Por uma
Igreja Sinodal: Reflexão pastoral
Por Orani João Tempesta, O. Cist.*
1.
O SÍNODO,
QUESTÕES E ESPERANÇAS
“Amados irmãos
e irmãs! Obrigado por estardes aqui na abertura do Sínodo. Percorrendo diversos
caminhos, viestes de tantas Igrejas, trazendo cada um, no coração, questões e
esperanças; e tenho a certeza de que o Espírito nos guiará e concederá a graça
de avançarmos em conjunto, de nos ouvirmos mutuamente e iniciarmos um
discernimento no nosso tempo, tornando-nos solidários com as fadigas e os
anseios da humanidade. Reitero que o Sínodo não é um parlamento, o Sínodo não é
uma investigação sobre as opiniões; o Sínodo é um momento eclesial, e o
protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. Se não estiver o Espírito, não
haverá sínodo” (papa Francisco, Discurso de abertura do Sínodo, 9/10/2021).
O Santo Padre,
o papa Francisco, convocou, para outubro de 2023, a 16ª Assembleia Ordinária do
Sínodo dos Bispos, que tem por tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão,
participação e missão” e será o ponto alto do processo de escutas diocesanas,
nacionais e continentais que tiveram início em 2021. Somos todos convidados a
participar na oração e nas demais atividades propostas neste momento de grande
graça para a vida da Igreja.
O termo
“sínodo” deriva do grego synodos, que
significa “reunião”. É composto pelo prefixo syn (junto com
/ junto de / junto a) e pelo substantivo hodós (caminho).
O verbo grego synodéo significa “fazer um
caminho com alguém”. A Igreja, ao longo de sua história, concretizou muitos
passos e aprendizados. Foi notadamente no Concílio Vaticano II (1962-1965) que
ela aprofundou a compreensão de que o melhor jeito de ser e de caminhar, para
bem cumprir sua missão, é o “jeito sinodal”.
Ser Igreja
sinodal é o esforço coletivo e a busca contínua de aprendermos a “caminhar
juntos”, como irmãos e irmãs. É um jeito de ser Igreja no qual cada pessoa é
importante, tem voz, é ouvida, capacitada e envolvida na realização da missão.
Já não se trata de estar uns acima dos outros, mas de nos colocarmos unidos
para, juntos, fazermos a experiência de fé diante dos desafios internos e
externos que se apresentam em nosso dia a dia.
2.
O
ESPÍRITO DO SÍNODO: UNIDADE, COMUNHÃO E FRATERNIDADE
“Vivamos este
Sínodo no espírito da ardente oração que Jesus dirigiu ao Pai pelos seus: ‘Para
que todos sejam um’ (Jo 17,21). É a isto que somos chamados: à unidade, à
comunhão, à fraternidade que nasce de nos sentirmos abraçados pelo único amor
de Deus. Todos indistintamente, mas em particular nós, pastores – assim escreve
São Cipriano –, ‘devemos manter e reivindicar com firmeza essa unidade,
sobretudo nós, bispos, que temos a presidência na Igreja, para dar provas de
que o próprio episcopado também é uno e indiviso’ (De Ecclesiae Catholicae
Unitate, n. 5). Por isso, no único povo de Deus, caminhemos em
conjunto para fazer a experiência de uma Igreja que recebe e vive o dom da
unidade e se abre à voz do Espírito” (papa Francisco, Discurso de abertura do
Sínodo, 9/10/2021).
Para tornar
concreta e visível a sinodalidade desejada por Francisco desde o início de seu
pontificado, o Sínodo dos Bispos não está sendo celebrado somente no Vaticano,
mas em cada Igreja particular dos cinco continentes, seguindo um itinerário
trienal articulado em três fases: escuta, discernimento e consulta.
Cristãos
leigos e leigas, sacerdotes, missionários(as), consagrados(as), bispos e
cardeais – mesmo antes de discutir, refletir e questionar-se sobre a
sinodalidade, na assembleia de outubro de 2023 no Vaticano – vêm se
encontrando, portanto, vivendo-a em primeira pessoa. Cada um em sua diocese,
com seu papel e em suas instâncias. “Um processo sinodal integral só será
realizado de forma autêntica se as Igrejas particulares estiverem envolvidas
nele.” Além disso, será importante a participação dos “órgãos intermediários da
sinodalidade, isto é, os sínodos das Igrejas católicas orientais, os conselhos
e assembleias das Igrejas sui iuris e as
conferências episcopais, com suas expressões nacionais, regionais e
continentais”.
