II- III- Liturgia
do 33.º Domingo do Tempo Comum– Ano B;
- A liturgia
de hoje já nos aponta para a realidade que no próximo domingo celebraremos:
Cristo é o princípio e o fim da história. Para Ele se encaminham todas as
coisas; a "meta" a ser alcançada. O fim de todas as coisas é a
plenitude em Cristo Jesus. Ele é o sumo sacerdote ideal, pois o seu sacrifício
único e irrepetível eliminou para sempre o pecado do mundo. O perdão,
conseguido em seu sacrifício, é graça que se derrama continuamente na história,
santificando os que são seus e que se trilham o seu caminho de salvação. Ele
agora apenas espera o tempo que o Pai determinou "até que seus inimigos
sejam postos debaixo de seus pés".
- A linguagem
da liturgia de hoje é apocalíptica, tanto na primeira leitura quanto no
Evangelho. Mas, é preciso que entendamos bem o que isso significa. Apocalipse
significa "Revelação" e com este estilo literário o autor sagrado
procura apresentar às comunidades o que Deus lhes revelou sobre as realidades
que as mesmas comunidades estavam vivendo. A literatura apocalíptica não é para
despertar medo nas pessoas, mas a esperança. O povo deve confiar que Deus é o
Senhor da História, e que Ele a conduz para a redenção (salvação) destruindo o
mal.
- Na
primeira leitura, o profeta Daniel, falando ao povo exilado, que vive
tempos difíceis, e que ele chama de "tempo de angústia", anuncia a
intervenção de Deus na figura do Arcanjo Miguel que será enviado ao povo. Não é
em outro, mas "nesse tempo, teu povo será salvo, todos os que se acham
inscritos no Livro". O profeta anuncia também a intervenção divina aos que
já morreram: "despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbio
eterno". O profeta sublinha, com seu anúncio, que mesmo com as
dificuldades daquele tempo de angústias, de perseguição e injustiças, este é o
tempo da salvação, e não outro. É na tribulação que a fidelidade do povo é
comprovada. "Os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento, e os
que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos da virtude, brilharão por toda
a eternidade". O caminho para a salvação é observar aquilo que orienta o
Senhor em sua Lei.
- Jesus,
no Evangelho, também usando uma imagem do profeta Daniel, do "Filho do
Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória" (cf. Dn 7,13-14), afirma
a soberania de Deus sobre todas as coisas e que tudo terá o seu fim n'Ele,
neste Filho do Homem que tem o poder sobre toda a criação. As imagens são
dramáticas "depois da grande tribulação, o sol vai escurecer, e a lua não
brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão
abaladas". Jesus fala desta realidade terrena, sobre a qual os homens se
apoiam e que, por muitas vezes exaltam como deuses, à revelia do verdadeiro
Deus. Lembremos que o imperador romano se identificava como o deus-sol; as
demais estrelas eram entendidas como divindades e justificavam o poder sobre os
demais. O imperador romano perseguia e matava os cristãos. Com esta Palavra,
Jesus anima os seus a perseverarem e não desanimarem diante desta aparente
vitória dos poderes do mal. Na verdade, tudo está de acordo com o que o Pai,
desde sempre preparou ao delimitar os rumos da história. Enquanto tudo
acontece, saibamos que o Senhor é quem tem o poder sobre tudo, inclusive sobre
aqueles que pensam deter o poder sobre os outros, que lhes causam sofrimento e
dor, que promovem a injustiça e a destruição do ser humano. Não são estes que
pensam ter o domínio dos rumos da história que a detém de fato. Tudo isso, na
verdade, vai passar, assim como a nossa própria vida vai passar. Mas, devemos,
todavia, ficar atentos em relação a qual lado nós estamos: se do lado de Deus e
de sua palavra que jamais passará, ou se estamos do lado das forças deste mundo
que, naquele dia, serão abaladas e destruídas. Assim como profetizou Daniel, é
preciso que tenhamos sabedoria para escolher aquele de quem e para quem se
conduz toda a história. Quando Ele enviar Miguel e todos os seus anjos, aos
quatro cantos da terra e reunir os eleitos, estejamos nós entre aqueles que
escolheu. Somos os eleitos de Deus pelo Batismo, mas precisamos perseverar na
graça que recebemos até o fim, sem dela desviar ou desanimar, para que sejamos
guardados e refugiados para sempre em Deus, como cantamos no Salmo.
- O salmista, aliás, não teme nada, pois
confia que o seu destino está seguro nas mãos do seu Senhor. Ele sabe que
Deus está sempre perto, por isso, não desanima de trilhar o caminho do bem e da
salvação. Sua confiança o leva a não temer nem mesmo a morte: "Eis por que
meu coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no
repouso está tranquilo, pois não me haveis de me deixar entregue à morte".
Por fim, com o salmista devemos seguir o que ensina o Senhor, pois o seu caminho
é de vida, de felicidade sem limites, delícia eterna e alegria para sempre.
- O cristão, portanto, ao ser diariamente
bombardeado por notícias de guerras, injustiças, tragédias e maldades cada vez
mais inomináveis, não é aquele que se desespera, ou que desanima do bem, mas é
o que sabe ver, mesmo nestas experiências de dor e angústia, aquele sinal da
figueira de que fala Jesus no Evangelho: está se aproximando o tempo da
colheita. Não necessariamente porque o mundo vai acabar, mas é porque nestes
tempos de dificuldades que os fiéis seguidores de Deus, do Evangelho, os
peregrinos da esperança, devem se levantar para amenizar a dor do mundo e
começar, desde já, a construção de um mundo novo, do novo céu e da nova terra,
que terá a sua realização plena em Deus. É Deus quem realizará esta obra, mas
devemos nós também oferecer a nossa ajuda e a nossa disposição de trilhar com
Ele este caminho de plenitude.
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