REFLEXÃO DOMINICAL III
Razão
da nossa Fé: Ele está vivo!
Mons. José
Maria Pereira
“Este é
o dia que Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 117).
O Senhor
ressuscitou verdadeiramente, aleluia!
A todos
formulo cordiais votos de Páscoa com as palavras de Santo Agostinho: “A
Ressurreição do Senhor é a nossa esperança”. Com esta afirmação, Santo
Agostinho explicava aos seus fiéis que Jesus ressuscitou para que nós, apesar
de destinados à morte, não desesperássemos, pensando que a vida acaba
totalmente com a morte; Cristo ressuscitou para nos dar a esperança.
“Eu vi o
Senhor” (Jo 20, 18), disse Maria Madalena, a primeira que encontrou Jesus ressuscitado,
na manhã de Páscoa. Hoje, também nós, depois de termos atravessado o deserto da
Quaresma e os dias dolorosos da Paixão, podemos entoar fortemente o hino de
vitória: “Ressuscitou! Ressuscitou verdadeiramente!”
Todo o
cristão revive a experiência de Maria Madalena. É um encontro que muda a vida:
o encontro com um Homem único, que nos faz sentir toda a bondade e a verdade de
Deus, que nos liberta do mal, não de modo superficial e passageiro mas
liberta-nos radicalmente, cura-nos completamente e restitui-nos a nossa
dignidade. Eis o motivo por que Madalena chama Jesus “minha esperança”: porque
foi Ele que a fez renascer, que lhe deu um futuro novo, uma vida boa, liberta
do mal. “Cristo minha esperança,” significa que todo o meu desejo de bem
encontra n’Ele uma possibilidade de realização: com Ele, posso esperar que a
minha vida se torne boa e seja plena, eterna, porque é o próprio Deus que Se
aproximou até ao ponto de entrar na nossa humanidade.
A
Ressurreição gloriosa do Senhor é a chave para interpretarmos toda a sua vida e
o fundamento da nossa fé. Sem essa vitória sobre a morte, diz S. Paulo, vazia
seria a nossa pregação e vã a nossa fé. (Cf. 1 Cor 15,14).
A
Ressurreição do Senhor é uma realidade central da nossa fé católica, e como tal
foi pregada desde os começos do cristianismo. A importância deste milagre é tão
grande que os Apóstolos são, antes de mais nada, testemunhas da Ressurreição de
Jesus. Este é o núcleo de toda pregação, e isto é o que, depois de mais de
vinte séculos nós anunciamos ao mundo: Cristo vive! A Ressurreição é a
prova suprema da divindade de Cristo. Jesus ressuscitou, não para que a sua
memória permaneça viva no coração dos seus discípulos, mas para que Ele mesmo
viva em nós, e, n’Ele, possamos já saborear a alegria da vida eterna. Na manhã
de Páscoa, tudo se renovou. “Morte e vida defrontaram – se em um prodigioso
combate: O Senhor da vida estava morto; mas agora, vivo, triunfa” (Sequência
Pascal). Esta é a novidade! Uma novidade que muda a vida de quem a acolhe, como
sucedeu com os santos. Assim aconteceu, por exemplo, com São Paulo.
Portanto,
a Ressurreição não é uma teoria, mas uma realidade histórica revelada pelo
Homem Jesus Cristo por meio da sua “Páscoa”, da sua “passagem”, que abriu um
“caminho novo” entre a Terra e o Céu (Cf. Hb 10, 20). Não é um mito nem um
sonho, não é uma visão nem uma utopia, não é uma fábula, mas um acontecimento
único e irrepetível: Jesus de Nazaré, filho de Maria, que ao pôr do sol de
Sexta – feira foi descido da Cruz e sepultado, deixou vitorioso o túmulo. De
fato, ao alvorecer do primeiro dia depois do Sábado, Pedro e João encontraram o
túmulo vazio. Madalena e as outras mulheres encontraram Jesus ressuscitado;
reconheceram – no também os dois discípulos de Emaús ao partir o pão; o
Ressuscitado apareceu aos Apóstolos à noite no Cenáculo e depois a muitos
outros discípulos na Galiléia.
A
Liturgia Pascal lembra, na primeira leitura, um dos mais comoventes discursos
de Pedro sobre a Ressurreição de Jesus: “Deus O ressuscitou no terceiro dia,
concedendo-Lhe manifestar-se… às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós
que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (At
10,40-41). Surge nestas palavras a vibrante emoção do chefe dos Apóstolos pelos
grandes acontecimentos de que foi testemunha, pela intimidade com Cristo
ressuscitado, sentando-se à mesma mesa, comendo e bebendo com Ele.
