sexta-feira, 22 de março de 2024

REFLEXÃO DOMINICAL II Meditando a Palavra de Deus

 

REFLEXÃO DOMINICAL II

Meditando a Palavra de Deus

O texto do profeta Isaías relata o terceiro canto do Servo Sofredor, que é marcado pela escuta da Palavra de Deus, pela fidelidade ao anúncio, pela perseguição e resistência. Toda a barba arrancada e receber cuspe no rosto são gestos dolorosos e humilhantes. A expressão “conservei o rosto impassível como pedra” mostra a resistência do servo. De quem o profeta está falando? Fiquemos com a interpretação messiânica segundo os autores do Segundo Testamento, esse ideal encontrou perfeita realização em Jesus: a profecia do Servo Sofredor descreve antecipadamente a vida de Jesus. Sua confiança em Deus e seu amor pelos irmãos deixam-no em uma suprema liberdade diante de qualquer provação. Ele tem certeza de que sua missão não é vã. O Salmo 21, oração pessoal de súplica, expressa a esperança do justo sofredor e responde ao canto do Servo anteriormente proclamado. O inocente perseguido, vivendo profunda experiência de abandono, sente-se esquecido pelo próprio Deus: “Meus Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Será que até Deus se afastou? Mas da oração suplicante brota a certeza de que Deus está presente e vai socorrer o fiel contra os inimigos violentos. A Carta aos Filipenses canta, em síntese, toda a trajetória de Jesus Cristo. Este hino descreve o aniquilamento, o “esvaziamento” do Filho de Deus. Este aniquilamento expressa o movimento de Jesus que parte de Deus, desce até a morte na cruz, e volta para Deus como Senhor. Jesus não teve medo e, como verdadeiro Servo Sofredor, viveu consciente e livremente a experiência humana até a norte. O caminho do Servo Jesus é o caminho da encarnação, da solidariedade com a humanidade sofrida. “Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome”. A entrada de Jesus como Messias em Jerusalém é descrita pelo evangelista Marcos. Jesus chega a Jerusalém para o cumprimento de sua missão e se dá o confronto com os poderosos, religiosos e políticos, presentes nesta cidade, e que se armam para eliminá-lo. Ele não vem montado em animal de guerra. Mas em um jumentinho, como humilde servidor e é reconhecido por sua gente como enviado de Deus. Neste Ano B é proclamada a Paixão de Jesus segundo Marcos. Esta narração se distingue por apresentar as testemunhas oculares da Paixão. Sendo o relato mais breve e mais antigo, talvez seja o que mais se prende aos fatos. Marcos descreve de modo muito realista, com muitos detalhes, a Paixão de Jesus, que morre quase desesperado. O sofrimento que padece o homem Jesus atinge não só o seu corpo, mas também o seu coração. Marcos apresenta Jesus, o Messias, como o Filho de Deus. Ele é interrogado diante do Sinédrio sobre a sua identidade e a confessa. É a única vez, no Evangelho de Marcos, que Jesus afirma ser o Messias, o escolhido de Deus para realizar seu projeto de liberdade e vida. O que parece blasfêmia para a sociedade que o mata é a maior profissão de fé de quem nEle crê e a Ele adere. O Sinédrio o rejeita e condena à morte. O oficial romano, um pagão, o reconhece como Filho de Deus: “Na verdade, este homem era Filho de Deus!” Jesus é Messias-Rei, mas a sua realeza não coincide com os padrões e autoridade daquele tempo e de hoje. De repente, poderá se manifestar em nós a figura de Pilatos, e, por covardia, acabamos por condená-lo. Seremos ainda o povo, preferindo Barrabás a Cristo. Por vezes, talvez contra a vontade, fazemos o papel de Simão Cirineu, ajudando a carregar a cruz de Jesus, pesando sobre os ombros da humanidade injustiçada e sofrida hoje. Cada pessoa já terá sentido em si o conflito entre o personagem que faz o Cristo sofrer mais e aquele que se solidariza com ele e procura aliviar seu sofrimento. Importa que, por entre os altos e baixos da vida, reconheçamos no Filho do Homem quem Ele é, e digamos como o oficial romano, um pagão: “Na verdade, este Homem era Filho de Deus!” (Roteiros Homiléticos para a Quaresma - fevereiro/março - 2018) 07 Dos Sermões de Santo André de Creta, Bispo (Séc. VI) Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel. Vinde, subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo, que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério de nossa salvação. Caminha o Senhor livremente para Jerusalém, ele que desceu do céu por nossa causa - prostrados que estávamos por terra - para elevar-nos consigo bem acima de toda autoridade, poder, potência e soberania ou qualquer título que se possa mencionar (Ef 1,21), como diz a Escritura. O Senhor vem, mas não rodeado de pompa, como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, diz a Escritura, nem gritará, e ninguém ouvirá sua voz (Mt 12,19; cf. Is 42,2). Pelo contrário, será manso e humilde, e se apresentará com vestes pobres e aparência modesta. Acompanhemos o Senhor, que corre apressadamente para a sua Paixão e imitemos os que foram ao seu encontro. Não para estendermos à sua frente, no caminho, ramos de oliveira ou de palma, tapetes ou mantos, mas para nos prostrarmos a seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de recebermos o Verbo de Deus que se aproxima, e acolhermos aquele Deus que lugar algum pode conter. Alegra-se Jesus Cristo, porque deste modo nos mostra a sua mansidão e humildade, e se eleva, por assim dizer, sobre o ocaso (cf. Sl 67,5) de nossa infinita pequenez; ele veio ao nosso encontro e conviveu conosco, tornando-se um de nós, para nos elevar e nos reconduzir a si. Diz um salmo que ele subiu pelo mais alto dos céus ao Oriente (cf. Sl 67,34), isto é, para a excelsa glória da sua divindade, como primícias e antecipação da nossa condição futura; mas nem por isso abandonou o gênero humano, porque o ama e quer elevar consigo a nossa natureza, erguendo-a do mais baixo da terra, de glória em glória, até torná-la participante da sua sublime divindade. Portanto, em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremonos aos pés de Cristo. Revestidos de sua graça, ou melhor, revestidos dele próprio, - vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo (Gl 3,27) - prostremo-nos a seus pés com os mantos estendidos. Éramos antes como escarlate por causa dos nossos pecados, mas purificados pelo batismo da salvação, nos tornamos brancos como a lã. Por conseguinte, não ofereçamos mais ramos e palmas ao vencedor da morte, porém o prêmio da sua vitória. Agitando nossos ramos espirituais, o aclamemos todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel”.

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