sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

"Bom dia, bom Tempo Natalino, e bom Novo Ano!”

 

"Bom dia, bom Tempo Natalino, e bom Novo Ano!”

Por Lindolivo Soares Moura(*)

Seguimos com o idioma "nem pátrio e nem mátrio", desta vez! "Thinking", vamos chamá-lo, em homenagem a quem está ainda indeciso pela paternidade ou a maternidade! Pensem devagar, não há pressa! Mas pensem com responsabilidade!

Dica de hoje: "'na minha ausência, não deixem por favor de regar as minhas plantas!': que plantas você está deixando para serem regadas?".

Quem ama a natureza, e por vezes chega a cultivar uma verdadeira floresta dentro de casa, certamente já usou e abusou dessa expressão: "na minha ausência por favor não deixe de regar as minhas plantas!". Se a solicitação foi feita em decorrência de uma viagem mais longa, demorada, então o pedido é meticulosamente feito, e todas as orientações são passadas! Comecei a pensar então aqui com meus botões - de onde vem essa expressão, hein gente? - : e se a viagem fosse  mesmo longe, longe demais, tipo aquela que a gente vai e não volta mais!? Viagem para a qual só se adquire bilhete de ida, e não de volta, e na despedida o tchau vira um "adeus", e é uma choradeira que não acaba mais! Uma viagem na qual ninguém gostaria de ir, menos ainda sendo obrigado, e que só se vai sendo meio que "despachado", pois se assim não fosse a gente brigaria, o "pau comia", de tanto que a gente gosta de viver nesse bendito planeta chamado terra! Viver é bom demais! É ou não é, fale a verdade!? Quem não gosta da vida tem que fazer terapia, pois só pode estar lelé : ou é ruim da cabeça ou doente do pé e de todo resto! chiii!!! E se for o terapeuta que resolveu que quer morrer!? Aí não tem jeito: serão duas vacas que acabam indo juntas, lado a lado, pro mesmo brejo! "Um dia - pronto! Me acabo! Pois seja o que tem que ser! Morrer!? Que me importa!!! O diabo é deixar de viver!!!". Esse Mário Quintana sabia das coisas! Terapeutão, esse cara!

De vaga eu entendo bem, "divagação" não, ninguém gosta! Então vamos sair do atalho e retomar os trilhos! "Olha o trem!!!" Te peguei, hein!? Mas já que parou, olhe, escute...aproveite e reflita: se você estivesse às portas da morte, prestes a partir - você pode até achar a expressão chata mas retardá-la não resolve a questão! - e tivesse que lançar mão pela última vez do pedido: "na minha ausência, por favor, reguem as minhas plantas", de que tipo de "plantas" você estaria falando? Porque se for da sua floresta real que você tem em casa, toda verdinha - se você cuidou bem, claro! - independentemente do tamanho da sua selva, das duas uma: ou quem você amou em vida vai dar um jeitinho, de qualquer jeito - mesmo que para isso tenha que diminuí-la de tamanho:um terço, metade, sei lá - e vai continuar cuidando da plantaiada direitinho, ou... - chora pelo que eu vou dizer não! -  mal você tenha  colocado os pés nas profundezas da terra, das suas plantas e da sua floresta não vai sobrar um raminho! Nadinha! Nem uma hortênsia para contar a sua história! "No lugar da ausência, um ramo de hortênsias", como diria o Cassiano Ricardo! Nem isso, no seu caso! Aí você pergunta: "falando sério!? Nem um raminho!?". Nem!!! Tipo aquele que a pombinha - é pombinha mesmo ou corvo, Antônio Rocha? - trouxe no bico e entregou para seu Noé, que há dias não conseguia sair daquela bendita barca! Melhor, creio que é arca!

É triste, mas é verdade! Nem é bom se preocupar muito com isso não! Bobagem ficar se lamentando demais!  Falando sério? Não sempre os "amores" de uns são os mesmos amores de outros!  Aqui me vem uma dúvida: se o problema estaria "nos amores" que deixamos, ou "nos outros" com os quais em vida convivemos! Vixe!!! Isso daria um livro! Meu cunhado Pedrinho diria: "livro não, filme! Vou esperar virar filme - é assim que ele fala - quando lhe envio meus "testões", como ele diz ! Não lê um, o bendito! "Epa!!! Olha a divagação aí de novo!", agora é você quem diz! Cai novamente na tentação! Desculpe! Vou rezar o "Ato de Contrição", viu, Frei João, e depois da absolvição eu continuo! Olha o tamanho da penitência, hein!!! Qualquer coisa leia aí o "Do delito e das penas", do Beccaria! Não era frade nem padre, mas o que de pena esse homem entendia, era de se tirar o chapéu! E se entendia de pena deveria por tabela entender de penitência. Afinal elas jogam juntas no mesmo time, time esse cujo nome é "punição"! Enquanto isso puxemos pelo fio a meada, e deixemos de muito "blá blá blá!".  Essa expressão eu também não sei de onde veio não!