Esta é a
primeira vez, na história dessa instituição querida por São Paulo VI – em
resposta ao desejo dos padres conciliares de manter viva a experiência colegial
do Concílio Vaticano II –, que um sínodo começa descentralizado nas Igrejas
particulares.
Em outubro de
2015, o papa Francisco, comemorando o quinquagésimo aniversário dessa
instituição, expressou o desejo de um caminho comum de “leigos, pastores e
bispo de Roma”, por meio do “fortalecimento da assembleia dos bispos e de uma
descentralização salutar”. Aquele desejo agora se torna realidade.
3.
SÍNODO:
COMUNHÃO, PARTICIPAÇÃO E MISSÃO
“As
palavras-chave do Sínodo são: comunhão, participação, missão. Comunhão e missão
são expressões teológicas que designam – e é bom recordá-lo – o mistério da
Igreja. O Concílio Vaticano II esclareceu que a comunhão exprime a própria
natureza da Igreja e, ao mesmo tempo, afirmou que a Igreja recebeu ‘a missão de
anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui
o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra’ (LG 5). E aqui temos a
terceira palavra: participação. Comunhão e missão correm o risco de permanecer
termos meio abstratos, se não se cultiva uma prática eclesial que se exprima em
ações concretas de sinodalidade em cada etapa do caminho e da atividade,
promovendo o efetivo envolvimento de todos e cada um” (papa Francisco, Discurso
de abertura do Sínodo, 9/10/2021).
A palavra
“sínodo” significa, justamente, “caminhar juntos”, e este é o intuito desse
evento: todo o povo de Deus pôr-se à escuta junto com seus pastores. Todos os
fiéis são convidados a participar deste tempo de comunhão de toda a Igreja.
Esse encontro é um momento em que todo o povo pode pensar e rezar junto sobre
os caminhos que a Igreja irá trilhar nos próximos anos.
“Não podemos
deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20). É um convite a cada um
de nós para tornar conhecido o que temos no coração. Essa missão é e sempre foi
a identidade da Igreja: “Ela existe para evangelizar” (Paulo VI, EN 14). Nossa
vida de fé enfraquece, perde a profecia, o encantamento e a gratidão quando
ficamos isolados em nós mesmos ou em pequenos grupos.
Por sua
própria natureza, a vida de fé exige crescente abertura, capaz de alcançar e
abraçar a todos. Por isso, “mesmo os mais frágeis, limitados e feridos podem
ser missionários à sua maneira, porque sempre devemos permitir que o bem seja
comunicado, embora coexista com muitas fragilidades” (Francisco, Christus Vivit, n. 239).
4.
O
SÍNODO E A COMUNHÃO
“Ao encerrar o
Sínodo de 1985, vinte anos depois da conclusão da assembleia conciliar, também
São João Paulo II quis reafirmar que a natureza da Igreja é a koinonia: dela brota a missão de ser sinal de união
íntima da família humana com Deus. E acrescentou: ‘Convém sumamente que na
Igreja se celebrem sínodos ordinários e, se for necessário, também
extraordinários’, os quais, para dar fruto, devem ser bem preparados: ‘é
preciso que nas Igrejas locais se trabalhe pela sua preparação com participação
de todos’ (Discurso de encerramento da 2ª Assembleia Extraordinária do Sínodo
dos Bispos, 7/12/1985)” (papa Francisco, Discurso de abertura do Sínodo,
9/10/2021).
Um tema que
faz parte de nosso testemunho eclesial e é de suma importância para nós,
cristãos católicos, é o da comunhão. A comunhão exprime a própria natureza da
Igreja e a faz contemplar e viver o mistério da vida trinitária, que é comunhão
de pessoas.
A comunhão da
Igreja é obra exclusiva de Deus. Não podemos produzir a comunhão, mas pedi-la e
mantê-la. Todos aqueles que creem em Cristo, em qualquer lugar, em qualquer
tempo, fazem parte da família de Deus e estão ligados ao corpo de Cristo pelo
Espírito.
Só existe um
corpo de Cristo, uma Igreja, um rebanho, um só povo de Deus. Todos aqueles que
nasceram de novo e foram lavados no sangue do Cordeiro fazem parte dessa
bem-aventurada família de Deus. A Igreja é um corpo em que cada membro precisa
ter o mesmo sentir de Cristo. A Igreja é como um coro que deve cantar no mesmo
tom.
