C- Sábado Santo –
Vigília Pascal
Homilia por: Padre Wagner Augusto
Portugal
Nesta
Vigília Pascal celebramos a vitória da vida, da vida em abundancia que vem da
vitória da graça sobre o pecado
Meus irmãos,
Nesta noite santa em que o céu assume a terra e a terra assume o
céu, em que o Redentor da Humanidade abandona o vale das trevas e das lágrimas
para adentrar aos umbrais da luz e da alegria, com a bendita e gloriosa
Ressurreição somos convidados a refletir sobre a Reconstituição do Rebanho de
Cristo, o Salvador.
A comemoração da Ressurreição do Cristo ocorre, desde a mais
remota memória da Tradição Católica, na noite de sábado para domingo, pois na
manhã do domingo – primeiro dia da semana – o Senhor já não está no sepulcro.
Além disto, e não obstante a Páscoa judaica ter uma outra data – seria a mesma
data da última Ceia – a tradição cristã associou a noite da Ressurreição à
noite da Páscoa descrita em Ex 12,42, “uma noite de vigília em honra do
Senhor”. É a noite da libertação. E mais ainda: esta noite ganha o sentido de
uma recapitulação do universo, o começo da criação nova e escatológica, pois o
Senhor Ressuscitado é a primícia da nova criação. A Ressurreição de Jesus é o
penhor da renovação do universo.
A Igreja, rica em sua tradição, diz que esta noite é em honra do
Senhor. Os fiéis trazendo na mão – segundo a exortação do Evangelho de Lucas(Lc
12,35ss) – a vela acesa, assemelham-se aos que esperam o Senhor ao voltar, para
que, quando ele chegar, os encontre ainda vigilantes e os faça sentar-se à sua
mesa.
A Liturgia Sagrada desta Vigília Pascal deve falar por si mesma:
com sensibilidade artística, se deve representar o Mistério da nova luz que
surge das trevas: Cristo que venceu a morte e o pecado. Os fiéis se unem a este
Mistério, acendendo uma vela na luz do círio pascal, quando de sua entrada
triunfal na Igreja: é a participação da vida ressuscitada do Senhor.
Assim se expressou, anos
atrás, no jornal A FOLHA DE SÃO PAULO, o saudoso e magno falecido Arcebispo
Primaz de Minas Gerais, expoente da Companhia de Jesus, DOM LUCIANO PEDRO
MENDES DE ALMEIDA, SJ: “
Na noite do Sábado Santo, as comunidades cristãs celebram a Solene vigília
Pascal, a liturgia da ressurreição de Cristo, vencedor do pecado e da morte. É
muito expressivo o simbolismo das trevas e da Luz. Após as leituras do Antigo e
do Novo Testamento, que, narram o desígnio divino da Salvação, a comunidade
reunida aguarda na escuridão do recinto sagrado a entrada festiva do Círio da
Páscoa. A luz de Cristo, com cantos de aleluia, é aclamada com alegria, sinal
de vida e esperança para a humanidade”.
Depois das leituras do Antigo Testamento com seus respectivos
responsórios e orações, entoa-se o Glória, com acompanhamento de instrumentos e
sinos, a expressão maior da vitória da graça sobre o pecado, da vida sobre a
morte. Prossegue-se com a Oração Inicial da Missa, que por si só ilumina todo o
esplendor desta Celebração: “Ó Deus, que iluminais esta noite santa com a
glória da ressurreição do Senhor, despertai na vossa Igreja o espírito filial,
para que, inteiramente renovados, vos sirvamos de todo o coração”.
Uma alusão ao nosso batismo, que tradicionalmente ocorre nesta
noite e em função da qual é concebida também a leitura de Rm 6,3-11, comparando
o batismo como uma descida no sepulcro, para daí corressuscitar com Cristo: o
homem velho é crucificado; revestimo-nos do homem novo; pecado e morte já não
reinam sobre a humanidade, sobre cada um de nós.
A leitura que há pouco refletimos, retirada de São Paulo(cf. Rm
6,3-11) comparava-nos a Jesus e dizia que, pelo batismo, nós mergulhamos com
Cristo na morte e com ele fomos sepultados. E pela força do batismo, como
Cristo pela força divina, com ele ressuscitamos. São Paulo usou uma expressão
que nós entendemos muito bem, porque faz parte de nosso dia a dia: “Solidários
na morte, solidários na ressurreição”. Todos, e cada um de nós em particular,
fomos beneficiados com a ressurreição de Jesus nessa madrugada da páscoa. Por
isso, nossa alegria não nasce apenas da vitória de Jesus sobre a morte, mas da
certeza de que não morreremos para sempre, tendo, a partir desta noite bendita,
a garantida da VIDA ETERNA.
Meus irmãos,
Depois desta leitura a liturgia faz uma pausa, como pudemos
sentir, chegado o grande momento do Cântico do “Aleluia” é cantado solenemente
por três vezes, entoando o salmo que canta as glórias desta noite santa.
Estamos no meio da noite. De uma noite muito especial e
santíssima: à noite da ressurreição. Acendendo o fogo e o Círio Pascal,
celebramos a luz. Luz significa presença amorosa de Deus. Luz significa a
salvação, a morte para o pecado e para as trevas. As palavras que iluminam esta
noite santa são a do próprio ressuscitado: “Eu sou a luz do mundo, quem me
segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”, expressam a divindade de
Cristo e a salvação que trazia à humanidade. Jesus podia ter dito essas
palavras nessa madrugada da Páscoa, ao sair da sepultura. Porque em sua
ressurreição, o Senhor, quis compartilhar conosco tanto a divindade quanto à
salvação, ou seja, a comunhão com Deus.
