"VINHO
NOVO EM ODRES NOVOS, ANO NOVO, VIDA NOVA! NOVAS CRENÇAS, ATITUDES
E DISPOSIÇÕES!"
Por Lindolivo Soares Moura(*)
Feliz
Ano Novo!
lückliches
Neues!
Jahr!
Nytar!
Feliz
Año Nuevo!
Felicigan Novan!
Jaron!
Heureuse!
Nouvelle Année!
Feeliz Aninovo!
Shaná Tová!
Happy New Year!
Felice
Nuovo!
Anno!
Akemashite!
Omedetou!
Gozaimasu!
Há datas que são verdadeiros marcos na
vida da gente. Quem por exemplo não se sente privilegiado de ter feito parte da
virada do milênio? Somente daqui a mil anos, para quem lá estiver, será
concedida uma nova chance, uma nova oportunidade. Por outro lado, é certo que
os que fomos agraciados com tão grande graça agora, outra igual não nos será
concedida! Jamais! Ao menos nessa vida! Assim é
o viver, assim é vida!
A virada de um novo ano é diferente:
entramos no novo tempo desejando-nos muito sucesso e muitas realizações
mutuamente! Assim como muita paz e muita luz, naturalmente, e com a esperança
beirando a certeza de que estaremos presentes e a postos para saudar a chegada
do novo ano que baterá à porta 365 à frente. O sentimento mais recorrente que
nesses momentos de "virada" nos invade, é quase sempre: "Ano
Novo, Vida Nova!". No atual panorama, entretanto, uma pergunta vem à nossa mente: precedidos por um
"ano velho" de tantas
provações, sofrimentos e desafios, haverá
ainda razões suficientes para acreditarmos num Ano Novo portador de vida
nova, coisas boas, e novas realizações?
A Psicologia, sobretudo a chamada "Psicologia da
Espiritualidade", trabalha com o princípio de que "a profecia do acontecimento contribui
poderosamente para o acontecimento da profecia". William James, pensador
contemporâneo, expressa a mesma convicção apenas com palavras diferentes:
"não temas a vida. Acredita que vale a pena vivê-la e tua crença ajudará a
criar o fato". Se portanto é certo que a vida e o viver podem e devem ser
considerados um dom e uma graça, não é menos verdade que são também projetos e
construções a serem erguidos e edificados. Como dom e graça, o projeto é
divino, como construção e edificação a tarefa é humana e não pode ser delegada.
Profetas da esperança sempre foram
obrigados a conviver lado a lado com profetas do caos e do mau agouro, cujas
profecias como um verme a tudo corrói. As Escrituras consideradas sagradas ensinam que a boa semente, após ser semeada,
por um tempo e inevitavelmente precisa conviver, e por vezes sobreviver, com
ervas daninhas de toda espécie e com péssimas sementes. E que somente no tempo
propício -- kairós -- trigo e joio serão devidamente separados um do outro,
vindo a ter cada um o fim que lhes está reservado. Por analogia isso nos leva a
concluir que a convivência com profetas do caos e do mau agouro seja algo inevitável! Ao menos por um tempo, Lamentavelmente.
Um dos grandes poetas e educadores
brasileiros, Ariano Suassuna, ensinava que "o otimista é um tolo e o
pessimista é um chato, e que o melhor mesmo é ser realista com esperança".
Ser realista não parece ser de fato uma má escolha. Afinal, muitas vezes
somos chamados e como que constrangidos a retornar ao princípio de realidade, e nos
distanciar do excesso de fantasia e de imaginação que povoam nossa mente. Mas o
foco das palavras de Suassuna não parece
recair tanto na necessidade de
"sermos realistas", mas sim, e sobretudo, em sê-lo "com esperança". Se nos
deixarmos inspirar pelas palavras de
Carl Simonton, talvez compreendamos melhor as palavras de Suassuna:
"na ausência da certeza -- afirma ele - nada há de errado com a
esperança". Como se à esperança
coubesse a tarefa de lançar luz e conferir significado à realidade que nos
cerca, e para com a qual somos chamados a assumir alegres e esperançosamente.
