REFLEXÃO
DOMINICAL I
“Espiritualidade do trabalho”
Aquele que recebeu cinco talentos e o
que recebeu somente dois foram bons trabalhadores. Cada um deles, recebidos os
talentos, “negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros” (Mt 25,16). É
preciso trabalhar! Mais ainda, é preciso trabalhar bem! João Paulo II, na sua
Carta Encíclica sobre o trabalho humano (“Laborem exercens”), falava de
“elementos para uma espiritualidade do trabalho”. No entanto, ninguém duvida
que a primeira coisa para falarmos de uma espiritualidade do trabalho é que se
tenha um trabalho e se trabalhe. É verdade que nem sempre é fácil ter um
trabalho. Há muitas pessoas desempregadas. Nesse sentido, a justiça social
apela aos representantes responsáveis pelo bem comum da sociedade que se
empenhem em criar cada vez mais postos de trabalho.
Mas também é verdade que alguém
poderia não trabalhar ou trabalhar mal simplesmente porque é um preguiçoso.
Como vencer a preguiça? Trabalhando. Uma boa lição deixou aos filhos aquele
camponês que estava prestes a morrer. Conta-se que os seus filhos eram bem
comodistas e o pai, já moribundo, disse-lhes: ‘meus filhos, estou morrendo, mas
vou deixar como herança um campo e um tesouro que se encontra neste mesmo
campo; vocês só terão que procurá-lo cavando o terreno’. Morto o pai, começou a
caça ao tesouro. Vão cavando, revolvendo o terreno e… nada. Depois de,
literalmente, cavar todo o terreno não encontraram nenhum tesouro; só então
entenderam qual era o tesouro que o pai lhes tinha deixado: o trabalho.
O trabalho é um dom de Deus, que
criou o homem para que trabalhasse (cf. Gn 2,15). No nosso trabalho nós temos
que fazer como aqueles servos que negociaram e fizeram com que os talentos se
multiplicassem. Eles sabiam que eram administradores de bens que não lhes
pertenciam. E nós, o que somos? Administradores, servos, trabalhadores na vinha
do Senhor, negociantes com os talentos de Deus. O Senhor nos pedirá conta da
nossa administração. Temos que trabalhar santificando a nossa profissão.
O primeiro requisito para santificar
o próprio trabalho, agradando ao Senhor e fazendo do trabalho um ambiente de
apostolado, é fazê-lo bem: pontualidade, responsabilidade, honestidade,
prudência, solidariedade etc. Essas e outras virtudes formam o cortejo das
virtudes do trabalhador. Um cristão que deseja ser santo, mas desenvolve mal o
seu trabalho pode vir a ser um autêntico contra testemunha do Evangelho: reza,
mas não trabalha bem; vai à Missa, mas não é honesto nas relações de compra e
venda; faz penitência, mas não pratica a pequena mortificação de chegar
pontualmente ao trabalho; fala que todo mundo tem que ser bom, mas ele mesmo é
não é justo com os seus funcionários… Mal serviço à evangelização! Ainda que
participe de uns cinco grupos da paróquia, se não é bom trabalhador, bom pai de
família e bom amigo dos seus amigos, não vai atrair para Deus, não estará se
santificando, não estará vivendo uma boa espiritualidade.
É justamente em meio ao barulho do
mundo, ao ruído das fábricas, à paciente leitura dos livros da faculdade,
enfim, por ocasião dos diversos afazeres do cotidiano nós encontramos a Deus,
ele nos espera em meio a essas coisas. Fugir dessa realidade é fugir do mundo
real e seria, portanto, fugir do encontro com Deus. Nesse sentido, as palavras
de S. Francisco de Sales são atuais para animar-nos a viver essa “espiritualidade
do trabalho” da qual falava o grande João Paulo II: “a prática da devoção tem
que atender à nossa saúde, às nossas ocupações e deveres particulares. Na
verdade, Filotéia, seria porventura louvável se um bispo fosse viver tão
solitário como um cartuxo? Se pessoas casadas pensassem tão pouco em juntar
para si um pecúlio, como os capuchinhos? Se um operário frequentasse tanto a
igreja como um religioso o coro? Se um religioso se entregasse tanto a obras de
caridade como um bispo? Não seria ridícula tal devoção, extravagante e
insuportável? Entretanto, é o que se nota muitas vezes, e o mundo, que não
distingue nem sequer a devoção verdadeira da imprudência daqueles que a
praticam desse modo excêntrico, censura e vitupera a devoção, sem nenhuma razão
justa e real” (S. Francisco de Sales, Filotéia, 1,3).
Vamos continuar negociando com os
nossos talentos. Há momentos nos quais precisamos ser fortalecidos para
continuar com esse empenho firme e alegre: santificar a realidade profissional,
a de todos os dias. Vamos fortalecer-nos na Missa dominical, e até diária se
possível; na meditação diária da Palavra de Deus; na reza quotidiana do Terço;
nas visitas ao Santíssimo. Todas essas práticas de piedade são como um “posto
de combustível” aonde o carrinho da nossa alma vai se reabastecer para
continuar caminhando, encontrando e amando a Deus, conversando com ele em todos
os momentos da nossa jornada.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo
Costa
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0350.htm#msg02
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