NOTÍCIAS DA IGREJA CATÓLICA
1.
VATICANO E PAPA FRANCISCO
Bento
XVI deixou um patrimônio sobre as verdades de fé
Vatican News
Os últimos atos cumpridos na discrição após a
infinita homenagem pública. Na noite de quarta-feira, depois de estar no centro
da peregrinação ininterrupta de mais de 200.000 pessoas à Basílica do Vaticano
durante três dias, o corpo de Bento XVI foi encerrado em um caixão de cipreste,
no qual foram colocados o pálio, moedas e medalhas do pontificado e o 'Rogito',
um texto guardado num cilindro de metal que recorda os traços marcantes da vida
e do ministério do Papa emérito, desde o seu nascimento até aos seus últimos
dias. O texto do 'Rogito' foi lido pelo mestre das celebrações litúrgicas
pontifícias, monsenhor Diego Ravelli. Após o funeral presidido pelo Papa
Francisco, o caixão de cipreste será colocado em um revestimento de zinco e
depois em um caixão de madeira para ser finalmente tumulado nas Grutas do
Vaticano.
Segue abaixo a íntegra do 'Rogito':
À luz de Cristo ressuscitado dos mortos, no dia 31
de dezembro do ano do Senhor 2022, às 9h34 da manhã, quando terminava o ano e
estávamos prontos para cantar o Te
Deum pelos múltiplos benefícios concedidos pelo Senhor, o o amado
Pastor emérito da Igreja, Bento XVI, passou deste mundo ao Pai. Toda a Igreja
junto com o Santo Padre Francisco em oração acompanharam seu trânsito.
Bento XVI foi o 265° Papa. Sua memória permanece no
coração da Igreja e de toda a humanidade.
Joseph Aloisius Ratzinger, eleito Papa em 19 de
abril de 2005, nasceu em Marktl am Inn, no território da Diocese de Passau
(Alemanha), em 16 de abril de 1927. Seu pai era comissário de polícia e vinha
de uma família de agricultores na Baixa Baviera, cujas condições econômicas
eram bastante modestas. A mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago Chiem,
e antes de se casar trabalhou como cozinheira em vários hotéis.
Passou a infância e a adolescência em Traunstein,
pequena cidade perto da fronteira com a Áustria, a cerca de trinta quilômetros
de Salzburgo, onde recebeu sua formação cristã, humana e cultural.
O tempo de sua juventude não foi fácil. A fé e a
educação da sua família prepararam-no para a dura experiência dos problemas
associados ao regime nazista, conhecendo o clima de forte hostilidade para com
a Igreja Católica na Alemanha. Nessa situação complexa, ele descobriu a beleza
e a verdade da fé em Cristo.
De 1946 a 1951 estudou na Escola Superior de
Filosofia e Teologia de Freising e na Universidade de Munique. Em 29 de junho
de 1951 foi ordenado sacerdote, iniciando no ano seguinte a atividade docente
na mesma Escola de Freising. Posteriormente, foi docente em Bonn, Münster,
Tübingen e Regensburg.
Em 1962 tornou-se perito oficial do Concílio
Vaticano II, como assistente do Cardeal Joseph Frings. Em 25 de março de 1977,
o Papa Paulo VI o nomeou arcebispo de München e Freising e recebeu a ordenação
episcopal em 28 de maio do mesmo ano. Como lema episcopal escolheu "Cooperatores Veritatis".
O Papa Montini o criou e o proclamou Cardeal,
atribuindo a ele o título de Santa Maria Consolatrice al Tiburtino, no
Consistório de 27 de junho de 1977.
Em 25 de novembro de 1981, João Paulo II o nomeou
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; e em 15 de fevereiro do ano
seguinte renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese de München und Freising.
Em 6 de novembro de 1998 foi nomeado Vice-Decano do
Colégio dos Cardeais e em 30 de novembro de 2002 tornou-se Decano, tomando
posse do Título da Igreja Suburbicariana de Ostia.
Na sexta-feira, 8 de abril de 2005, presidiu a
Santa Missa fúnebre de João Paulo II na Praça de São Pedro.