Talvez seja esse de fato seu verdadeiro e principal papel: lançar luz e
conferir significado sobre tudo que existe e foi criado!
Quando se tem bons motivos para ser
otimista, e em igual proporção para se ser pessimista, uma opção inevitável se
impõe: ser ou não ser profeta do bom agouro e mensageiro da esperança? A julgar
pelas palavras de Anton Tchékhoy, melhor acreditar e responder que sim. Diz
ele: "o homem é o que ele acredita", enquanto Sidharta Gautama Buda,
também chamado de "O Iluminado", muitos séculos atrás já ensinava:
"somos o que pensamos. Tudo que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos
pensamentos construímos nosso
mundo". O escravo e pós liberto filósofo Epicteto afirmava que não são as
coisas, os fatos e as pessoas em si mesmos considerados que nos inspiram
alegria ou tristeza, pessimismo ou esperança, mas sim a percepção e o
significado que lhes atribuímos com nossa mente. Possivelmente inspirado em Epicteto, o pensador moderno
Marcel Proust nos convida a observar que "a verdadeira descoberta não
consiste em contemplar novas paisagens, mas sim em adquirir novos olhos".
Inspirado, esse tal de Marcel!
À
guisa de conclusão:
Lacan, pós-freudiano, deixou dentre seus vários escritos um Seminário cujo
título é: "0 poder mágico da palavra". Séculos antes o escritor e
historiador Ésquilo observava que "as palavras são um remédio para a alma
que sofre". Mais recentemente Ana Ó, a primeira paciente de Freud, definiu
a Psicanálise como sendo "a cura pela fala". Se portanto temosr
exemplos de sobra para acreditar que a palavra humana tem um poder divino,
criativo e curativo, verdadeiramente mágico como afirma Lacan, a paradoxalidade
de praticamente tudo que é humano não nos permite esquecer que tal poder pode
ser tanto para o bem como para o mal. Lou Marinoff chama a isso de
"princípio do duplo poder". Quando portadoras de luz e de esperança
as palavras trazem consigo remédio, otimismo e até cura; quando porém
portadoras de pessimismo e negativismo, trazem consigo mal-estar, enfermidade,
e muitas vezes até morte; se não do corpo, com certeza da alma e do espírito.
Segundo René Pascal, para quem "o
coração tem razões que a própria razão desconhece", "Deus é uma aposta, uma espécie de
investimento para com o qual sobram razões para se investir. O mesmo podemos
dizer da vida: "apesar da dor, sofrimento e provações que por vezes ela
nos impõe, ela é e será sempre um verdadeiro show, um maravilhoso
espetáculo", como nos lembra Rubem Alves. Um investimento, sempre é bom
lembrar, que para uns pode ser de curto, para outros de médio, e para outros
ainda, de longo prazo. Cabe a cada um de nós decidir se vamos - e o "quanto"
vamos investir nesses dois bens, Deus e
a vida, acreditando que são investimentos nos quais vale realmente a pena
correr os riscos. Sem dúvida cada Novo Ano é um dom e um graça, a todos e a
cada um de nós divinamente concedida. Fazer porém com que cada Ano Novo seja
realmente "Novo e Renovado", é a tarefa que nos cabe, um autêntico
mandato e, por que não, uma verdadeira missão. Isso entretanto só é possível
com novas crenças, ressignificacões e
rematrizacões de nossa parte, bem
como com novas posturas e atitudes e disposições. Só assim estaremos
respondendo à altura, positiva e afirmativamente, a esse grande desafio: fazer
com que "cada Ano Novo" seja de fato portador de uma " VIDA
NOVA". Cada novo dia que se renova é a certeza de que estamos sendo mais
uma vez confrontados com esse desafio!
(L.S.M.)
(*) Reflexão enviada pelo
whatsapp, de Vitória(ES).
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