Os cristãos
não são competidores, mas cooperadores. Não são rivais, mas parceiros. Não
estão lutando por causas pessoais, mas todos buscando a glória de Deus. Na
Igreja de Deus não devem existir disputas políticas, brigas por cargos, ciúmes
e invejas.
5.
O
SÍNODO E A PARTICIPAÇÃO
“Comunhão e
missão correm o risco de permanecer termos meio abstratos, se não se cultiva
uma práxis eclesial que se exprima em ações concretas de sinodalidade em cada
etapa do caminho e da atividade, promovendo o efetivo envolvimento de todos e
cada um. Naturalmente, celebrar um sínodo é sempre bom e importante, mas só é
verdadeiramente fecundo se se tornar expressão viva do ser Igreja, de um agir
caracterizado por verdadeira participação. E isso não por exigências de estilo,
mas de fé. A participação é uma exigência da fé batismal” (papa Francisco,
Discurso de abertura do Sínodo, 9/10/2021).
O Santo Padre
nos recorda que o batismo é a fonte inicial da nossa vivência de fé e pertença
à Igreja. Dele, nossa fonte de vida, deriva a igual dignidade dos filhos e filhas
de Deus, embora na diferença de ministérios e carismas. Por isso, todos somos
chamados a participar na vida da Igreja e na sua missão: “Se falta uma
participação real de todo o povo de Deus, os discursos sobre a comunhão
arriscam-se a não passar de pias intenções. Participarmos todos é compromisso
eclesial irrenunciável! Para todos os batizados, esta é a carteira de
identidade: o batismo”.
Pertencimento
e participação são duas realidades que caminham juntas. Saber-nos pertencentes
à família dos filhos e filhas de Deus, ingressando pela porta da fé que é o
batismo, faz-nos cada dia mais participantes dos mistérios de Cristo na
vivência da fé, da esperança e da caridade, na celebração litúrgica, na
comunhão eclesial e na missão de passar pelo mundo fazendo o bem.
Em virtude do
batismo, somos chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo. “Os fiéis leigos são os cristãos que estão
incorporados a Cristo pelo batismo, que formam o povo de Deus e participam das
funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Realizam, segundo sua condição, a
missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo. São homens da Igreja no
coração do mundo, e homens do mundo no coração da Igreja” (Documento de Aparecida, n. 209).
6.
O
SÍNODO E A MISSÃO
“Através
destas duas palavras (comunhão e missão), a Igreja contempla e imita a vida da
Santíssima Trindade, mistério de comunhão ad intra e
fonte de missão ad extra. Depois de um tempo de
reflexões doutrinais, teológicas e pastorais que caracterizaram a recepção do
Vaticano II, São Paulo VI quis condensar precisamente nestas duas palavras –
comunhão e missão – ‘as linhas mestras, enunciadas pelo Concílio’. Com efeito,
ao comemorar sua abertura, afirmou que as linhas gerais foram ‘a comunhão, ou
seja, a coesão e a plenitude interior, na graça, na verdade e na colaboração
[…]; e a missão, ou seja, o compromisso apostólico para com o mundo
contemporâneo’ (Ângelus, 11/10/1970), que não é proselitismo” (papa Francisco,
Discurso de abertura do Sínodo, 9/10/2021).
A missão é
única: sermos alegres anunciadores do Cristo, levando a Boa-nova. Sair, partir
e nada levar, apenas a coragem e o amor no coração. “Portanto, ide! Eis que eu
vos envio como cordeiros para o meio dos lobos. Não leveis bolsa, nem mochila
de viagem, nem sandálias; e a ninguém saudeis longamente pelo caminho. Assim
que entrardes numa casa, dizei em primeiro lugar: ‘A paz esteja nesta casa!’”
(Lc 10,3-5).
O anseio da
missão ressoa: “Onde há amor e caridade, Deus aí está”. Este é o núcleo da
missão: levar o amor, não em palavras, mas em atos concretos. Somos chamados a
sair de nosso conforto e partir despojadamente, indo ao encontro do outro, lá
onde ele estiver, para atender às necessidades que tiver. As ações concretas
dessa ação missionária se dão na evangelização dos povos, raças e línguas.
