A caminhada de Jesus na Galileia
Os
capítulos 4,14 – 9,50 narram os acontecimentos da primeira etapa desta
caminhada que acontece na Galileia. Vale a pena perceber que acontecimentos são
estes e que interesse tem Lucas em narrá-los.
Por: Carlos Frederico Schlaepfer
Todo o Evangelho de Lucas está
voltado para Jerusalém, isto é, a pregação e a ação de Jesus é apresentada
conforme uma viagem do próprio Jesus, partindo da Galileia em direção a Jerusalém.
Esta viagem tem por objetivo mostrar que é em Jerusalém, o centro do poder
judaico, que Jesus vai se apresentar verdadeiramente como o Messias que vem
mostrar o caminho da libertação para todos os povos.
Os
capítulos 4,14 – 9,50 narram os acontecimentos da primeira etapa desta
caminhada que acontece na Galileia. Vale a pena perceber que acontecimentos são
estes e que interesse tem Lucas em narrá-los.
Jesus
inicia o seu ministério na Galileia,
região ao norte da palestina, onde se encontravam pequenos e grandes
proprietários de terras, além de um grande número de trabalhadores rurais,
sofrendo o peso dos tributos e das leis sobre os seus ombros. Por esta razão
era da Galileia que se insurgiram vários grupos com lideranças esporádicas,
buscando a libertação do jugo romano. Foi também da Galileia que nasceu o grupo
dos Zelotes que pelos anos 68 a 70 se rebelaram contra os Romanos provocando a
destruição de Jerusalém, fato muito importante tanto para os judeus, como para
os cristãos. A Região da Galileia era considerada portanto, lugar de
bandoleiros, subversivos, pessoas de segunda categoria, aos olhos dos poderosos
de Jerusalém. Tratava-se sempre de uma ameaça ao poder estabelecido. Jesus foi
criado nesta região. Daí que muitas vezes tratavam-no como o Galileu. Sua
residência era em Nazaré cidade pequena onde em dia de Sábado Jesus dá início
ao seu trabalho de pregar a Boa Nova do Reino de Deus e mostrar através de sua
prática que este Reino está presente no meio de nós. (Lc 4,14-21).
As
primeiras palavras de Jesus em sua terra, de início provocam admiração; afinal,
estava lendo o profeta Isaías 61,1-2. Porém, quando atualiza esta leitura,
mostrando que o Espírito tem liberdade para agir onde quer e que a salvação não
depende da pertença a um povo ou do seguimento cego da Lei, mas está aberta a
todos quantos queiram abraçá-la através da proposta do Reino de Deus que chega
primeiramente aos pobres, marginalizados, oprimidos, muitos dos que estavam
ouvindo Jesus ficam furiosos a ponto de expulsá-lo de Nazaré, cidade onde se
criara. Escreve Lucas que ele prosseguia o seu caminho (Lc 4,30).
Se
compararmos o Evangelho de Lucas com
o Evangelho de Marcos, vemos que existe semelhança entre Lc 4,31-6,19 e Mc
1,21-3,19. A partir de Lc 6,20 as semelhanças desaparecem para novamente
voltarem em Lc 8,4-9,50 com Mc 4,1-9,40. Estes textos que não estão em
semelhança com Marcos, Lucas provavelmente foi buscar em algum material que
trazia principalmente os discursos de Jesus, pois aí temos: 6,20-26 – As bem
aventuranças e as maldições; 6,27-35 – o amor aos inimigos; 6,36-38 – A
misericórdia e a gratuidade; 6,39-49 – a autenticidade no seguimento de Jesus.
Já no capítulo 7, Jesus cura o servo do centurião (Lc 7,1-10), revive o filho
da viúva de Naim (7,11-17) e na casa de um fariseu é ungido por uma mulher
pecadora (Lc 7, 36-50). Estes três episódios mostram Jesus voltado para os
pagãos, impuros e pecadores. Desta forma vai sendo colocado em prática o que
Ele havia anunciado na Sinagoga de Nazaré. Lucas coloca também neste capítulo, o
diálogo de Jesus com os discípulos de João Batista (Lc 7,18-35).
Na
caminhada de Jesus pela Galileia,
aparecem duas estradas: Uma é a estrada das ações de Jesus; outra é a estrada
da pregação de Jesus. Ambas as estradas vão se encontrar em um ponto que é
comum: A Boa Nova do Reino de Deus que chega aos pobres e marginalizados. Lucas
através desta caminhada de Jesus pela Galileia mostra a força e o poder de
Jesus, em contraste direto à força e ao poder dominante que não consegue
derrotar Jesus. É importante ter presente que esta chegada do Reino de Deus
através de Jesus, está pleno de misericórdia e perdão, condições indispensáveis
para que o Reino possa acontecer no meio dos homens e mulheres de todos os
tempos.
(Instituto
Teológico Franciscano)
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