REFLEXÃO
DOMINICAL II
Meditando a Palavra de
Deus
O texto do profeta
Isaías relata o terceiro canto do Servo Sofredor, que é marcado pela escuta da
Palavra de Deus, pela fidelidade ao anúncio, pela perseguição e resistência.
Toda a barba arrancada e receber cuspe no rosto são gestos dolorosos e
humilhantes. A expressão “conservei o rosto impassível como pedra” mostra a
resistência do servo. De quem o profeta está falando? Fiquemos com a
interpretação messiânica segundo os autores do Segundo Testamento, esse ideal
encontrou perfeita realização em Jesus: a profecia do Servo Sofredor descreve
antecipadamente a vida de Jesus. Sua confiança em Deus e seu amor pelos irmãos
deixam-no em uma suprema liberdade diante de qualquer provação. Ele tem certeza
de que sua missão não é vã. O Salmo 21, oração pessoal de súplica, expressa a
esperança do justo sofredor e responde ao canto do Servo anteriormente
proclamado. O inocente perseguido, vivendo profunda experiência de abandono,
sente-se esquecido pelo próprio Deus: “Meus Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?” Será que até Deus se afastou? Mas da oração suplicante brota a
certeza de que Deus está presente e vai socorrer o fiel contra os inimigos
violentos. A Carta aos Filipenses canta, em síntese, toda a trajetória de Jesus
Cristo. Este hino descreve o aniquilamento, o “esvaziamento” do Filho de Deus.
Este aniquilamento expressa o movimento de Jesus que parte de Deus, desce até a
morte na cruz, e volta para Deus como Senhor. Jesus não teve medo e, como
verdadeiro Servo Sofredor, viveu consciente e livremente a experiência humana
até a norte. O caminho do Servo Jesus é o caminho da encarnação, da
solidariedade com a humanidade sofrida. “Por isso, Deus o exaltou acima de tudo
e lhe deu o Nome que está acima de todo nome”. A entrada de Jesus como Messias
em Jerusalém é descrita pelo evangelista Marcos. Jesus chega a Jerusalém para o
cumprimento de sua missão e se dá o confronto com os poderosos, religiosos e
políticos, presentes nesta cidade, e que se armam para eliminá-lo. Ele não vem
montado em animal de guerra. Mas em um jumentinho, como humilde servidor e é
reconhecido por sua gente como enviado de Deus. Neste Ano B é proclamada a
Paixão de Jesus segundo Marcos. Esta narração se distingue por apresentar as
testemunhas oculares da Paixão. Sendo o relato mais breve e mais antigo, talvez
seja o que mais se prende aos fatos. Marcos descreve de modo muito realista,
com muitos detalhes, a Paixão de Jesus, que morre quase desesperado. O
sofrimento que padece o homem Jesus atinge não só o seu corpo, mas também o seu
coração. Marcos apresenta Jesus, o Messias, como o Filho de Deus. Ele é
interrogado diante do Sinédrio sobre a sua identidade e a confessa. É a única
vez, no Evangelho de Marcos, que Jesus afirma ser o Messias, o escolhido de
Deus para realizar seu projeto de liberdade e vida. O que parece blasfêmia para
a sociedade que o mata é a maior profissão de fé de quem nEle crê e a Ele
adere. O Sinédrio o rejeita e condena à morte. O oficial romano, um pagão, o
reconhece como Filho de Deus: “Na verdade, este homem era Filho de Deus!” Jesus
é Messias-Rei, mas a sua realeza não coincide com os padrões e autoridade
daquele tempo e de hoje. De repente, poderá se manifestar em nós a figura de
Pilatos, e, por covardia, acabamos por condená-lo. Seremos ainda o povo,
preferindo Barrabás a Cristo. Por vezes, talvez contra a vontade, fazemos o
papel de Simão Cirineu, ajudando a carregar a cruz de Jesus, pesando sobre os
ombros da humanidade injustiçada e sofrida hoje. Cada pessoa já terá sentido em
si o conflito entre o personagem que faz o Cristo sofrer mais e aquele que se
solidariza com ele e procura aliviar seu sofrimento. Importa que, por entre os
altos e baixos da vida, reconheçamos no Filho do Homem quem Ele é, e digamos
como o oficial romano, um pagão: “Na verdade, este Homem era Filho de Deus!”
(Roteiros Homiléticos para a Quaresma - fevereiro/março - 2018) 07 Dos Sermões
de Santo André de Creta, Bispo (Séc. VI) Bendito o que vem em nome do Senhor, o
rei de Israel. Vinde, subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao
encontro de Cristo, que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente
para aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério de nossa
salvação. Caminha o Senhor livremente para Jerusalém, ele que desceu do céu por
nossa causa - prostrados que estávamos por terra - para elevar-nos consigo bem
acima de toda autoridade, poder, potência e soberania ou qualquer título que se
possa mencionar (Ef 1,21), como diz a Escritura. O Senhor vem, mas não rodeado
de pompa, como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, diz a
Escritura, nem gritará, e ninguém ouvirá sua voz (Mt 12,19; cf. Is 42,2). Pelo
contrário, será manso e humilde, e se apresentará com vestes pobres e aparência
modesta. Acompanhemos o Senhor, que corre apressadamente para a sua Paixão e
imitemos os que foram ao seu encontro. Não para estendermos à sua frente, no
caminho, ramos de oliveira ou de palma, tapetes ou mantos, mas para nos
prostrarmos a seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de
recebermos o Verbo de Deus que se aproxima, e acolhermos aquele Deus que lugar
algum pode conter. Alegra-se Jesus Cristo, porque deste modo nos mostra a sua
mansidão e humildade, e se eleva, por assim dizer, sobre o ocaso (cf. Sl 67,5)
de nossa infinita pequenez; ele veio ao nosso encontro e conviveu conosco,
tornando-se um de nós, para nos elevar e nos reconduzir a si. Diz um salmo que
ele subiu pelo mais alto dos céus ao Oriente (cf. Sl 67,34), isto é, para a
excelsa glória da sua divindade, como primícias e antecipação da nossa condição
futura; mas nem por isso abandonou o gênero humano, porque o ama e quer elevar
consigo a nossa natureza, erguendo-a do mais baixo da terra, de glória em
glória, até torná-la participante da sua sublime divindade. Portanto, em vez de
mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco
tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremonos aos pés de Cristo. Revestidos
de sua graça, ou melhor, revestidos dele próprio, - vós todos que fostes
batizados em Cristo vos revestistes de Cristo (Gl 3,27) - prostremo-nos a seus
pés com os mantos estendidos. Éramos antes como escarlate por causa dos nossos
pecados, mas purificados pelo batismo da salvação, nos tornamos brancos como a
lã. Por conseguinte, não ofereçamos mais ramos e palmas ao vencedor da morte,
porém o prêmio da sua vitória. Agitando nossos ramos espirituais, o aclamemos
todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras:
“Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel”.
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