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Liturgia do DOMINGO DE RAMOS –Ano B
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A Celebração do Domingo de Ramos
marca o início da Semana Santa. Esta celebração se realiza em duas partes
distintas: a primeira, fora da Igreja, celebra a entrada triunfal de Jesus em
Jerusalém. Sua última viagem à Cidade Santa, a viagem rumo à Paixão. A Paixão é
a segunda parte da liturgia deste dia. Nela escutamos as leituras e o relato da
Paixão do Senhor, neste ano, segundo o olhar de São Marcos. Ele é o texto mais
curto, pois o evangelista tem pressa em anunciar o Evangelho de Jesus Cristo,
para apresentar-nos o Filho de Deus. Contudo, no relato da Paixão ele diminui a
velocidade, se dedica aos detalhes, a fim de colocar os ouvintes, em contato
com o maior gesto de amor realizado por Deus a nosso favor. Esta narrativa
longa e completa tem uma razão de ser: a fim de que contemplemos, cena a cena,
a autoentrega do servo obediente do Senhor. Essa narrativa memorial da Paixão e
Morte do Senhor é essencial para a nossa fé cristã.
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As leituras de hoje estão ligadas e
narram o sofrimento do Senhor, como consumação da salvação da humanidade. A
primeira Leitura é da profecia de Isaías. Segundo os estudiosos, o autor deste
texto é um discípulo do profeta Isaías que fala ao povo exilado na Babilônia.
Sua mensagem é de consolação e esperança. Seu objetivo é animar o povo para o
retorno e a reconstrução da Cidade Santa. Muitos dos exilados encontram-se
tristes e desesperançados, não querem escutar a sua voz. Sentem-se abandonados
pelo Senhor, como se canta no Salmo. Mesmo assim, o profeta não deixa de
anunciar a salvação que há de ser realizada pelos sofrimentos de um misterioso
Servo do Senhor. Ele é apresentado como um servo carregado de sofrimentos para
levar a bom termo a vontade do Senhor.
- Neste primeiro
canto do Servo, ele narra a sua vocação de discípulo e mestre. Como mestre,
ele tem a "língua adestrada" para dizer palavras de conforto à pessoa
abatida. Contudo, ele antes é discípulo, cujo ouvido é estimulado pelo Senhor.
Seu anúncio de consolação não é dado por otimismo ingênuo, mas por um contato
íntimo, refletido e acolhido da Palavra do Senhor que lhe vem ao ouvido.
Rejeitado, humilhado, machucado, o Servo não esmorece, mas persevera na sua
missão, "impassível como pedra" pois confia exclusivamente no Senhor
e ama os seus irmãos para os quais leva a salvação. Sabe que a sua missão não é
vã. A profecia descreve a vida de Jesus e, de modo especial, sua Paixão, como
gesto de fidelidade a toda sua missão. A Paixão é a consumação do anúncio do
Evangelho que deve dar vida nova a todos os filhos e filhas de Deus. Jesus
rejeitado, permanece impassível, pois sabe que sairá vitorioso, mesmo passando
por humilhações.
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Chegamos nesta celebração após um
caminho de quarenta dias. Desde o início, foi-nos apresentado um único
caminho para este momento em que, com Jesus, devemos abraçar também a Cruz: a
humildade e a caridade. Jesus é o rei humilde, em contraposição a toda
ostentação de poderio do mundo. Jesus é servo, humilde e sofredor, que, por
caridade, nos alcança a salvação.
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À comunidade de Filipos, Paulo havia ensinado que para que reine a humildade, o
amor e a concórdia, isto é, o Reino de Cristo, é necessário ter entre eles
"os mesmos sentimentos de Cristo Jesus" (2,1-5). Assim, Paulo
apresenta estes sentimentos que moveram o Senhor por meio deste antigo hino
sobre a "Kênose", isto é, sobre o esvaziamento do Senhor. Estes são
os sentimentos do Senhor, e estes são os sentimentos que devem mover também a
comunidade cristã, discípula do Filho amado de Deus. Ele esvaziou-se, não
bastando descer de sua condição divina, pré-existente e assumindo a humanidade,
mas ainda mais rebaixando-se a si mesmo, como escravo, humilhando-se até a
morte, e morte de cruz. A este rebaixamento, o Pai recompensa elevando-o ao
mais alto grau, acima de todas as criaturas, do céu, da terra e debaixo da
terra. Deus é o Senhor! Portanto, esta é a estrada para o Reino de Jesus: a
humildade e a caridade. A comunidade não chegará a lugar algum pela arrogância.
O orgulho é a raiz de todos os pecados. Por isso, na humildade fomos convidados
ao reconhecimento de nossos pecados e de nossa condição de criaturas, salvas
pela graça de Deus. Na caridade, somos convidados a unir o nosso sofrimento, e
todo sofrimento existente, ao sofrimento de Cristo na cruz, pois foi isso que
Ele fez pela humanidade. No altar da Cruz, Ele ofereceu o seu Corpo em
sacrifício, para redenção de todo o sofrimento da humanidade ferida pelo
pecado.
- Hoje
a Igreja, o Corpo de Cristo, pela Celebração da Eucaristia, continua oferecendo
pelo mundo, não outro, mas aquele mesmo grande serviço da Páscoa a favor da
humanidade. Assim, devemos assumir em nós a realeza de Cristo, pela realeza
batismal, como autoridade para servir, para levar consolo aos que sofrem, para
nos rebaixarmos humildemente à vontade do Senhor, e para continuamente unirmos,
à Cruz de Cristo, o sofrimento de toda a humanidade, para que seja redimida e
libertada pelo seu único Senhor e Salvador: Jesus Cristo. Permaneçamos firmes é
impassíveis, mesmo diante das angústias, desafios e sofrimentos do tempo
presente.
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