A missão
sempre foi tema importante e central na história da Igreja, desde sua fundação
até nossos dias – como bem nos recorda o papa Francisco nesta convocação
sinodal. Somos chamados à missão de evangelizar com ardor, enfrentando os desafios
dos obstáculos, que sempre podem ser superados.
7.
PRIMEIRO
RISCO NA CAMINHADA SINODAL: O FORMALISMO
“O Sínodo, ao
mesmo tempo que nos proporciona grande oportunidade para a conversão pastoral,
não está isento de alguns riscos. O primeiro é o risco do formalismo. Pode-se
reduzir um Sínodo a um evento extraordinário, mas de fachada, precisamente como
se alguém ficasse a olhar a bela fachada de uma igreja, sem nunca entrar nela.
Pelo contrário, o Sínodo é um percurso de efetivo discernimento espiritual, que
não empreendemos para dar bela imagem de nós mesmos, mas a fim de colaborar
melhor para a obra de Deus na história. Assim, quando falamos de uma Igreja
sinodal, não podemos contentar-nos com a forma, mas temos necessidade também de
substância, instrumentos e estruturas que favoreçam o diálogo e a interação no
povo de Deus, sobretudo entre sacerdotes e leigos” (Papa Francisco, Discurso de
abertura do Sínodo, 9/10/2021).
O termo
“formalismo”, utilizado pelo Papa Francisco para apontar um dos riscos na
caminhada sinodal, deve ser entendido como o perigo de dar prevalência à forma
sobre o conteúdo ou significado. Chamamos de formalismo a atitude de
preocupar-se mais com o modo pelo qual algo deve ser apresentado do que com o
que deve ser apresentado.
Vale lembrar
que o papa não quer fomentar uma atitude de contraposição entre conteúdo e
forma. Os dois são importantes! As diversas estruturas que fazem parte da
organização da Igreja visam favorecer e tornar clara a realidade do mistério de
comunhão que ela é. No entanto, essa comunhão é ameaçada constantemente pelas
feridas que trazemos dentro de nós, as quais não apenas nos dilaceram
interiormente, mas também tendem a dilacerar as diversas realidades sociais em
que estamos inseridos: família, comunidade, sociedade, Igreja etc.
Assim, a
Igreja compreende que precisa estar sempre em reforma; ou, dizendo de outro
modo, sempre em caminho de conversão.
8.
SEGUNDO
RISCO NA CAMINHADA SINODAL: O INTELECTUALISMO
“Um segundo
risco é o do intelectualismo (da abstração; a realidade vai para um lado e nós,
com nossas reflexões, vamos para outro): transformar o Sínodo numa espécie de
grupo de estudo, com intervenções cultas, mas alheias aos problemas da Igreja e
aos males do mundo; uma espécie de ‘falar por falar’, onde se pensa de maneira
superficial e mundana, acabando por cair nas habituais e estéreis
classificações ideológicas e partidárias e alheando-se da realidade do santo
povo de Deus, da vida concreta das comunidades espalhadas pelo mundo” (Papa
Francisco, Discurso de abertura do Sínodo, 9/10/2021).
A caminhada
sinodal é, acima de tudo, uma caminhada de docilidade espiritual. Não constitui
um exercício mecânico de coleta de dados ou uma série de reuniões e debates. A
escuta sinodal tem em vista o discernimento, que nasce da vida de fé, comum a
todo e qualquer batizado. Requer que aprendamos a arte do discernimento pessoal
e comunitário e nos exercitemos nessa arte: escutando-nos uns aos outros,
escutamos nossa tradição de fé e os sinais dos tempos, a fim de discernir o que
Deus está dizendo a todos nós.
O Papa
Francisco caracteriza, no instrumento de trabalho do Sínodo, os dois objetivos
inter-relacionados desse processo de escuta: “escuta de Deus, até ouvir com ele
o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos
chama”.
Enfrentamos
desafios gigantescos atualmente, em todos os níveis. Com a graça do Espírito
Santo, precisamos discernir como ser sal da terra e luz do mundo hoje. A
caminhada sinodal apresenta-se como uma proposta que está no coração da
compreensão do mistério da Igreja, e não simplesmente como uma busca de
estratégias de ação para responder aos desafios deste tempo. Embora seja
necessária a renovação pastoral missionária, o ponto de partida é sempre o
mistério de Deus, que é comunhão de pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
9.
