um
católico não pode matar, muito menos a pessoas inocentes como aquelas que
estavam no metrô, seus reféns. O sequestrador lhe diz uma frase rotunda, mas
verdadeira: “o que o católico sabe é que ninguém é inocente”.
Excetuando Jesus e Nossa Senhora, ninguém é inocente! Por outro
lado, é lógico: ao culpado se aplica uma pena! Isso não é muito difícil de
entender. Outro exemplo: já pensou se um dia, num determinado momento, os
órgãos da justiça e os policiais, num arrebato de misericórdia, resolvessem
soltar todos os presos, muito deles ladrões e assassinos? Tenho certeza que a
outra parte da sociedade se levantaria indignada entre protestos e diria que a
justiça ficou louca. Produzir-se-ia um medo geral e nem quereríamos sair às
ruas. Ficaríamos com a sensação de que a qualquer momento alguém poderia
roubar-nos ou matar-nos. Não é muito mais fácil compreender que os presos
fiquem na cadeia pagando o que devem? Efetivamente, a justiça é mais
compreensível que a misericórdia!
O capítulo quinze do Evangelho segundo São Lucas contêm três
parábolas chamadas “da misericórdia”: a ovelha perdida, a moeda perdida e o
filho perdido. Tudo perdido! Mas, se invertemos o quadro temos o bom pastor que
busca a ovelha, a boa mulher que busca a sua moeda e o bom pai que espera e ama
o seu filho pródigo. Tanto o pastor quanto a mulher têm umas atitudes que não
são nada comuns, o mesmo diga-se do pai do filho pródigo. Nem naqueles tempos
nem hoje em dia se atuaria dessa maneira! Pense comigo: se você fosse um pastor
e tivesse cem ovelhas, delas perdesse somente uma, será que deixaria as noventa
nove sozinhas, com perigo de perderem-se, para procurar somente aquela
desgarrada? Será que é lógico deixar noventa e nove ovelhas sozinhas e procurar
somente uma? Eu pelo menos deixaria a pobre ovelha pra lá, não correria o risco
de perder noventa e nove ovelhinhas por causa de uma ovelha boba. E se você
tivesse dez moedas e perdesse uma, faria como aquela mulher da parábola:
acenderia a luz, varreria a casa colocando-a quase de cabeça para baixo para
encontrar a única moedinha perdida? Como se não bastasse: convidaria os amigos
para dar uma notícia tão efêmera como essa do encontro de uma mísera moeda? Eu
pelo menos não atuaria assim!
Por último, no texto do Evangelho de hoje aparece um filho que
pede a parte da herança, gasta com prostitutas e depois se apresenta ao seu pai
como culpado. O pai, ao encontrá-lo, o festeja, o presenteia e faz uma festa
para ele… Esse pai está louco! No fundo, dá vontade de ver esse filho malandro
levar uma boa surra do pai. Não sei se você estará de acordo comigo, querido
leitor, mas não é difícil entender que um bom pai corrija com fortaleza um erro
cometido por um filho seu. Realmente, é mais compreensível que uma só ovelha se
perca que correr o risco de perder as noventa e nove; é mais lógico deixar uma
moeda pra lá que revirar a casa por uma só moedinha e depois – e isso é o cúmulo
– convidar os amigos, fazer uma festa e gastar mais do que vale a moeda
encontrada; é mais fácil entender que o pai desse uma bronca naquele filho
sem-vergonha. Enfim, é mais fácil compreender a justiça que a misericórdia!
No entanto, a lógica do Evangelho é outra! Sem contrapor a
justiça à misericórdia, a parábola nos apresenta um pai que não é o comum dos
pais desta terra, mas o pai só pode ser Deus. Alguma vez escutei e disse aquela
frase de que “Deus perdoa tudo, o homem perdoa muitas vezes e a natureza não
perdoa nunca”. Hoje eu gostaria de defender a primeira parte: Deus perdoa tudo!
Isso sim é motivo de grande alegria! Ele é o nosso Pai, cheio de amor para
conosco. Nós, culpados e pecadores, cheios de boas intenções e, também, cheios
de intenções torcidas e más ações, somos os queridos de Deus. Já está
justificada a nossa alegria para todo o dia de hoje: Deus é Pai! Eu sou seu
filho! Deus é muito bom e os sacerdotes no Sacramento da Penitência têm o
Coração de Deus e, por isso, compreendem sempre. Não tenha medo e vá se
confessar!
Pe. Françoá Rodrigues
Figueiredo Costa
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0156.htm#msg02
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