Ele foi eleito Papa pelos Cardeais reunidos no
Conclave em 19 de abril de 2005 e assumiu o nome de Bento XVI. Da sacada
central da Basílica apresentou-se como “humilde trabalhador na vinha do
Senhor”. No domingo, 24 de abril de 2005, iniciou solenemente o seu ministério
petrino.
Bento XVI colocou no centro de seu pontificado o
tema de Deus e da fé, na procura contínua da face do Senhor Jesus Cristo e
ajudando todos a conhecê-lo, em particular mediante a publicação da obra Jesus
de Nazaré, em três volumes. Dotado de vasto e profundo conhecimento bíblico e
teológico, teve a extraordinária capacidade de elaborar sínteses iluminadoras
sobre os principais temas doutrinários e espirituais, bem como sobre as
questões cruciais da vida da Igreja e da cultura contemporânea.
Ele promoveu com sucesso o diálogo com anglicanos,
com os judeus e com os representantes de outras religiões; assim como retomou
os contatos com os padres da Comunidade São Pio X.
Na manhã de 11 de fevereiro de 2013, durante um
Consistório convocado para decisões ordinárias sobre três canonizações, após o
voto dos Cardeais, o Papa leu a seguinte declaração em latim: «Bene
conscius sum hoc munus secundum suam essentiam spiritualem non solum agendo et
loquendo exerceri debere, sed non minus patiendo et orando. Attamen in mundo
nostri temporis rapidis mutationibus subiecto et quaestionibus magni ponderis
pro vita fidei perturbato ad navem Sancti Petri gubernandam et ad annuntiandum
Evangelium etiam vigor quidam corporis et animae necessarius est, qui ultimis
mensibus in me modo tali minuitur, ut incapacitatem meam ad ministerium mihi
commissum bene administrandum agnoscere debeam. Quapropter bene conscius
ponderis huius actus plena libertate declaro me ministerio Episcopi Romae,
Successoris Sancti Petri, mihi per manus Cardinalium die 19 aprilis MMV
commisso renuntiare ita ut a die 28 februarii MMXIII, hora 20, sedes Romae,
sedes Sancti Petri vacet et Conclave ad eligendum novum Summum Pontificem ab
his quibus competit convocandum esse».
Na última Audiência Geral do pontificado, em 27 de
fevereiro de 2013, ao agradecer todos e cada um também pelo respeito e
compreensão com que sua decisão foi acolhida, garantiu: «Continuarei a
acompanhar o caminho da Igreja com a oração e a reflexão, com aquela dedicação
ao Senhor e à sua Esposa que tenho procurado viver até agora todos os dias e
que gostaria de viver sempre».
Após uma breve permanência na residência de Castel
Gandolfo, viveu os últimos anos de sua vida no Vaticano, no mosteiro Mater Ecclesiae, dedicando-se à
oração e à meditação.
O magistério doutrinal de Bento XVI está
sintetizado nas três Encíclicas Deus
caritas est (25 de dezembro de 2005), Spe salvi (30 de novembro de 2007) e Caritas in veritate (29 de junho
de 2009). Entregou à Igreja quatro Exortações Apostólicas, numerosas
Constituições Apostólicas, Cartas Apostólicas, bem como as Catequeses propostas
nas Audiências Gerais e as alocuções, inclusive as pronunciadas durante as
vinte e quatro viagens apostólicas que realizou pelo mundo.
Diante do relativismo crescente e do ateísmo
prático sempre mais difundido, em 2010, com o motu proprio Ubicumque et sempre, instituiu o
Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, para o qual em
janeiro de 2013 transferiu as responsabilidades no campo da catequese.
Lutou firmemente contra os crimes cometidos por
representantes do clero contra menores ou pessoas vulneráveis, chamando
continuamente a Igreja à conversão, à oração, à penitência e à purificação.
Como teólogo de reconhecida autoridade, deixou um
rico patrimônio de estudos e pesquisas sobre as verdades fundamentais da fé.
CORPUS
BENEDICTI XVI P.M.
VIXIT A. XCV M. VIII D. XV
ECCLESIÆ UNIVERSÆ PRÆFUIT A. VII M. X D. IX
A D. XIX M. APR. A. MMV AD D.