TERCEIRO
RISCO NA CAMINHADA SINODAL: O IMOBILISMO
“Por fim, pode
haver a tentação do imobilismo: dado que ‘se fez sempre assim’ (EG 33) – esta
afirmação ‘fez-se sempre assim’ é um veneno na vida da Igreja –, é melhor não
mudar. Quem se move nesse horizonte, mesmo sem se dar conta, cai no erro de não
levar a sério o tempo em que vivemos. O risco é que, no fim, se adotem soluções
velhas para problemas novos: um remendo de pano cru, que acaba por criar um
rasgão ainda maior (cf. Mt 9,16). Por isso, é importante que o caminho sinodal
seja verdadeiramente tal, que seja um processo em desenvolvimento; envolva, em
diferentes fases e a partir da base, as Igrejas locais, num trabalho apaixonado
e encarnado, que imprima um estilo de comunhão e participação orientado para a
missão” (Papa Francisco, Discurso de abertura do Sínodo, 9/10/2021).
A caminhada
sinodal fundamenta-se em Cristo e segue a orientação do Espírito Santo. A
escuta, a reflexão e a ação ajudam a construir comunidades florescentes e
resilientes para a missão da Igreja hoje. Esse caminho exige movimento, ir
adiante, requer nosso envolvimento humano de forma simples: rezar, refletir,
prestar atenção na disposição interior, escutar e falar uns com os outros de
maneira autêntica, significativa e acolhedora.
A escolha de
uma caminhada sinodal constitui um sinal profético para a família humana, que
tem necessidade de um projeto comum, apto a perseguir o bem de todos. Uma
Igreja capaz de comunhão e de fraternidade, de participação e de
subsidiariedade, em fidelidade ao que anuncia, poderá pôr-se ao lado dos pobres
e dos últimos, emprestando-lhes a própria voz.
A Igreja vem
enfrentando dolorosos desafios internos e externos. Contudo, é precisamente no
enfrentamento desses sulcos cavados pelo sofrimento que novos caminhos
florescem para refundar o caminho da vida cristã e eclesial.
10. UM TEMPO DE GRAÇA PARA UMA IGREJA SINODAL
“Vivamos,
pois, esta ocasião de encontro, escuta e reflexão como um tempo de graça que
nos ofereça, na alegria do Evangelho, pelo menos três oportunidades. Sempre
voltamos ao estilo de Deus: o estilo de Deus é proximidade, compaixão e
ternura. Deus sempre agiu assim. Se não chegarmos a esta Igreja da proximidade
com atitudes de compaixão e ternura, não seremos Igreja do Senhor. E isso não
só em palavras, mas com a presença, de tal modo que se estabeleçam maiores
laços de amizade com a sociedade e o mundo: uma Igreja que não se alheie da
vida, mas cuide das fragilidades e pobrezas do nosso tempo, curando as feridas
e sarando os corações dilacerados com o bálsamo de Deus. Não esqueçamos o
estilo de Deus que nos deve ajudar: proximidade, compaixão e ternura” (papa
Francisco, Discurso de abertura do Sínodo, 9/10/2021).
A sinodalidade
fala daquilo que, de maneira misteriosa, o sacramento do batismo realizou em
nós. Fomos unidos a Cristo de forma tão radical, que somos seu corpo. O batismo
é a porta e o fundamento da comunhão na Igreja, e a Eucaristia é a fonte e o
ápice de toda a vida cristã (LG 11). O Sínodo é uma ferramenta que se nos
oferece para que partilhemos ainda mais a riqueza que cada um possui em vista
da missão.
A sinodalidade
implica receptividade à mudança, formação e aprendizagem permanente. Nossa
comunidade eclesial forma pessoas mais capazes de caminhar juntas, de se
ouvirem umas às outras, de participar na missão e de se empenharem no diálogo?
Que formação é dada para fomentar o discernimento e o exercício da autoridade
de forma sinodal?
Com certeza o
Espírito nos guiará e concederá a graça de avançarmos em conjunto, de nos
ouvirmos mutuamente e iniciarmos um discernimento no nosso tempo, tornando-nos
solidários com as fadigas e os anseios da humanidade.
Orani
João Tempesta, O. Cist.*
é cardeal
arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro.
https://www.vidapastoral.com.br/edicao/pot-ums-igreja-sinodal-reflexao-pastoral/
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