O que se sabe de Eva e qual o nome de
Deus?
5
pontos revistos da Bíblia Réplica de manuscrito de 2.000 anos contendo os
"Dez Mandamentos" em exibição no Museu de Israel, em Jerusalém
Franceli Stefani
Escrita há cerca de
4.000 anos, a Bíblia continua sendo um livro que gera fascínio e debates
independentemente do seu caráter religioso. Existem muitas interpretações para
o texto, que foi elaborado ao longo de mil anos e reuniu diferentes obras.
Calcula-se que o livro sagrado de muitos começou a ser escrito pelos hebreus
entre os séculos 10 e 9 a.C., após o reinado de Davi. Ao longo dos anos,
pesquisadores e historiadores se debruçaram para entender os escritos e o que
se percebe é que a interpretação pode mudar conforme a cultura, a crença ou a
bagagem cultural de cada pessoa. Por isso, os especialistas costumam dizer que
não há erros no livro original, apenas divergências na transmissão dos dados de
um manuscrito para outro. Copistas e escribas podem não ter entendido o que
estava detalhado ou, ainda, traduzindo o hebraico de forma equivocada.
Mas existem cinco
pontos especialmente polêmicos. Confira: Bíblia não fala sobre Deus O escritor
Mauro Biglino, que traduziu durante anos os escritos originais da Bíblia, diz
que o livro não fala sobre Deus. Ele foi responsável pela versão em italiano
feita pela Sociedade de São Paulo, congregação fundada em 1914 pelo beato
Giacomo Alberione. Trinta anos depois de ter começado o seu trabalho, ele
publicou "A Bíblia não é um Livro Sagrado" (Livros Horizonte), no
qual defende que a "Bíblia não é aquilo que habitualmente se diz. Conta
uma outra história, não se ocupa de Deus". Segundo ele, a questão é
apontada por outros profissionais, que não têm coragem para falar oficialmente
sobre isso.
Ele foi desligado
após a publicação, mas passou a divulgar traduções literais de vários textos
bíblicos, que foram usados por historiadores para identificar imprecisões. Mas
Biblino não nega a existência de Deus, só enfatiza que não há nada de concreto
escrito no livro sagrado e critica a forma como a Bíblia foi traduzida
oficialmente.
Tábua amaldiçoada
Uma tábua de chumbo
foi encontrada por um grupo de arqueólogos em Monte Ebal, uma das duas
montanhas do norte da Cisjordânia, próxima da cidade bíblica de Siquém,
atualmente Nablus.
Ela está sendo
chamada de "amaldiçoada" e pode dar pistas sobre o verdadeiro nome de
Deus, quando a Bíblia foi escrita e quem foram os responsáveis pela criação do
livro mais famoso do mundo.
O arqueólogo Scott
Stripling anunciou em uma coletiva de imprensa, em março deste ano, que
descobriu no interior da tábua um texto hebraico proto-alfabético, na forma de
um quiástico (palavras ou frases organizados de forma cruzada) indicando o que
acredita ser o nome de Deus (YHWH) e um aviso de que o leitor dos escritos
morrerá devido a uma maldição.
Se a datação estiver
correta, o objeto pode ser o primeiro registro do nome de Deus, assim como
também pode indicar que os israelitas eram alfabetizados quando entraram na Terra
Santa e foram capazes de documentar os eventos ocorridos nos tempos bíblicos,
mas ainda é preciso avançar nessas investigações.
Para o arqueólogo, a
descoberta pode dar um grande passo no limitado conhecimento que temos das
histórias bíblicas e trazer diferentes pontos de vista sobre essas narrativas.
Até agora, muitos estudiosos acreditavam que a Bíblia foi escrita centenas de
anos após a datação estimada para o texto recém-descoberto.
A divisão do Mar Vermelho
Um trecho famoso da
Bíblia é quando Moisés brada seu cajado e estende sua mão sobre o mar Vermelho,
vendo seu povo hebreu sitiado pelo exército de Ramsés 2º. O vento oriental
conduzido por Deus divide as águas e abre-se uma passagem em terra seca. O
milagre já foi contestado pelo professor Carl Drews, do Departamento de Ciência
Atmosférica e Oceânica da Universidade do Colorado, no livro "Between
Migdol and the Sea" (na tradução livre: Entre Migdol e o Mar: cruzando o
mar Vermelho com fé e ciência) e na revista científica Plos One, em artigo de 2010,
em parceria com Weiqing Han. Segundo ele, o movimento descrito pela Bíblia não
é um milagre, mas um efeito atmosférico. Ventos fortes vindos do leste,
soprando durante toda a madrugada, teriam empurrado a água e feito surgir uma
passagem, que permitiu que as pessoas atravessassem o local com segurança.
Ele trouxe uma série
de evidências históricas e científicas sobre aquilo que está descrito no Êxodo.
Livros apócrifos questionam Eva
O estudo dos
evangelhos apócrifos (que não se tornaram oficiais) é uma disciplina popular. O
Novo Testamento já dizia que o Antigo Testamento não era um produto acabado na
época do Segundo Templo (500 a.C. - 70 d.C.). Haveria outros livros, segundo a
literatura apócrifa judaica. O apóstolo Paulo cita duas vezes um livro conhecido
como "A Vida de Adão e Eva" em sua segunda carta aos Coríntios, por
exemplo, e o Evangelho de Mateus fala de uma profecia escrita, desconhecida até
hoje, de que o messias seria chamado de Nazareno. O livro do escritor mexicano
Gustavo Vazquez-Lozano, intitulado "Os Apócrifos Da Bíblia", revela
documentos que falam sobre a vida ou as declarações de Jesus que não se
tornaram parte do livro sagrado.
Uma das histórias
mais enigmáticas e populares derivadas dos apócrifos judaicos é que Eva não foi
a primeira mulher criada por Deus. Seu nome é mencionado apenas uma vez no
livro de Isaías, mas o profeta cobre a lenda com um véu de silêncio.
Mesmo hoje em dia,
nem todos os ramos da igreja cristã concordam sobre quais escritos devem ser
considerados "canônicos" e quais são "apócrifos'', embora alguns
textos apócrifos frequentemente tenham vínculos notáveis com livros
considerados "canônicos".
As contradições do "escrito à mão"
Não é de hoje que contradições são apontadas
por estudiosos da Bíblia. Desde o Iluminismo, no século 17, há apontamentos de
que o livro sagrado tenha equívocos doutrinários, desde discrepâncias com
relação a nomes, até erros científicos — em grande parte decorrentes de textos
copiados à mão. Os manuscritos que falam, por exemplo, que Davi tomou 700
cavaleiros de Hadadeze, mas há versões que falam de um número
significativamente maior, de 1.700 (2Sm 8:4) ou 7.000 (1Cr 18:3, 4). O som
entre esses dados, conforme especialistas, é muito semelhante em hebraico, o
que pode ter auxiliado na confusão. Enquanto um escriba ditava o texto para
outro, o erro acontecia, sem haver checagem do que era repassado. São detalhes
periféricos que dão margem para que outros surjam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário