REFLEXÃO DOMINICAL II
NOSSO
CONFRONTO COM O MAL
No Evangelho deste
domingo há uma expressão de Jesus que precisa ser bem compreendida. Jesus está
a caminho de Jerusalém, onde o espera a paixão e a morte. Nesse contexto
pergunta aos Apóstolos: Julgais que Eu vim estabelecer a paz na terra? No
entanto, sabemos que Jesus pregou sempre o perdão, a reconciliação e transmitiu
continuamente seu desejo de paz. Por isso, estranham essas palavras: Vim trazer
a divisão. Precisamos lembrar que Jesus fala em um sentido espiritual: assim a
paz que Jesus nos traz é fruto de uma luta constante contra o mal. O confronto
não é combater outras pessoas, mas contra o inimigo de Deus e nosso, o demônio.
A ação do diabo é precisamente fomentar a desunião, a divisão, a separação
entre as pessoas. E, na medida em que nos dividimos entre nós, nos separamos
também de Deus. Jesus está esperando que nós estejamos firmes em nossa união
com Deus e que estejamos dispostos a romper com tudo o que possa nos separar do
amor de Deus e do amor ao nosso próximo. Tal como vemos o sofrimento do profeta
Jeremias, por vezes, acontece que alguém passa por um processo de conversão e,
como consequência, decide deixar aqueles comportamentos e atitudes
incompatíveis com a vida de um verdadeiro cristão, de um filho de Deus. Uma
pessoa que, por exemplo, decide ser honesta nos negócios e, para isso, se
afasta de condutas antiéticas, pode acabar sofrendo incompreensões e, até
mesmo, verdadeiras perseguições. Isso não nos deveria surpreender, porque Jesus
Cristo sofreu precisamente por falar a verdade – confirmou ser o Filho de Deus
diante dos sumos sacerdotes, e, por isso, foi condenado à morte – e, na vida
dos Apóstolos e dos primeiros cristãos, todos tiveram que sofrer incompreensões
e hostilidades pelo simples fato de serem pessoas coerentes. Assim, quem
desejar seguir Jesus e comprometer-se sem hesitações com a verdade, encontrará
oposições e se tornará, infelizmente, sinal de divisão entre as pessoas, até no
interior das suas próprias famílias. O amor aos pais é um mandamento sagrado,
mas, para ser vivido de modo autêntico, nunca pode ser anteposto ao amor de
Deus. Além disso, o Evangelho traz outra expressão de Jesus: Vim trazer fogo à terra,
e que quero senão que arda? O fogo é sinal do amor ardente de Deus por todos os
homens. Jesus revela os seus profundos sentimentos de amor, de desejo de
entregar a sua vida para a salvação de todos. Jesus enviou o Espírito Santo em
Pentecostes, com o sinal esplendoroso do fogo, das chamas que ardiam e se
colocaram sobre a cabeça de cada um dos discípulos, homens e mulheres, que se
encontravam reunidos. Eles se inflamaram com o fogo divino e começaram a
proclamar as maravilhas de Deus. Esse continua sendo o desejo de Deus: que
todos e cada um de nós nos tornemos discípulos missionários de Jesus: que
sempre estejamos dispostos a aprender, como bons discípulos, e sejamos
verdadeiros apóstolos nos lugares em que Deus nos colocou; que saibamos falar
de Deus e da nossa fé cristã, com alegria e convicção e que sejamos difusores
desse fogo de amor, para incendiar outros corações e aproximar as pessoas de
Deus, da Igreja, dos Sacramentos. Os cristãos deveríamos levar mais a sério o
empenho em propagar esse incêndio de amor.
Dom Carlos Lema Garcia Bispo Auxiliar de São Paulo
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