XXVIII M. FEB. A. MMXIII
DECESSIT DIE XXXI M. DECEMBRIS ANNO DOMINI MMXXII
Semper in Christo vivas,
Pater Sancte!
https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2023-01/bento-xvi-funeral-rogito-moedas-palios.html
Francisco
reorganiza o Vicariato de Roma: mais colegial e mais ligado ao Papa
Publicada a Constituição
Apostólica 'In Ecclesiarum Communione', em substituição à 'Ecclesia in Urbe' de
João Paulo II de 1988. Estará em vigor a partir de 31 de janeiro. Foi reforçado
o papel do Conselho Episcopal, "órgão primário da Sinodalidade" e
"lugar preminente do discernimento e das decisões pastorais e
administrativas". O Papa está mais presente nas questões relevantes do
Vicariato. Foram criados dois órgãos fiscalizadores para finanças e abusos
Salvatore
Cernuzio - Cidade do Vaticano
Uma
maior colegialidade e, ao mesmo tempo, uma maior presença do Papa, como bispo
de Roma, em todas as decisões pastorais, administrativas e econômicas
importantes (desde as nomeações até os regulamentos e programas pastorais) da
diocese de Roma, onde sempre será o Papa a presidir o Conselho Episcopal, o
"órgão primário da Sinodalidade", e onde as atividades de alguns
ofícios do Vicariato cessam ou mudam. Desaparecem encargos como o do prelado
secretário geral, são criados novos órgãos de supervisão das finanças e dos
abusos, e a duração do mandato do pessoal administrativo é fixada em cinco
anos, prorrogáveis apenas por mais cinco anos. Todas estas são novidades
introduzidas pela In Ecclesiarum Communione, a nova constituição
apostólica publicada hoje que revoga a anterior Ecclesia in Urbe de
1988 de João Paulo II e reorganiza a ordem do Vicariato, que no ano passado
passou por uma auditoria interna sobre alguns aspectos da administração e
procedimentos. Segundo o documento, o Papa Francisco nomeou como novo
vice-gerente o Bispo Auxiliar Baldassare Reina e publicou um Decreto para a
designação dos setores, áreas e serviços pastorais dos sete bispos auxiliares.
Roma e as dificuldades do
povo
Em
vigor a partir do próximo 31 de janeiro de 2023, a Constituição abre com um
proêmio em que Francisco traça uma profunda reflexão sobre sua diocese, Roma,
da qual ele lembra a importância do ponto de vista eclesial, mas também as
dificuldades das pessoas que ali vivem e as atividades em favor dos grupos sociais
mais frágeis. A segunda parte, por outro lado, lista os 45 artigos que fazem
parte dos artigos da precedente Constituição, enquanto introduz vários aspectos
novos. A partir da figura do Cardeal Vigário, definida pela primeira vez como
"auxiliar", ao papel mais proeminente do Conselho Episcopal ou, mais
detalhadamente, o nome dos diversos Escritórios (todos eles se tornam
"Escritório" e não, como até agora, em alguns casos,
"serviço" ou "centro").
Impulso evangelizador e
sinodal
A
reforma, que está idealmente inserida nos traços da Praedicate
Evangelium, tem um objetivo preciso: restaurar "o impulso
evangelizador e sinodal" ao Vicariato de Roma, para que, escreve o Papa
Francisco, possa ser "um lugar exemplar de comunhão, diálogo e
proximidade, acolhedor e transparente a serviço da renovação e crescimento
pastoral da Diocese de Roma".
"A
colegialidade episcopal e a participação ativa de cada batizado" são o
horizonte no qual o Papa enquadra a missão de sua Diocese, a fim de superar
"a tentação pelagiana que reduz tudo ao enésimo plano de mudança de
estruturas, mas enraizada em Cristo e deixando-se conduzir pelo Espírito".
No texto, o Pontífice reitera que "a Igreja perde sua credibilidade quando
está cheia do que não é essencial para sua missão ou, pior ainda, quando seus
membros, às vezes mesmo aqueles investidos de autoridade ministerial, são fonte
de escândalo com seu comportamento infiel ao Evangelho". De fato,
Francisco enumera "alguns dos compromissos mais sérios e urgentes"
que exigem a ação pastoral do Vicariato. Estes incluem a vigilância sobre a
gestão econômica "para que seja prudente e responsável" e
"conduzida de forma coerente com o fim que justifica a posse de bens pela
Igreja".