Se houve alguma graça no que eu disse, ou se por ter dito o que disse acabei caindo em desgraça, difícil vai ser agora dizer alguma coisa que faça você voltar a sério, se recompor, que é o que vamos precisar daqui pra frente. Melhor sair, tomar uma gelada -estou falando de água, viu gente! - pois tem feito um calorão danado, e depois retornar! Melhor assim! E antes de retomar a leitura dê em você mesmo uns dois ou três beliscões! Sem exagero, vamos! O suficiente para fazer você acordar e voltar a ficar sério! Pronto!? Então vamos lá! Havíamos parado na parte em que você estava às portas da morte! Você, não eu! Eu, hein!!! Se a expressão fez você, "tremer de medo", que bom! Consegui o que eu precisava: fazer você se recompor e se aprumar! Agora a pergunta que não gostaria de ter sido, mas foi a contragosto calada: "que tipo de planta você está deixando para seus filhos, netos, ou para quem você imagina que devera continuar cuidando delas!? É!!! Muita gente jamais sequer havia pensado nisso! Hora de começar então, gente! Senão você acaba sendo "despachado", como eu já disse, e aí não dá mais tempo!

Agora vou sair de cena por um momento, e deixar você com vocês meu grande Mestre, Rubem Alves! Devo muito, mas muito mais do que isso a ele: recolocá-lo em cena do jeito que for possível. Como você deve saber, o Rubem também já foi "despachado". Entra aí por favor, Rubem! Chegou sua hora! E nos conte um pouco da sua história!

"Ok! Tudo bem! Bom dia, gente! Vou começar dizendo que quando 'desfiz 75 anos' - tem até um livro meu com esse nome - me dei conta de que já era chegada a hora de pensar em meu Testamento. Logo me vieram à mente as palavras de um certo lee Iacocca. Ele diz: 'seu legado deveria ser o fato de ter transformado as coisas em melhores do que eram quando você as recebeu!". Vi que não havia começado tão mal! Fiquei todo otimista! Em seguida perguntei-me em pensamento por onde andaria o Victor Hugo. Quando o encontrei, o que então dele me veio à mente foi: 'a suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é, ou, mais corretamente, de ser amado apesar daquilo que você é!". Sorri satisfeito! Passei no teste, pensei!  Mas aí um tal de Mulière se intrometeu na conversa, e parecendo querer me sacanear disse assim, exatamente: 'somos responsáveis não só pelo que fizemos - seu Rubem - mas também pelo que deixamos de fazer!'. Tá querendo insinuar alguma coisa, Mulière?, perguntei. 'Não, ele respondeu! Era só por falar mesmo!'.

Para cutucar com vara ainda mais curta minha autoestima, um tal de Gonzaguinha bateu de frente com a minha mente, e jogou pesado: 'chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder o que não dá mais pra ocultar, e eu não posso mais calar, já que o brilho desse olhar foi traidor e entregou o que você tentou conter, o que você não quis desabafar e me cortou!'.  Eu já estava meio que passado, quase desacordado, de tanta bordoada, quando então para atingir ainda mais meu ego -  fechar pra balanço - um tal de John Rhoades apontou seu dedão pra mim e disparou: 'Lembra-se do que eu lhe disse há algum tempo, seu Rubem!?: faça mais do que existir - viva! Faça mais do que tocar - sinta! Faça mais do que olhar - observe! Faça mais do que ler - absorva! Faça mais do que escutar - ouça! Faça mais que ouvir - compreenda!'. Quando eu já ia tentando me justificar, ele veio de novo: "nada de explicação não! Já tô de saco cheio de tanta racionalização!'. Putz! - eu pensei! Me lasquei! Depois pensei melhor e conclui: tudo bem, não tenho sido tão mal; até onde eu sei, eu fui leal: não prometi milagres, não falei de inferno...Enfim, nada mal! Ninguém é perfeito mesmo! Se eu pudesse viver a minha vida novamente, conclui, eu a viveria tal e qual!

O certo é que a essa altura eu já havia me dado conta de que havia juntado muitas coisas, e agora estava sendo perturbado pela pergunta da Parábola: 'para quem ficará tudo que acumulaste?'. Quando o que se acumula se resume a bens e dinheiro, a resposta é fácil! Mas e as outras coisas que eu havia acumulado? Cada pessoa tem um tesouro que é único, só seu!".

Licença um minutinho ai Rubem - disse eu interrompendo sua fala - porque a gente ainda há pouco falava de certos "amores" que são só nossos, e de mais ninguém! Desculpe aí, ter interrompido! Pode por favor continuar!