A
Ressurreição é a grande luz para todo o mundo: “Eu sou a luz do mundo” (Jo
8,12), dissera Jesus; luz para o mundo, para cada época da história, para cada
sociedade, para cada homem.
No
Evangelho (Jo 20,1-9) vemos que a Boa Nova da Ressurreição provocou, num
primeiro momento, um temor e espanto tão fortes, que as mulheres “saíram e
fugiram do túmulo… e não disseram nada a ninguém, porque tinham medo”. Entre
elas, porém encontrava-se Maria Madalena que viu a pedra retirada do túmulo e
correu a dar a notícia a Pedro e João: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não
sabemos onde O puseram” (Jo 20,2). “Os dois saem correndo para o sepulcro e,
entrando no túmulo, observaram as faixas que estavam no chão e o lençol…” (Jo
20,6-7). “Ele viu e acreditou” (Jo 20,8). É o primeiro ato de fé da
igreja nascente em Cristo Ressuscitado, originado pela solicitude de uma mulher
e pelos sinais do lençol, das faixas de linho, no sepulcro vazio. Se se
tratasse de um roubo, quem se teria preocupado em despir o cadáver e colocar o
lençol com tanto cuidado? Deus serve-se de coisas bem simples para iluminar os
discípulos que “ainda não haviam compreendido a Escritura, segundo a qual Jesus
deveria ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9), nem compreendiam ainda o que o
próprio Jesus tinha predito acerca da Sua ressurreição.
Ainda
que sob outro aspecto, os “sinais” da Ressurreição são vistos ainda presentes
no mundo: a fé heróica, a vida evangélica de tanta gente humilde e escondida; a
vitalidade da igreja que as perseguições externas e as lutas internas não
chegam a enfraquecer; a Eucaristia, presença viva de Jesus ressuscitado que
continua a atrair a Si todos os homens. Pertence a cada um dos homens
vislumbrar e aceitar estes sinais, acreditar como acreditam os Apóstolos e
tornar cada vez mais firme a sua fé.
A
Ressurreição do Senhor é um apelo muito forte: lembra-nos sempre que vivemos
neste mundo como peregrinos e que estamos em viagem para a verdadeira pátria, a
eterna. Cristo ressuscitou para levar consigo os homens, na Sua Ressurreição,
para onde Ele vive eternamente, fazendo-os participantes da Sua glória.
O Senhor
Ressuscitado faça – se presente em todo lugar com a sua força de vida, de paz e
de liberdade. Hoje, a todos são dirigidas as palavras com as quais na manhã da
Páscoa o Anjo tranquilizou os corações amedrontados das mulheres: “Vós não
precisais ter medo! Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito!” (Mt 28,
5-6). Jesus ressuscitou e concede – nos a paz. Ele mesmo é a paz. Por isso,
vigorosamente a Igreja repete: “Cristo Ressuscitou”. Que a humanidade do
Terceiro Milênio não tenha medo de abrir – Lhe o coração! O Seu Evangelho sacia
plenamente a sede de paz e de felicidade que habita em todo o coração humano.
Agora Cristo está vivo e caminha conosco. Um Mistério imenso de Amor!
Ao
amanhecer do dia, depois do sábado, encontraram o sepulcro vazio. Depois Jesus
manifesta-Se à Madalena, às outras mulheres, aos discípulos. A fé renasce mais
viva e mais forte do que nunca, e já invencível porque fundada sobre uma
experiência decisiva: “Morte e vida combateram, mas o Príncipe da vida reina
vivo após a morte”. Os sinais da Ressurreição atestam a vitória da vida sobre a
morte, do amor sobre o ódio, da misericórdia sobre a vingança: “Vi o túmulo de
Cristo, redivivo e glorioso; vi os Anjos que o atestam, e as mortalhas com as
vestes”.
“Ressuscitei
e estarei sempre convosco”. Esta certeza dada por Jesus realiza-se sobretudo na
Eucaristia; é em cada Celebração Eucarística que a Igreja, e cada um dos seus
membros, experimentam a sua Presença Viva e beneficiam-se de toda a riqueza do
seu Amor. No Sacramento da Eucaristia, o Senhor ressuscitado purifica-nos das
nossas culpas; alimenta-nos espiritualmente e infunde-nos vigor para enfrentar
as duras provações da existência e para lutar contra o pecado e contra o mal. É
Ele o amparo certo da nossa peregrinação rumo à habitação eterna do Céu. A
Virgem Maria, que viveu ao lado do seu Filho divino cada fase da sua missão na
Terra, nos ajude a acolher com fé o dom da Páscoa e nos torne fiéis e
rejubilantes testemunhas do Senhor ressuscitado.
Feliz Páscoa para todos!
https://presbiteros.org.br/homilia-do-mons-jose-maria-domingo-de-pascoa-ano-b/
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