REFLEXÃO I
CONTARAM O QUE ACONTECEU PELO CAMINHO E COMO O
RECONHECERAM AO PARTIR O PÃO
Eles não sabiam para
onde ir, por isso pensaram em voltar. Não fazia mais sentido ficar em
Jerusalém. Tinham subido para lá com Ele e por causa d’Ele. Mas, Ele tinha sido
traído, preso, condenado e crucificado. Para que continuar ali? Os outros
ficaram. Mas não estavam tão seguros. Eles esperariam a poeira baixar para
também voltarem à vida de antes. A conversa de algumas mulheres não lhes tinha
impressionado. Não parecia conversa de gente sensata. Era só questão de tempo e
também as mulheres voltariam a seus afazeres de antes. Porém, no coração, a
poeira não conseguia assentar. Não conseguiam parar de falar d’Ele. Quando um
estranho se aproxima e entra na conversa eles acabam abrindo o coração. Estavam
tristes demais! Precisavam desabafar. Mas, não pensavam que o estranho pudesse
ter palavras que dessem sentido àquela tragédia. Se as coisas fossem como Ele
falava, que maravilha seria! Também era inócua aquela versão dos acontecimentos
a partir de algumas Escrituras. Mas o raciocínio era belíssimo! Não dava para
interrompê-Lo. Mais que isso. Não queriam que Ele parasse de expor aquele ponto
de vista tão cheio de fé e esperança. Resolveram que queriam ouvi-Lo mais. A
tristeza tinha ficado para trás. Depois de muita insistência, o companheiro de
caminhada aceita ficar. Quando se põem à mesa, ele parte o pão. Daí eles se
lembraram do dia em que Ele tinha se reunido com os discípulos antes de ser
traído. Recordaram que Ele tinha abençoado e partido o pão daquele jeito.
Parecia que o homem também tinha estado lá. De repente, eles voltam daquele
sonho de distração que girava em torno da morte e perceberam. O estranho não
esteve também lá com eles. Ele era Ele! Aquele de quem falavam. Aquele por quem
sofriam. Aquele com quem falavam. Aquele que lhes falava. Antes que pudessem
dizer qualquer coisa, Ele desapareceu. Ou melhor, Ele deixou de ser visto. Eles
não acreditavam que Ele tivesse desaparecido ou que fosse apenas uma ilusão.
Tinham certeza de que era Ele. Por causa do partir do pão, tinham certeza de
que Ele estava vivo. Se a presença e a conversa, apesar de encantarem tanto,
não tinham sido suficientes para identificá-Lo, o gesto, mesmo silencioso e
simples, tinha sido exato para que a palavra e a presença se manifestassem mais
vivos do que nunca. Faz mais do que vinte séculos que o gesto de partir o pão
tem servido para manifestar a presença e a divindade Daquele que tinha dito aos
discípulos: “Fazei isto em minha memória.” Ele foi reconhecido nesses dois mil
anos pelo partir do pão. E seus discípulos passaram também a ser reconhecidos
por essa celebração, que realizam para serem fiéis às suas palavras. Hoje em
dia, muita gente vai à missa para procurar coisas belas e justas. Às vezes,
atrás de palavras sensatas, para afrontar o sentimento de falta de sentido da vida.
Às vezes, atrás de experiências alegres, para ajudar a enfrentar a tristeza de
seus fracassos e desilusões. Mas nada disso pode substituir a experiência do
encontro no pão e no vinho abençoados, consagrados e repartidos. Nenhuma
homilia bonita ou inteligente pode ser boa se seu sentido maior não for
revelado na Oração Eucarística. Se as palavras não levaram para o rito
sacramental, então, foram um anexo (mesmo que muito útil) à missa e não
verdadeira pregação. Se os cantos alegres não convergiram para a consagração,
então, foram uma grande ilustração, mas não passaram disso. Até hoje, nós
verdadeiramente reconhecemos o Senhor no partir do pão. E toda a caminhada
passa a fazer sentido, inclusive o caminho imediato de volta a Jerusalém. Dom
Rogério Augusto das Neves Bispo Auxiliar de São Paulo
REFLEXÃO
II
- O texto do livro de
Deuteronômio refaz a memória do povo liberto da escravidão do Egito. É preciso
recordar, reconhecer e guardar aquilo que de fato forma o povo de Deus. Por
vezes, as tentações do poder desviam os filhos de Deus do caminho da vida. Na
trajetória do deserto, Deus ofereceu caminho, alimento e vestes. O Senhor
cuidou de cada um nesse lugar perigoso, difícil e cheio de desafios. Tudo foi
superado pela proteção divina.
- São Paulo, na carta
aos Coríntios apresenta um belo ensinamento sobre a Eucaristia. Ela é a
comunhão de Cristo e seus irmãos. O corpo eucarístico de Jesus é a comunidade
reunida ao redor da mesa da Palavra e da Eucaristia. Cristo é o único pão, que
realmente sacia toda a fome da humanidade. Apesar das diversas formas de
pensamento, todos formam um só corpo. Jesus é a cabeça e nós os membros desse
corpo.
