VII-REFLEXÃO DOMINICAL I: –
"QUEM NADA TINHA, DEU TUDO"
Li
umas várias vezes o evangelho desse domingo, e em pensamento queixei-me com o
seu autor, o Evangelista São Marcos, pois á primeira impressão que se tem, é
que Jesus estava falando de um assunto, no caso, da ostentação dos escribas, e
de repente mudou, como se diz “de saco prá mala”, abordando a oferta da viúva
pobre. Parece que encerrou uma conversa e iniciou outra, assim, a abordagem
fica meio complicada.
Achei
melhor pedir socorro á primeira leitura, que compõe a liturgia e que não está
ali só de enfeite: Na casa de uma viúva pobre, o profeta Elias, primeiro
pede-lhe água para beber, depois, o profeta meio folgado pediu também um pedaço
de pão, o que colocou a pobre mulher em pânico, pois o restinho de farinha que
possuía, só dava para fazer um pãozinho que seria a última refeição para ela e
o filho.
Aqui
dá para perceber algo em comum entre essas duas viúvas, as duas moedinhas de
cinco centavos, e o punhadinho de farinha, que sobrou no fundo da despensa, era
tudo o que as duas tinham. Como dar para alguém algo que é essencial para nós?
Tirar da própria boca para sustentar o outro, não é arriscar passar fome por
causa daquilo que se deu? Há uma perda material, isso é indiscutível,
entretanto o Profeta garante que aquela pobre viúva não ficará desassistida,
não lhe faltará aquilo que é essencial para a sobrevivência, a farinha e o
óleo, até o dia em que Deus mandar a chuva, que fertilizará a terra, acabando
com a miséria daquela região. O amor ágape é sempre um mistério, quanto mais se
ama e se doa, mais se tem! Aqui começa a ganhar corpo uma idéia bonita, a do
amor que se doa por inteiro, que não dá ao outro as migalhas, ou o que está
sobrando e não vai lhe fazer falta.
O
amor verdadeiro nos faz perder algo, pelo menos na lógica humana, isso é mesmo
uma grande verdade, quem se dedica a um enfermo dia e noite, cuidando dele com
paciência e carinho, quem se dedica aos filhos, ou ao esposo ou a esposa, com
igual dedicação, Quem se dedica aos trabalhos da igreja, ou a família, se o
fizer de forma autêntica, estará perdendo algo precioso: o seu tempo, por
exemplo, que poderia ser melhor aproveitado, quem sabe, dedicando-se ao lazer,
a algum negócio rendoso, esse tempo que foi dedicado a alguém em especial, ou á
comunidade, não voltará jamais, ficou perdido. Parece que amar é perder sempre
algo que nos é essencial.
Deus
não nos deu o que lhe sobrava, e que não ia lhe fazer falta, mas o que tinha de
mais precioso e valioso, seu amado Filho Jesus, que por sua vez, vivendo a
fidelidade da missão, chegou à encruzilhada Getesâmani, “Beber o cálice de
amargura, que significaria abrir mão de sua vida, pela salvação de todos, ou
encontrar outra forma de amar, que não significasse uma perda total”.
Afastar-se do cálice ou aceitá-lo? Sendo Deus, só podia mesmo nos amar com o
amor de Deus, que olha a miséria humana com misericórdia e compaixão, e entrega
a sua vida, na juventude dos 33 anos, com um amor sem limites. Aceita o
sacrifício vicário, morrer em lugar de todos, para que todos pudessem se
salvar. Ele não poderia morrer somente para os bons, os que fossem corresponder
ao seu grande amor, ontem, hoje e no futuro, mas sua morte resgatou, e
continuará a resgatar muitos ímpios.
E
com a ajuda preciosa das duas primeiras leituras, agora sim, dá para entender o
porquê do seu elogio aquela pobre viúva, ele não olhou para o valor que estava
sendo ofertado, mas sim para a disposição interior daquela mulher que com
certeza pensava “Ao meu Deus, que me deu tudo, também ofereço este pouco, que é
meu tudo”. Pelo que diz o santo evangelho, os escribas gostavam de ser notados,
por tudo o que faziam, impondo admiração e respeito, conquistando assim os
lugares de maior importância. Aparentemente estavam se doando a Deus e aos
irmãos, mas na verdade, cobravam, pela sua doação, um alto preço, o prestígio,
a fama, o poder e o domínio sobre os demais. Mas havia também nas comunidades
de Marcos, como há nas nossas, uma gente que se doa totalmente, e nem aparece,
são discretos no servir, dão o melhor de si, talvez não exerçam um trabalho
importante, mas tem no coração o carisma do amor sem medidas e sem reservas,
que se doa com humildade e alegria. Uma gente que espalha alegria e o doce
perfume de Cristo por onde anda.
Não
nos deixemos enganar pelo falso brilho dos escribas, o poder e o brilho que
ostentam, é efêmero! Busquemos no anonimato da assembléia, aqueles e aquelas
que refletem no rosto o Cristo Servidor, são esses que fazem a nossa Igreja
caminhar, e que a sustenta com uma oração sincera e um coração repleto de amor
a Cristo e aos irmãos. ...(32º. Domingo do Tempo Comum – Mc 12, 38-44)
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0295.htm#msg01
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