Sacerdote para
eternidade
Há dias, ao celebrar a Santa Missa, detive-me
um breve momento para considerar as palavras de um salmo que a liturgia punha
na antífona da Comunhão: O Senhor é o meu pastor, nada me poderá faltar. Esta
invocação trouxe-me à memória os versículos de outro salmo, que se recitava na
cerimônia da Primeira Tonsura: o Senhor é a parte da minha herança. O próprio
Cristo põe-se nas mãos dos sacerdotes, que se fazem assim dispensadores dos
mistérios – das maravilhas – do Senhor. No próximo Verão receberá as Sagradas
Ordens meia centena de membros do Opus Dei. Desde 1944 sucedem-se, como uma
realidade de graça e de serviço à Igreja, estas ordenações sacerdotais de
alguns membros da Obra. Apesar disso, todos os anos há gente que se espanta.
Como é possível, interrogam-se, que trinta, quarenta, cinquenta homens, com uma
vida cheia de afirmações e de promessas, estejam dispostos a ser sacerdotes?
Queria expor hoje algumas considerações, mesmo correndo o risco de aumentar
nessas pessoas os motivos de perplexidade.
Por quê ser
Sacerdote?
O santo sacramento da Ordem Sacerdotal será
ministrado a este grupo de membros da Obra, que contam com uma valiosa
experiência – talvez de muito tempo – como médicos, advogados, engenheiros,
arquitetos ou de outras diversíssimas atividades profissionais. São homens que,
como fruto do seu trabalho, estariam capacitados para aspirar a postos mais ou
menos relevantes na sua esfera social.
Vão ordenar-se para servir. Não para mandar,
não para brilhar, mas para se entregarem, num silêncio incessante e divino ao
serviço de todas as almas. Quando forem sacerdotes não se deixarão arrastar
pela tentação de imitar as ocupações e o trabalho, dos leigos, mesmo que se
trate de tarefas que conheçam bem por as terem realizado até agora, o que lhes
conferiu uma mentalidade laical que não perderão nunca.
A sua competência nos diversos ramos do saber
humano – da história, das ciências naturais, da psicologia, do direito, da
sociologia -, embora faça parte necessariamente dessa mentalidade laical, não
os levará a quererem apresentar-se como sacerdotes-psicólogos,
sacerdotes-biólogos ou sacerdotes-sociólogos. Receberam o sacramento da Ordem
para serem, nem mais nem menos, sacerdotes-sacerdotes, sacerdotes cem por
cento.
É provável que sobre muitos assuntos temporais
e humanos, entendam mais do que muitos leigos. Mas, desde que são sacerdotes,
calam com alegria essa competência para continuarem a fortalecer-se
espiritualmente através da oração constante, para falarem só de Deus, para
pregarem o Evangelho e administrarem os sacramentos. Este é, se assim se pode
dizer, o seu novo trabalho profissional, ao qual dedicam todas as horas do dia,
que sempre serão poucas, porque é preciso estudar constantemente a ciência de
Deus, orientar espiritualmente tantas almas, ouvir muitas confissões, pregar
incansavelmente e rezar muito, muito, com o coração sempre posto no Sacrário,
onde está realmente presente Aquele que nos escolheu para sermos seus, numa
maravilhosa entrega cheia de alegria, inclusivamente no meio de contrariedades,
que a nenhuma criatura faltam.
Todas estas considerações podem aumentar,
como vos dizia, os motivos de admiração. Alguns continuarão talvez a perguntar
a si mesmos: mas porquê esta renúncia a tantas coisas boas e nobres da terra, a
uma profissão mais ou menos brilhante, a influir cristãmente, com o exemplo, no
âmbito da cultura profana, do ensino, da economia, ou de qualquer outra
atividade social? Outros ficarão admirados lembrando-se de que hoje, em não
poucos sítios, grassa uma desorientação notável sobre a figura do sacerdote;
apregoa-se que é preciso procurar a sua identidade e põe-se em dúvida o
significado que, nas circunstâncias atuais, possa ter a entrega a Deus no
sacerdócio. Finalmente, também poderá surpreender alguns que, numa época em que
escasseiam as vocações sacerdotais, estas surjam entre cristãos que já tinham
resolvido – graças a um trabalho pessoal exigente – os problemas de colocação e
trabalho no mundo.
