REFLEXÃO
DOMINICAL I
"A LOUCURA DA CRUZ"
Domingo
à tarde, um sol de lascar! Clima propício para uma praia ou piscina, ou
deitar-se em uma rede na varanda e ficar de “papo pro ar” até o anoitecer.
Tenho uma amiga que pode fazer isso e eu até a invejo, entretanto, em algumas
tardes de domingo, ela se reúne com uma galera da faculdade, para visitar
asilos e orfanatos, levam alimentos que arrecadam junto a comunidade, formaram
um conjunto musical, ela mesma toca sanfona e dá até gosto quando vão ao asilo
e fazem os velhinhos e velhinhas rodopiarem pelo salão, no baile que vai até a
tardezinha.
É
um grupo que não pertence a nenhuma igreja em particular, e o irmão mais velho
dessa minha amiga, comenta que a irmã é maluca, pois após uma semana de
exaustivo estudo e trabalho nada mais justo do que relaxar no domingo,
usufruindo das propriedades que tem: uma bela chácara e ainda uma casa na
praia. Minha amiga talvez não sabe, mas ela está no caminho certo do
discipulado. Carregar a cruz e renunciar-se a si mesmo – é ser capaz de ir
além, em um amor sem medidas.
Qualquer
cristão que trabalhe e estude a semana inteira e que no domingo vai à missa, a
tarde, com todo direito e razão, conforme a lógica humana, irá descansar, em
alguma atividade de lazer ou esporte. A renúncia proposta por Jesus vai nesse
sentido: ultrapassar os limites da normalidade renunciando algo que é de
direito. Nos evangelhos há muitas exortações de Jesus, que vão nesse sentido,
“Se alguém lhe roubar a túnica, dá-lhe também a capa”, “Se alguém lhe
obrigar a andar cinquenta passos, anda com ele outros cem” e o mais difícil de
todos “Amai os vossos inimigos, rezai por eles e abençoai-os e não os
amaldiçoeis”.
Poderíamos
dizer que ser cristão, é estar acima da média, na relação com o próximo, pois
quem permanece na mediocridade do estritamente necessário, não pode dizer que é
discípulo.
Talvez
um outro exemplo que poderá nos ajudar a compreender melhor o altruísmo da
cruz, seja um atleta olímpico, que tem sempre como meta quebrar até o próprio
recorde: qual atleta que vai deixar seu país, indo para as Olimpíadas
pretendendo uma classificação bem modesta? Atleta que pensa dessa maneira,
dificilmente irá algum dia ao podium. Cristão que não se doa, não se entrega, e
que não é capaz de carregar as pequenas cruzes do dia a dia, não pode
atribuir-se o título de discípulo.
O
amor humano é limitado e finito, pode até se acabar um dia, mas o amor Cristão
não tem limites e nem medidas, vai sempre além, São Francisco de Assis poderia
até ser Santo, sem precisar fazer o que fez, despojar-se de tudo que tinha e
era seu por direito, até mesmo a roupa do corpo. O próprio Deus, para salvar a
humanidade, não poupou nem o seu Filho querido, e diante disso, a mesquinhez
humana questiona: será que precisava tanto?
A
parábola do Bom Samaritano não deixa nenhuma dúvida a esse respeito, o
Samaritano não apenas parou, para ver o que estava acontecendo com o homem
caído à beira da estrada, mas foi muito além, cuidando das suas feridas,
colocou-o no próprio animal, transportou para a Hospedaria mais próxima e não
contente, pediu ao Hospedeiro que cuidasse dele, que na volta pagaria todas as
despesas.
Nesse
sentido, o discípulo é como um atleta olímpico, que ao cumprir a lei do amor,
quebra todos os recordes. Claro que a modernidade se opõe a esse modo de
pensar, até se ensina em algumas culturas para que a pessoa pratique o bem, mas
há um limite. Poderíamos dizer que aí está a grande diferença entre o
pensamento dos homens, que coloca um limite para o amor, e o pensamento de
Deus, que rompe todos os limites, vivendo o amor ágape.
O
apóstolo Pedro se opõe a esse modo de pensar e agir de Jesus, para ele, a ação
messiânica de Jesus não precisa passar por tão grande sacrifício, pois não é
essa a vontade de Deus. É por causa dessa última afirmação que Pedro é chamado
de Satanás por Jesus, que significa aquele que é contra o projeto de Deus, que
criou o homem e o chamou para viver a vocação do amor em toda sua plenitude,
Deus não é um masoquista que gosta de ficar vendo o homem sofrer, o sofrimento
é conseqüência da rejeição, que no tempo de Jesus, e na modernidade, o homem
manifesta, recusando-se a viver aquilo que é essencial para quem quiser ser
discípulo e merecer o nome de Cristão.
A
recusa e rejeição ocorrem porque uma vida assim, de entrega total pela causa do
reino, implica em uma grande perda, exatamente como pensa o irmão da minha
amiga, que aos olhos do mundo PERDE seu precioso tempo de lazer e descanso, nas
tardes de domingo, só para ver um sorriso no rosto de tantos velhinhos e
velhinhas, que a amam de paixão, e até reclamam que ela deveria ir ao asilo
mais vezes.
“Quem
quiser salvar a sua vida vai perdê-la, e quem perder a sua vida, por causa de
mim, vai ganhá-la”
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0344.htm#msg01
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