"Bem, aí eu comecei a me lembrar de que no meu tesouro havia uma quantidade enorme de coisas absolutamente inúteis, que não tinham nenhum valor de mercado! Livros usados, alguns, os que tanto amo, já caindo aos pedaços de tanto amor que fizemos! Os CDs - gosto particular meu! Quadros! - o mais querido sendo 'Mulher lendo uma carta', de Vermeer, livros de poesia, literatura, arte, jardins. Até um peso de papel de vidro verde-claro todo estilhaçado havia, além de fotografias, cartas, memórias, e por aí vai! Achei meio estranho o fato de que memórias estivessem dentre os objetos acumulados, e que havia centenas, talvez milhares delas, guardadas no meu tesouro! Enfim, pareceu-me um tanto esquisito, o tipo de herança que, em Testamento, eu estava deixando pra “fiarada”! Foi aí que eu me dei conta de que acumular é um dos mais profundos instintos da alma humana! Por que será? - eu pensei! Meu 'daimon' interior, 'meu amigo secreto das horas incertas, como diz o Roberto, me respondeu quase cochichando: 'porque a alma ama, meu caro Rubem! O amor deseja possuir! Isso tem o seu lado bom e o seu lado ruim! Só é preciso ter cuidado'. Lembrei-me do 'princípio do duplo poder' de Marinoff, naquela hora! E pensei: então é por isso que a alma dos poetas está cheia de objetos decrépitos! Misericórdia! Fiz então uma promessa - um juramento para mim mesmo: inventaria uma máquina de faxinar memórias, pois me dei conta de que encheria um caminhão, aquelas das quais eu me livraria com prazer! Uma vez a cada início de Novo Ano, limpeza completa, das memórias que vinham me  fazendo sofrer! Ficaria apenas com as memórias que eu amo, prometi a mim mesmo!! E aí veio a surpresa: vi que nenhuma delas era sobre acontecimentos importantes. Pelo contrário, eram memorias-brinquedos, vejam só! Passaria o restante de minha vida com elas brincando! Era isso que eu havia decidido!

Por fim me dei conta de mais duas coisas importantes: a primeira era que o que a gente acumula é parte da gente porque somente o amado é acumulado! Shiii!!! - pensei! Então será que quem só acumulou dinheiro é porque só amou dinheiro!? Se for isso - disse eu - a coisa é realmente muito triste. Isso explicaria - pensei eu - o motivo pelo qual quem acumula muito dinheiro dá tanto pouco sorriso e tanta gargalhada! A segunda coisa foi meio esquisita, uma ideia tanto curiosa quanto estranha: o que fazer quando o que se juntou foram ovelhas? Deus meu! De repente eu me dei conta de que estava falando de mim mesmo! Preciso encontrar urgente alguém que também ame minhas ovelhas, me veio à mente, alguém que tenha alma de Pastor, que as chame pelo nome! Que as conduza por pastos verdes e fontes de águas frescas, as defenda dos lobos e as acaricie ao fim da tarde, leve-as para passear em dias bons e as recolha ao aprisco em dias maus!".

Dito isso Rubem se abaixou e pareceu escrever alguma coisa no chão! Depois começou a se erguer lentamente, enquanto duas pequenas lágrimas furtivas insistiam em rolar pelo seu rosto! "Esqueçam tudo que eu lhes disse!" - ele continuou. "O fato é que não é possível acumular coisa alguma! O acumular é uma ilusão! Por isso Deus chamou o rico de 'insensato', 'louco', alguém que 'perdeu o juízo'. Quem pensa que acumula não é senão isso: um doido varrido! E se o acumular coisas é uma ilusão, todo homem deveria suplicar para que uma graça especial lhe fosse concedida: poder preparar o fim da sua vida como um compositor termina sua sonata: buscando deixá-la o mais perfeita e o mais completa possível, para então deixá-la como herança àqueles que ele ama! Uma obra de arte bela e bem acabada! Essa, e nenhuma outra, é sem dúvida a maior das heranças!". Essa foi a última fala do Rubem! Abaixou a cabeça, agradeceu, e saiu!

Estou reentrando em cena apenas para uma perguntinha básica mesmo: já pensou que tipo de plantas você está cultivando, e solicitará para que alguém as regue quando você estiver viajando, quem sabe pra não voltar mais!? Se não pensou, melhor ir pensando! Dinheiro, coisas, herança, bem ou mal a gente "se vira": compra, vende, troca, financia; dá-se um jeito!". Mas tem certas coisas que nenhum "jeitinho brasileiro" dá jeito: só plantando!

 

                     L.S.M. 01/23

(*) Reflexão enviada de Vitória(ES) por whatsapp.

 

 

 

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