Sacerdotes e leigos
Compreendo essa estranheza, mas não seria
sincero se afirmasse que a compartilho. Estes homens que, livremente, porque
assim o quiseram – e isto é uma razão muito sobrenatural - abraçam o
sacerdócio, sabem que não fazem nenhuma renúncia, no sentido em que vulgarmente
se emprega esta palavra. Já se dedicavam – pela sua vocação ao Opus Dei – ao
serviço da Igreja e de todas as almas, com uma vocação plena, divina, que os
levava a santificar o trabalho e a procurar, por meio dessa ocupação
profissional, a santificação dos outros.
Como todos os cristãos, os membros do Opus
Dei, sacerdotes e leigos, sempre cristãos correntes, encontram-se entre os
destinatários destas palavras de S. Pedro: vós sois raça eleita, sacerdócio
real, nação santa, povo adquirido, afim de anunciantes as virtudes d’Aquele que
vos chamou das trevas para a Sua luz admirável. Vós que outrora não éreis o Seu
povo, mas que agora sois o povo de Deus; vós que antes não tínheis alcançado
misericórdia e agora a alcançastes.
Uma única e a mesma é a condição de fiéis
cristãos nos sacerdotes e nos leigos, porque Deus Nosso Senhor nos chamou a
todos à plenitude da caridade, à santidade: bendito seja Deus e Pai de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais
em Cristo. Foi assim que n’Ele nos escolheu antes da constituição do mundo,
para sermos santos e imaculados diante dos Seus olhos.
Não há santidade de segunda categoria: ou
existe uma luta constante por estar na graça de Deus e ser conformes a Cristo,
nosso Modelo, ou desertamos dessas batalhas divinas. O Senhor convida todos
para que cada um se santifique no seu próprio estado. No Opus Dei esta paixão
pela santidade – apesar dos erros e misérias individuais – não se diferencia
pelo facto de se ser sacerdote ou leigo; e, além disso, os sacerdotes são
apenas uma pequeníssima parte, em comparação com o total de membros.
Olhando com olhos de fé, a chegada ao
sacerdócio não constitui, portanto, nenhuma renúncia; e chegar ao sacerdócio
também não significa um passo mais na vocação ao Opus Dei. A santidade não
depende do estado – solteiro, casado, viúvo, sacerdote -, mas sim da
correspondência pessoal à graça, que a todos é concedida, para aprendermos a
afastar de nós as obras das trevas e para nos revestirmos das armas da luz, da
serenidade, da paz, do serviço sacrificado e alegre à humanidade inteira.
Dignidade do
Sacerdócio
O sacerdócio leva a servir a Deus num estado
que, em si mesmo, não é melhor nem pior do que os outros; é diferente. Mas a
vocação de sacerdote aparece revestida duma dignidade e duma grandeza que nada
na terra supera. Santa Catarina de Sena põe na boca de Jesus Cristo estas
palavras: não quero que diminua a reverência que se deve professar aos
sacerdotes, porque a reverência e o respeito que se lhes manifesta, não se
dirige a eles, mas a Mim, em virtude do Sangue que lhes dei para que o
administrem. Se não fosse isso, deveríeis dedicar-lhes a mesma reverência que
aos leigos e não mais… Não devem ser ofendidos: ofendendo-os ofende-se a Mim e
não a eles. Por isso o proibi e estabeleci que não admito que toqueis nos meus
Cristos.
Alguns afadigam-se à procura, como dizem, da
identidade do sacerdote. Que claras resultam estas palavras da Santa de Sena!
Qual é a identidade do sacerdote? A de Cristo. Todos os cristãos podem e devem
ser, não já alter Christus, mas ipse Christus: outros Cristos, o próprio
Cristo! Mas no sacerdote isto dá-se imediatamente, de forma sacramental.