O Cardeal Vigário
Ao
detalhar os 45 artigos da Constituição, o Papa se detém sobre as figuras
preminentes do Vicariato: o Cardeal Vigário, o Vigário e os Bispos Auxiliares.
Todos, escreve, "são nomeados por mim por tempo indeterminado e cessam
suas funções por meu decreto".
O
Vigário - como já estabelecido pela Ecclesia de Urbe -
continua a exercer "o ministério episcopal de magistério, santificação e
governo pastoral da Diocese de Roma com poder vicário ordinário", nos
termos estabelecidos pelo Papa. Ele também é "juiz ordinário da Diocese de
Roma". "O extenso compromisso que o governo da Igreja universal exige
faz com que seja necessário que eu assista aos cuidados da Diocese de Roma. Por
este motivo nomeio um cardeal como meu auxiliar e vigário geral". "O
Cardeal Vigário", escreve o Papa, "me manterá informado periodicamente
e sempre que julgar necessário sobre a atividade pastoral e a vida da
diocese". Em particular, ele não empreenderá iniciativas importantes ou
iniciativas que excedam a administração ordinária sem primeiro me
informar".
O papel do Conselho
Episcopal fortalecido
O
papel do Conselho Episcopal é reforçado na In Ecclesiarum Communione,
que se torna o "órgão primário da Sinodalidade" e "o lugar
preminente do discernimento e das decisões pastorais e administrativas".
Será o Papa quem o presidirá em reuniões previstas pelo menos três vezes por
mês: "A agenda de cada reunião deve ser enviada a mim o quanto
antes", estipula Francisco. Da mesma forma, "as atas das reuniões do
Conselho Episcopal são redigidas pelo bispo auxiliar que atua como secretário,
designado no início do Conselho, que deve ser enviado a mim, e a ser guardado
em uma seção especial do Arquivo geral diocesano".
"O
Cardeal Vigário", prossegue o Papa, "em sua função de coordenar da
pastoral diocesana, age sempre em comunhão com o Conselho Episcopal, de modo
que ele só se afastará de sua opinião concorrente depois de ter avaliado o
assunto comigo". O Conselho Episcopal também deve dar seu consentimento
para a nomeação de capelães, reitores das igrejas e responsáveis pelo serviço
pastoral. É também responsável pela elaboração e verificação do programa
pastoral diocesano, bem como pela formulação das diretrizes para a ação
pastoral, que, no entanto, escreve o Papa, "deve ser aprovada pelo Cardeal
Vigário e ratificada por mim".
O Conselho Diocesano para
Assuntos Econômicos
Também
devem ser aprovados pelo Papa os regulamentos que regem o Conselho Diocesano de
Assuntos Econômicos, órgão que assiste o Papa na administração econômica da
diocese, indicando também "critérios de transparência na gestão dos fundos".
"É sua tarefa traduzir as indicações de caráter pastoral em concretas
disposições econômicas e financeiras. Deve preparar anualmente o orçamento para
a gestão econômica da Diocese de Roma e aprovar o balanço final das entradas e
despesas a ser submetido à minha aprovação definitiva".
Uma Comissão Independente
de Vigilância
Na
mesma linha, no Vicariato de Roma foi estabelecida uma Comissão Independente de
Vigilância como órgão de controle interno, com seu próprio Regulamento aprovado
pelo Papa, composta por seis membros, também nomeados pelo Papa, "com
certificada competência jurídica, civil e canônica, financeira e
administrativa, livre de possíveis conflitos de interesse, por um período de
três anos". Uma vez por ano deve apresentar um relatório ao Papa após ter
se reunido mensalmente e "ter verificado o progresso administrativo,
econômico e de trabalho do Vicariato".
O Vice-gerente
A
nova Constituição muda o papel do vice-gerente, que de fato absorve as funções
do " prelado secretário", regulamentadas no artigo 18 da Constituição
anterior, cuja figura não aparece na nova ordem. O vice-gerente - lê-se -
"assiste o Cardeal Vigário", "coordena a administração interna
da Cúria diocesana", "dirige os escritórios que compõem o Serviço da
Secretaria Geral do Vicariato". Ele também tem "a tarefa de moderar
os escritórios do Vicariato no exercício de suas funções" e "zelar
para que os funcionários do Vicariato executem fielmente as tarefas que lhes
foram confiadas". Também ao Vice-gerente, no Decreto citado, o Papa
atribui a função preposto do Palácio Apostólico Lateranense e a tarefa de
"verificar e submeter quaisquer novos estatutos e regulamentos" da
Obra Romana Peregrinações, Cáritas, Obra Romana Preservação da Fé, Fundações,
Confrarias, Arquiconfrarias e Entidades ligadas ao Vicariato.