O Evangelho(cf.Mc 16,1-7) nos apresenta uma recomendação que
deve ser dada a três Marias de transmitir aos apóstolos que fossem a Galiléia o
que viram: No Evangelho, retirado de Marcos, a famosa conclusão breve de Marcos
parece, inicialmente, pouco apta para a pregação. Termina aparentemente de
maneira pouco pascal, pelo silêncio das mulheres – por medo – a respeito do
sepulcro vazio e a mensagem do anjo. Mas, quem sabe que, para Marcos, Jerusalém
é o lugar da incredubilidade e a Galiléia o lugar da fé do pequeno rebanho,
entende que o anúncio da ressurreição não foi feito logo em Jerusalém, mas
primeiro se devia reconstituir o rebanho na Galiléia, precedendo o bom pastor,
que deve reunir o rebanho escatológico: Jesus Cristo ressuscitado. Agora já não
somos mais ovelhas sem pastor. Somos ovelhas reunidas perante o grande e único
pastor: o Redentor que ressuscitou para salvar nossos pecados.
Vivemos a páscoa que quer significar passagem, que quer
significar a vida da graça em Deus. Que a água consagrada para ao batismo e a
renovação das promessas solenes, bem como a Ladainha de todos os Santos, que
anteriormente rezamos, nos faça mais fieis ao projeto de Deus Pai que nos
criou, a Deus Filho, que nos redimiu no sangue de sua cruz e conquistou para
nós, na ressurreição, a vida plena e eterna; a Deus Espírito Santo, que Jesus
nos dá, para que possamos ser filhos da verdade e possamos, o quanto à criatura
humana for capaz, “compreender a largura, o cumprimento, a altura e a
profundidade” do amor do Senhor morto e ressuscitado para conosco.
Meus queridos irmãos,
Nesta noite santa celebramos a vitória da vida, da vida em
abundancia que vem da vitória da graça sobre o pecado. Páscoa bendita da
libertação, não uma libertação política, mas uma libertação escatológica.
Cristo com a ressurreição é o Senhor da História, como eleição gratuita de
Deus. Por esta morte bendita e, ainda mais, pela sua ressurreição todos nós,
sem exceção, devemos dar testemunho de seu Evangelho diante do mundo. Devemos
ser uma comunidade que testemunha e vive a Ressurreição.
O Papa Bento XVI na
Vigília Pascal de 2008 assim se expressou: “Na Igreja Antiga, havia o costume
de o Bispo ou o sacerdote, após a homilia, exortar os crentes exclamando:
“Conversi ad Dominum –
agora voltai-vos para o Senhor”. Isto significava, antes de mais, que eles se
viravam para o Oriente – na direção donde nasce o sol como sinal de Cristo que
volta, saindo ao seu encontro na celebração da Eucaristia. Nos lugares onde
isso, por qualquer razão, não era possível fazer-se, os crentes voltavam-se
para a imagem de Cristo na ábside ou para a cruz, a fim de se orientarem
interiormente para o Senhor. Com efeito, em última análise era deste facto
interior que se tratava: da conversio,
de voltar a nossa alma para Jesus Cristo e, n’Ele, para o Deus vivo, para a luz
verdadeira. Com isto estava ligada também a outra exclamação, que ainda hoje é
dirigida à comunidade cristã, antes do Cânone: “Sursum corda – corações ao alto”, fora
de todos os enredos das nossas preocupações, dos nossos desejos, das nossas
angústias, do nosso alheamento – ao alto, os vossos corações, o vosso íntimo!
Nas duas exclamações, somos de algum modo exortados a uma renovação do nosso
Batismo: Conversi ad
Dominum – sempre de novo nos devemos afastar das direções
erradas, em que tão frequentemente nos movemos com o nosso pensar e agir.
Sempre de novo nos devemos voltar para Ele, que é o Caminho, a Verdade e a
Vida. Sempre de novo nos devemos tornar “convertidos”, com toda a vida voltada
para o Senhor. E sempre de novo devemos deixar que o nosso coração seja
subtraído à força da gravidade, que o puxa para baixo, e levantá-lo
interiormente para o alto: para a verdade e o amor. Nesta hora, agradeçamos ao
Senhor, porque Ele, com a força da sua palavra e dos sacramentos sagrados, nos
orienta na justa direção e atrai para o alto o nosso coração. E rezemos-Lhe
deste modo: Sim, Senhor, fazei que nos tornemos pessoas pascais, homens e
mulheres da luz, repletos do fogo do teu amor. Amém”.
Páscoa não apenas um dia no calendário da Sagrada Liturgia, mas
uma constante renovação da vida, que nesta noite santa, nos libertou do império
da morte que ameaça a dignidade dos homens.
Celebrando esta Páscoa do Senhor cantamos antecipadamente a
vitória de todos os que lutam pela vida, inclusive dando a sua própria vida em
benefício da edificação do Reino de Deus em nós.
Aleluia, que esta noite sacramento, sacramento de vida eterna
nos faça cada vez mais buscar enxergar no pobre e no excluído o rosto do Senhor
Ressuscitado. Amém, aleluia.
Pe Wagner Augusto Portugal
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