sábado, 9 de novembro de 2024

X-REFLEXÃO DOMINICAL III: Homilia do D. Henrique Soares da Costa – XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano B

 

IX-REFLEXÃO DOMINICAL III:  Homilia do D. Henrique Soares da Costa – XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano B

1Rs 17,10-16
Sl 145
Hb 9,24-28
Mc 12,38-44

            Duas cenas comoventes, de gente pobre, sem valor nem importância, histórias de gentinha sem nome, ocupam hoje nossa atenção. Ah, meus irmãos, que Deus gosta de se ocupar com quem não vale nada!

            Primeiro, a Viúva de Sarepta. Qual o nome dela? Qual o enredo da sua vida? Qual o nome do seu filho? Que idade tinha? Nada! Silêncio! A Escritura se cala. Vai direto ao ponto: no tempo do profeta Elias uma seca mortal varreu a Terra Santa e sua vizinhança. O Livro dos Reis explica que isso se deveu à idolatria de Israel e à impiedade de Acab, seu rei. Até o profeta Elias, que anunciou o castigo, teve que sofrer as conseqüências: primeiro ficou sendo alimentado por um corvo na torrente de Carit; mas, depois, a torrente secou. Também os profetas de Deus sofrem, também eles participam da sorte do seu povo… Deus não super-protege seus amigos numa redoma… Também os amigos do Senhor devem combater os combates da vida… Mas, secada a torrente de Carit, Elias deixou a Terra Santa como flagelado de seca… Conhecemos essa história de tantos nordestinos que fogem da sequidão, deixando para trás sua terra e indo para o Sudeste do País. Pois bem: Elias, um dos maiores amigos de Deus, foi retirante, como um coitado flagelado nordestino! E chega no estrangeiro, na fronteira de Israel com o Líbano. Vê uma viúva cananéia, pagã, portanto, apanhando uns gravetos para fazer fogo. Pois bem, o homem pede-lhe um pouco d’água e também um pedacinho de pão. Devia estar morto de fome, o Elias retirante, flagelado, como os “severinos” da vida… E, ante o pedido do Homem de Deus, a resposta da viúva pobre e sem nome, uma maria-ninguém, é de fazer chorar de dor: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha e um pouco de azeite. Eu estava apanhado dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte”. É um fim da pouca comida na casa daquela coitada, daquela pobre. E observem que ele não amaldiçoa Deus; pelo contrário: “Pela vida do Senhor, teu Deus!” – ela diz, com respeito por Deus e por seu profeta, apesar de ser uma pagã! E Elias manda que ela prepare o pão primeiro para ele; e garante: “Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até ao dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra’”. A viúva fez assim, e aconteceu como o profeta de Deus dissera…

            Uma segunda cena. A de uma viúva também sem nome, sem importância, outra maria-ninguém; Maria Nadinha de Nada – poderia ser esse o seu nome… Chega junto ao cofre do tesouro do Templo. Ali joga duas moedinhas. Dinheiro de nada. Não dá para comprar nem o azeite de um dia para manter o candelabro do Senhor aceso! Mas, era “tudo aquilo que possuía para viver!” E o Senhor viu, e comoveu-se com sua generosidade, pois conhecia seu coração e sabia da sua penúria miserável! – Esta segunda história nós conhecemos bem das nossas igrejas; a mão aberta, generosa, dos pobres para com a Casa de Deus e a parcimônia mesquinha e desdenhosa dos que muito possuem… Pois bem: esta viúva, indigente, quase esmoler, dá tudo ao Senhor, não reserva nada para si! Talvez nós pensemos, do alto da nossa prudência: “Mulher imprudente, mulher tola, mulher irresponsável…” Mas, o Senhor Jesus, que desmascara nossos pensamentos miseráveis e mundanos, tem opinião diferente: Ama aquela viúva, elogia aquela mulher, comove-se com ela.