Bispos Auxiliares
Sobre
os bispos auxiliares, o Papa escreve: "Eles são meus vigários episcopais e
têm poder de vigário comum no setor territorial para o qual foram nomeados por
mim". Nos quatro setores "tomam as decisões pastorais e
administrativas adequadas em relação ao seu próprio território com cuidadoso
discernimento e, depois de ter ouvido o parecer dos outros membros do Conselho
Episcopal, de acordo com o Cardeal Vigário, realizam os atos administrativos de
sua competência".
Nomeação de párocos e
ordenações
Novas
- e muito detalhadas - regras também se aplicam ao procedimento de seleção de
novos párocos, cujas "características espirituais, psicológicas,
intelectuais e pastorais e experiência no serviço anterior, se houver, também
devem ser avaliadas". No caso de candidatos mais jovens, deve-se conhecer
"a opinião dos formadores" e "dos bispos que conhecem a
personalidade e experiências anteriores". "O Cardeal Vigário, tendo
concluído o processo", estabelece o Papa, "me submeterá os candidatos
ao cargo de pároco para eventual nomeação, e nomeará os vice-párocos".
Também ao Papa, o vigário, em vista das ordenações diaconais e presbiterais,
apresentará o perfil dos "candidatos à eventual admissão nas Ordens Sagradas,
tendo obtido o consentimento do Conselho Episcopal".
Organograma
Por
fim, no organograma geral, são acrescentados novos cargos (por exemplo, o da
Pastoral Carcerária), desaparece o Tribunal de Apelação ("As causas que
foram devolvidos ao Tribunal de Apelação do Vicariato de Roma são tratadas e
decididas pelo Tribunal da Rota Romana", lê-se) e é criado o Serviço para
a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis, que se reporta ao Conselho
Episcopal através do bispo auxiliar nomeado pelo Papa.
https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-01/papa-francisco-constituicao-apostolica-ecclesiarum-communione.htmlhttps://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-01/papa-francisco-constituicao-apostolica-ecclesiarum-communione.html
A gratidão do Papa a Bento
XVI: Só Deus conhece seus sacrifícios pelo bem da Igreja
"Com
comoção, recordamos a sua pessoa tão nobre, tão amável. E no coração sentimos
tanta gratidão: gratidão a Deus por tê-lo dado à Igreja e ao mundo; gratidão a
ele, por todo o bem que fez e, sobretudo, por seu testemunho de fé e oração,
especialmente nestes últimos anos de sua vida retirada. Só Deus conhece o valor
e a força da sua intercessão, dos seus sacrifícios oferecidos pelo bem da
Igreja", disse Francisco nas Vésperas na Basílica de São Pedro.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
Gratidão: este foi o sentimento expresso pelo Papa
Francisco ao recordar Bento XVI, que morreu esta manhã aos 95 anos.
Celebrando as Vésperas na Basílica Vaticana, o
Pontífice começou a homilia meditando sobre a frase extraída da segunda
leitura, da Carta de São Paulo aos Gálatas: “Nascido de uma mulher”.
“Ele não nasceu em uma mulher, mas de uma mulher. É
essencialmente diferente: significa que Deus quis ser da mesma carne dela”,
explicou o Papa. Assim, ela começou o lento caminho da gestação de uma
humanidade livre do pecado e repleta de graça e de verdade, repleta de amor e
de fidelidade.
