“SEGUI-ME E EU FAREI DE
VÓS PESCADORES DE HOMENS”
Depois da prisão de
João Batista, Jesus inicia seu ministério público na Galileia. É exatamente a
partir de sua região, que Jesus vai ao encontro dos povos envolvidos pelas
trevas, para ser para eles a grande luz. Luz tem um forte acento antropológico,
pois ela serve para delinear caminhos, mostrar quem somos, com quem estamos e
onde estamos. A luz, portanto, nos situa, nos permite ver. O evangelista nos
convida à conversão, isto é, a abandonar uma vida na escuridão, deixar para
trás as trevas do mal e do pecado e enveredar pelo caminho de Jesus que é o
caminho da luz. No centro da narrativa, vamos encontrar o chamado dos primeiros
discípulos. É comovente como o evangelista nos narra este chamado. Jesus anda à
beira do mar da Galileia, também conhecido como Mar de Tiberíades ou lago de
Genesaré. É um extenso lago de água doce. Neste caminhar de Jesus, ele avista
dois homens, que são irmãos: Simão e André. Os dois estão exercendo seu ofício,
isto é, pescando, quando são avistados pelo Senhor. O texto faz questão de
identificar a profissão deles: eram pescadores. O seguimento de Jesus não é
caracterizado por falta do que fazer. Ele não segue o Mestre porque não tem
outras opções na vida. Ao contrário, seus primeiros discípulos tinham e
exerciam um ofício. Vocação, no sentido etimológico significa um chamado da
parte de Jesus. Não somos nós que nos auto chamamos. Ele nos escolhe. É Ele que
nos vê primeiro e nos escolhe. É essencial a chamada de Jesus: “Segui-me!”.
Assim, a vocação cristã, para ser autêntica, precisa ter um chamamento da parte
de Jesus. Ao mesmo tempo, o texto nos mostra que a vocação exige uma
disponibilidade total: “eles largaram tudo o que tinham nas mãos e o seguiram.
É um fazer-se pobre, ter “mãos vazias”, limpas, desapegadas de tudo. Ao mesmo tempo,
segui-lo significa assumir o compromisso de trabalhar pelo reino. “eu farei de
vós pescadores de homens”, isto é, ao mesmo tempo que somos chamados, somos
também enviados como continuadores do anúncio, gastando a nossa vida na
pregação da Palavra de Deus. Jesus continua chamando. O texto nos diz que Ele
caminhou mais e viu outros dois irmãos: Tiago e João. Vale destacar aqui como
Jesus nos olha, pois o chamado é precedido pelo verbo ver. Primeiro Ele nos
olha, não com o olhar da carne, mas com o olhar de misericórdia, e só depois
ele nos elege: “Segui-me!” Em toda vocação, então, podemos entrever, antes de
tudo, um ato de misericórdia. Não é uma escolha aleatória, e ao mesmo tempo ela
não cai numa espécie de vazio. É uma escolha feita a pessoas concretas. Enfim,
o texto de Mt 4,12-23 nos apresenta o relato da vocação junto ao lago. Neste
relato, Jesus vai onde estamos, entra em nossa realidade, pisa o chão que
pisamos e nos faz o convite que nos desinstala para sairmos e nos tornarmos
seus discípulos, isto é, para aprender dele e com Ele a pregar o Evangelho.
Esta é a grande missão da Igreja, como vocacionada de Cristo: aprender dele e
com Ele a anunciara cada dia de novo o seu Evangelho. Rezemos todos neste
domingo, para que, inspirados pelo Evangelho, possamos também ser esses
evangelizadores, isto é, pescadores de homens, assim como foram os primeiros
discípulos.
Dom Cícero A. de França
Bispo Auxiliar de São Paulo
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