- Jesus é o Pão vivo descido do céu! O
discurso do pão da vida e a ideia da vivência eucarística ficam evidentes no
Evangelho de hoje. João não descreve a narrativa da instituição eucarística
como os demais evangelistas. Todavia, supõe-se que o autor é conhecedor dessa
prática e assim, a comunidade reunida, celebra com fervor Jesus ressuscitado no
meio de todos. Mas, poderia-se questionar: não seria loucura comer carne humana
ou mesmo beber o sangue, símbolo da vida? O ensinamento de Jesus escandalizou
muitas pessoas. Essas não compreenderam a mensagem de Jesus e permaneceram na
superficialidade das palavras. Não conseguiram ir além!
- Quem quer a vida
eterna precisa se alimentar de Jesus, de sua mensagem, de sua carne. Cristo se
entrega como alimento para a nossa vida juntamente ao Pai. Nesta comunhão
acontece uma real permanência. Não há mais aquilo que se torna passageiro,
semelhante ao maná comido no deserto, mas em Cristo, temos o alimento que nos
indica o caminho da vida eterna. Jesus se rebaixa a nossa condição humana e nos
redime de todo o mal gerado pelo pecado. Nele temos a redenção, a garantia da
vida eterna e a morte já não tem mais força sobre os filhos adotivos.
- Jesus, o Filho
unigênito de Deus, fez-se homem e vivenciou toda a nossa humanidade. Ele foi a
oferenda viva para a nossa reconciliação no altar da cruz. Já não são mais
cordeiros oferecidos nos altares para a expiação dos muitos pecados, mas é
agora o próprio Cordeiro de Deus, que nos faz livres de todo o pecado do mundo.
Jesus eucarístico transforma misteriosamente as vidas humanas e faz com que
cada um se volte para Ele.
- Em cada celebração
eucarística vivemos a doação que Cristo fez naquela última ceia. Ele se fez
sacrífício na cruz por nós e pelo mundo inteiro. A Eucaristia exige de nós
comprometimento para com o outro. Jesus teve compaixão pelos seus e nos ensina
a fazer o mesmo. Em torno do mistério eucarístico nasce o dom da caridade e
gera a fraternidade nas relações sociais. A Eucaristia cria diálogos
verdadeiros comprometidos com a trans- formação do mundo.
- Pela Eucaristia, crescem as virtudes e a
nossa alma é saciada dos dons espirituais. Jesus passou fazendo o bem e deixou
para todos o penhor da salvação: sua própria vida! Já dizia o Papa emérito
Bento XVI: "participar da mesa eucarística é nos colocar numa atitude corajosa,
para a promoção da vida e da dignidade humana em todas as suas dimensões. Quem
permanece fechado em si mesmo impossibilita a graça divina na transformação do
mundo". Estejamos abertos à graça dinâmica do Espírito Santo.
https://diocesedesaomateus.org.br/wp-content/uploads/2023/05/08_06_23.pdf
REFLEXÃO III
“O duplo efeito da Eucaristia”
Hoje, celebramos a
Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, Corpus Christi. Na segunda leitura da
liturgia de hoje, São Paulo desperta a nossa fé neste mistério de comunhão (cf.
1 Cor 10, 16-17). Ele enfatiza dois efeitos do cálice partilhado e do pão
partido: o efeito místico e o efeito comunitário. Primeiro o Apóstolo afirma:
“O cálice da bênção que nós abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo?
O pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo?” (v. 16). Estas
palavras expressam o efeito místico ou podemos dizer o efeito espiritual da
Eucaristia: diz respeito à união com Cristo, que no pão e no vinho se oferece
para a salvação de todos. Jesus está presente no sacramento da Eucaristia para
ser o nosso alimento, para ser assimilado e para se tornar em nós aquela força
renovadora que restaura a energia e restabelece o desejo de se pôr a caminho,
depois de cada pausa ou queda. Mas isto exige o nosso consentimento, a nossa
vontade de nos deixarmos transformar, o nosso modo de pensar e de agir; caso
contrário, as celebrações eucarísticas em que participamos reduzem-se a ritos
vazios e formais. ... O segundo efeito é o comunitário e é expresso por São
Paulo com estas palavras: “E como há um único pão, nós, embora sendo muitos,
somos um só corpo” (v. 17). É a comunhão recíproca daqueles que participam na
Eucaristia, a ponto de se tornarem um só corpo, pois um só é o pão que se parte
e se distribui. Nós somos comunidade, alimentados pelo corpo e pelo sangue de
Cristo. A comunhão com o corpo de Cristo é sinal eficaz de unidade, comunhão e
partilha. Não se pode participar na Eucaristia sem se comprometer numa
fraternidade recíproca, que seja sincera.... “Permanecei no meu amor” (Jo 15,
9), disse Jesus; e isto é possível graças à Eucaristia. Este duplo fruto da
Eucaristia – o primeiro, a união com Cristo, e o segundo, a comunhão entre aqueles
que se alimentam d'Ele – gera e renova continuamente a comunidade cristã. É a
Igreja que faz a Eucaristia, mas é mais fundamental que a Eucaristia faça a
Igreja, e permite que ela seja a sua missão, ainda antes de a cumprir. ... Que
a Santíssima Virgem nos ajude a acolher sempre com admiração e gratidão o
grande dom que Jesus nos deu, deixando-nos o Sacramento do seu Corpo e do seu
Sangue.
Papa Francisco, oração do Ângelus, 16/6/2020
https://www.diocesedeerexim.org.br/painel/admin/upload/revistas_pdf/rev-394-6.missasjunho.pdf
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