Este caminho prossegue até hoje, com o qual Deus
nos convida a segui-lo através de inúmeras virtudes humanas. Entre elas,
Francisco quis destacar uma: a amabilidade ou gentileza. E eis que aflorou a
lembrança do Papa emérito:
“E por falar em amabilidade,
neste momento, o pensamento se volta espontaneamente para o querido Papa
emérito Bento XVI, que nos deixou esta manhã. Com comoção recordamos a sua
pessoa tão nobre, tão amável. E no coração sentimos tanta gratidão: gratidão a
Deus por tê-lo dado à Igreja e ao mundo; gratidão a ele, por todo o bem que fez
e, sobretudo, por seu testemunho de fé e oração, especialmente nestes últimos
anos de sua vida retirada. Só Deus conhece o valor e a força da sua
intercessão, dos seus sacrifícios oferecidos pelo bem da Igreja.”
Retomando o conceito da amabilidade, Francisco
afirma que se trata de uma virtude indispensável para viver em paz, a ser
recuperada e exercida a cada dia para ir contra a corrente e humanizar nossas
sociedades. Um antídoto contra algumas patologias, como o individualismo
consumista, a crueldade e a ansiedade.
Essas "doenças" do nosso dia a dia nos
tornam agressivos e incapazes de pedir "licença", ou
"desculpa", ou simplesmente dizer "obrigado".
Quando encontramos na rua ou em uma loja uma pessoa
gentil, disse o Papa, ficamos maravilhados, parece-nos um pequeno milagre,
porque infelizmente a amabilidade já não é muito comum. Mas ainda existem
pessoas gentis.
Estes então são os votos do Pontífice:
“Queridos irmãos e irmãs, penso que resgatar a
amabilidade como virtude pessoal e cívica pode ajudar muito a melhorar a vida
nas famílias, nas comunidades e nas cidades. A experiência ensina que ela, ao
se tornar um estilo de vida, pode criar uma convivência saudável, pode
humanizar as relações sociais dissolvendo a agressividade e a indiferença.”
Por fim, uma recomendação a venerar a Mãe de Deus.
Para a celebração das Vésperas, estava na Basílica a imagem de Nossa Senhora do
Carmo de Avigliano, no sul da Itália:
“Não subestimemos o mistério da maternidade divina!
Deixemo-nos maravilhar pela escolha de Deus, que poderia ter aparecido no mundo
de mil maneiras mostrando o seu poder, e ao invés quis ser concebido livremente
no seio de Maria. (...) Não passemos apressados, paremos para contemplar e
meditar, porque aqui está um traço essencial do mistério da salvação. E
procuremos aprender o “método” de Deus, o seu respeito infinito, por assim
dizer a sua ‘bondade’, porque na maternidade divina da Virgem está o caminho
para um mundo mais humano.”
Papa: a teologia de Bento XVI, paixão e riquezas
impregnadas de Evangelho
Francisco
escreveu o prefácio de um livro da Libreria Editrice Vaticana "Deus é
sempre novo", que reúne pensamentos espirituais do Papa Emérito: "A
sua argumentação da fé era realizada com a devoção do homem que se entregou
inteiramente a Deus"
PAPA
FRANCISCO
Fico
feliz que o leitor possa ter em mãos este texto de pensamentos espirituais do
falecido Papa Bento XVI. O título já expressa um dos aspectos mais
característicos do magistério e da própria visão da fé do meu predecessor: sim,
Deus é sempre novo porque Ele é fonte e razão da beleza, da graça e da verdade.
Deus nunca é repetitivo, Deus nos surpreende, Deus traz novidade. O frescor
espiritual que transparece destas páginas o confirma com intensidade.
Bento
XVI fazia teologia de joelhos. A sua argumentação da fé era realizada com a
devoção do homem que se entregou inteiramente a Deus e que, sob a guia do
Espírito Santo, buscava uma compenetração cada vez maior do mistério de Jesus
que o fascinara desde sua juventude.
A
coletânea de pensamentos espirituais apresentada nestas páginas mostra a
capacidade criativa de Bento XVI para investigar os vários aspectos do
cristianismo com uma fecundidade de imagens, de linguagem e de perspectiva que
se tornam um estímulo contínuo para cultivar o precioso dom de acolher a Deus
na própria vida. A forma como Bento XVI foi capaz de fazer interagir coração e
razão, pensamento e afetos, racionalidade e emoção é um modelo fecundo sobre
como poder contar a todos a força clamorosa do Evangelho.