            Caríssimos, agora procuremos responder: Como essas duas mulheres tiveram coragem de agir assim? Como foram capazes de tal desapego? Eis a resposta: As duas acreditavam de verdade no Deus de Israel. Para elas, Deus não era uma teoria, uma hipótese, uma idéia vaga, fria e distante! Para elas, Deus era concreto, presente, atuante. Ainda hoje é assim para os pobres. Vão, meus caro! Vão às nossas comunidades de periferia e vocês ficarão impressionados com a generosidade e a fé da gente pobre! Para essas duas mulheres e para os pobres de Deus, as palavras do salmo da Missa de hoje não são uma brincadeira, não são palavras vazias: O Senhor é fiel para sempre,/ faz justiça aos que são oprimidos;/ ele dá alimento aos famintos./ É o Senhor quem protege o estrangeiro,/ quem ampara a viúva e o órfão./ O Senhor reinará para sempre!” Só quem crê de verdade, de verdade se abandona, de verdade doa, de verdade não procura segurança fora de Deus! Só quem crê de verdade faz como essas viúvas sem juízo: dão tudo, porque dão para o Senhor! Caríssimos, aquelas mulheres pobres acreditavam nisso, aquelas duas coitadas sabiam abandonar-se nas mãos benditas do Deus de Israel: uma dá tudo quanto tinha para comer a uma estranho simplesmente porque ele era um homem de Deus; a outra, não hesita em jogar tudo no tesouro da Casa do Senhor… Elas são como o Cristo Jesus, “que sendo rico se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9). Elas são tão diferentes de nós, apegados, desconfiados, iludidos com o pensamento que podemos garantir nossa vida com nosso egoísmo e que somos senhores dos nossos dias. – Senhor, dá-nos um coração de pobre! Senhor, fonte de riqueza, dá-nos um coração confiante!

           E agora, para terminar, agora olhemos Jesus. A segunda leitura de hoje no-lo apresenta no céu, diante do Pai, em nosso favor. O Autor sagrado explica que ele se fez homem uma só vez, entregando-se todo, a vida toda, por nós, até morrer para apagar os pecados da multidão! Ele fez como aquelas viúvas: Ele não se poupou, não poupou nada; tudo entregou ao Pai por nós. E agora, ele estará para sempre diante do Pai, com o seu sacrifício, como Cordeiro glorioso e imolado (cf. Ap 5,6), até que apareça nos final dos tempos “para salvar aqueles que o esperam”. Eis caríssimos, o mistério: sem saberem, aquelas duas mulheres participavam da entrega de Cristo, da generosidade de Cristo, dos sentimentos de Cristo! Sem nem imaginarem, aquelas mulheres colocaram a esperança em Cristo!

           Por favor, voltemos agora o olhar do coração para o Céu, para junto do Pai! Lá está o nosso Salvador, eternamente vitorioso e eternamente imolado de amor! Lá está Jesus, com seu sacrifício eterno, único, perfeito irrepetível, totalmente suficiente e eficaz! Ele nos deu tudo! Mais ainda: ele se deu todo… Todo a nós, todo por nós! Agora, olhemos para este Altar, em torno do qual nos reunimos. Daqui a pouco, esse sacrifício único e santíssimo, essa sacrifício que está para sempre diante de Deus, estará aqui, sobre este Altar sagrado, para ser nossa oferta e para que nós dele participemos! Daqui a pouco, a Hóstia santa – isto é, a Vítima do Sacrifício – estará aqui, do céu para nós, do céu entre nós, para ser nossa oferta e nosso alimento! É muito dom, é muito mistério, é muito piedade, é muita misericórdia de Deus para conosco!

           Caríssimos, não sejamos mesquinhos, não sejamos incrédulos, não sejamos duros de coração: aprendamos a ver Deus agindo na nossa vida, aprendamos a confiar, e coloquemos nossa vida e nossa pobreza nas mãos de Deus! Amém.

D. Henrique Soares

https://presbiteros.org.br/homilia-do-d-henrique-soares-da-costa-xxxii-domingo-do-tempo-comum-ano-b/

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