O
leitor verá isso confirmado nestas páginas, que representam - também graças à
competência do Editor, a quem vai os nossos sinceros agradecimentos - uma
espécie de “síntese espiritual” dos escritos de Bento XVI: aqui brilha a sua
capacidade de mostrar a profundidade da fé cristã sempre nova. É suficiente um
pequeno florilégio. "Deus é um evento de amor", uma expressão que por
si só faz plena justiça a uma teologia que é sempre harmoniosa entre razão e
afeto. "E que mais nos poderia salvar senão o amor", perguntou aos
jovens na vigília de oração em Colônia, em 2005, meditação adequadamente
recordada aqui, colocando uma pergunta que evoca Fëdor Dostoevskij. E quando
fala da Igreja, sua paixão eclesial o fez pronunciar palavras impregnadas de
pertença e afeto: "Não somos um centro de produção, não somos uma empresa
voltada para o lucro, somos Igreja".
A
profundidade do pensamento de Joseph Ratzinger, que se fundamentava na Sagrada
Escritura e nos Padres da Igreja, ainda hoje nos é útil. Estas páginas abordam
uma série de tópicos espirituais e são um incentivo para que permaneçamos
abertos ao horizonte da eternidade que o cristianismo tem em seu DNA. O
pensamento e o magistério de Bento XVI são e continuarão sendo sempre fecundos
ao longo do tempo, porque souberam se concentrar nas referências fundamentais
da nossa vida cristã: antes de tudo a pessoa e a palavra de Jesus Cristo, e
depois as virtudes teologais, ou seja, a esperança, a fé e a caridade. E por
isso, toda a Igreja lhe será sempre grata. Para sempre.
Em
Bento XVI, a devoção incessante e o magistério iluminado se uniram em uma
aliança harmoniosa. Quantas vezes falou da beleza com palavras comovedoras!
Bento sempre considerou a beleza como uma estrada privilegiada para abrir
homens e mulheres ao transcendente e assim poder encontrar Deus, que para ele
era a mais alta tarefa e a missão mais urgente da Igreja. Em particular, para
ele, a música era uma arte próxima com a qual elevar o espírito e a
interioridade. Mas isto não desviava sua atenção, como verdadeiro homem de fé,
das grandes e espinhosas questões de nosso tempo, observadas e analisadas com
um juízo consciente e um corajoso espírito crítico. Da escuta das Escrituras,
lidas na tradição sempre viva da Igreja, ele foi capaz, desde jovem, de extrair
aquela sabedoria útil e indispensável para estabelecer um diálogo de confronto
com a cultura de seu tempo, como estas páginas confirmam.
Agradecemos
a Deus por ter nos dado o Papa Bento XVI: com a sua palavra e o seu testemunho
nos ensinou que através da reflexão, do pensamento, do estudo, da escuta, do
diálogo e sobretudo da oração é possível servir a Igreja e fazer o bem a toda a
humanidade; nos ofereceu instrumentos intelectuais vivos para que cada crente
possa dar razão da própria esperança, recorrendo a um modo de pensar e de
comunicar que possa ser compreendido por seus contemporâneos. Seu objetivo era
constante: dialogar com todos a fim de buscar juntos os caminhos através dos
quais encontrar Deus.
Esta
busca do diálogo com a cultura do próprio tempo sempre foi um desejo ardente de
Joseph Ratzinger: ele, como teólogo primeiro e como pastor depois, nunca se
limitou a uma cultura meramente intelectualista, desencarnada da história dos
homens e do mundo. Com o seu exemplo de intelectual rico de amor e de
entusiasmo (que etimologicamente significa estar em Deus) mostrou-nos que
buscar a verdade é possível, e que se deixar possuir por ela é o que há de mais
alto que o espírito humano possa alcançar. Neste caminho todas as dimensões do
ser humano, a razão e a fé, a inteligência e a espiritualidade, têm seu próprio
papel e especificidade.
A
plenitude da nossa existência, nos recordou com a palavra e o exemplo Bento
XVI, encontra-se apenas no encontro pessoal com Jesus Cristo, o Vivente, o
Logos encarnado, a revelação plena e definitiva de Deus, que n’Ele se manifesta
como Amor até o fim.
Este
é meu desejo para o leitor: que possa encontrar nestas páginas percorridas pela
voz apaixonada e gentil de um mestre de fé e de esperança a graça de um novo e
vivificante encontro com Jesus.
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