Para realizar uma obra tão grande – a da
Redenção – Cristo está sempre presente na Igreja, principalmente nas ações
litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, tanto na pessoa do Ministro –
“oferecendo-se agora por ministério dos sacerdotes O mesmo que se ofereceu a si
mesmo na cruz” -, como, sobretudo, sob as espécies eucarísticas. Pelo
sacramento da Ordem, o sacerdote torna-se efetivamente apto para emprestar a
Nosso Senhor a voz, as mãos, todo o seu ser: é Jesus Cristo quem, na Santa
Missa, com as palavras da consagração, transforma a substância do pão e do
vinho no Seu Corpo, Alma, Sangue e Divindade.
Nisto se fundamenta a incomparável dignidade
do sacerdote. Uma grandeza emprestada, compatível com a minha pequenez. Eu peço
a Deus Nosso Senhor que nos dê, a todos os sacerdotes, a graça de realizar
santamente as coisas santas, e de refletir também na nossa vida as maravilhas
das grandezas do Senhor. Nós, que celebramos os mistérios da Paixão do Senhor,
temos de imitar o que fazemos. E então a hóstia ocupará o nosso lugar diante de
Deus, se nós mesmos nos fizermos hóstias.
Se alguma vez encontrais um sacerdote que,
exteriormente, não parece viver de acordo com o Evangelho – não o julgueis,
Deus o julga – , sabei que, se celebrar validamente a Santa Missa, com intenção
de consagrar, Nosso Senhor não deixa de descer até àquelas mãos, ainda que
sejam indignas. Pode haver maior entrega, maior aniquilamento? Mais do que em
Belém e no Calvário! Porquê? Porque Jesus Cristo tem o Coração oprimido pelas
suas ânsias redentoras, porque não quer que ninguém possa dizer que não foi
chamado, porque se faz encontrar pelos que não O procuram.
É amor? Não há outra explicação. Que
insuficientes se tornam as palavras, para falar do Amor de Cristo! Ele baixa-se
a tudo, admite tudo, expõe-se a tudo – a sacrilégios, a blasfêmias, à frieza da
indiferença de tantos – com o fim de oferecer, ainda que seja a um único homem,
a possibilidade de descobrir o bater de um Coração que salta no Seu peito
chagado. Esta é a identidade do sacerdote: instrumento imediato e diário da
graça salvadora que Cristo ganhou para nós. Se se compreende isto, se isto é
meditado no silêncio ativo da oração, como se pode considerar o sacerdócio uma
renúncia? É um ganho impossível de calcular. A Nossa Mãe Santa Maria, a mais
santa das criaturas – mais do que Ela, só Deus – trouxe uma vez Jesus ao mundo;
os sacerdotes trazem-no à nossa terra, ao nosso corpo e à nossa alma, todos os
dias: Cristo vem para nos alimentar, para no vivificar, para ser, desde já,
penhor da vida futura.
Sacerdócio comum e
sacerdócio ministerial
Nem como homem, nem como fiel cristão, o
sacerdote é mais do que o leigo. Por isso é muito conveniente que o sacerdote
professe uma profunda humildade, para entender como também no seu caso se
cumprem plenamente, de modo especial, aquelas palavras de S. Paulo: que possuís
que não tenhais recebido? O recebido… é Deus! O recebido é poder celebrar a
Sagrada Eucaristia, a Santa Missa – fim principal da ordenação sacerdotal -,
perdoar os pecados, administrar outros sacramentos e pregar com autoridade a
Palavra de Deus, dirigindo os outros fiéis nas coisas que se referem ao Reino
dos Céus.
O sacerdócio dos presbíteros, que pressupõe
os sacramentos da iniciação cristã, confere-se mediante um Sacramento
particular, pelo qual os presbíteros, pela unção do Espírito Santo, são selados
com um caráter especial e se configuram com Cristo Sacerdote de tal modo que
podem atuar na pessoa de Cristo cabeça. A Igreja é assim, não por capricho dos
homens, mas por expressa vontade de Jesus Cristo, seu Fundador. O sacrifício e
o sacerdócio estão tão unidos, por determinação de Deus, que em toda a Lei, na
Antiga e na Nova Aliança, existiram os dois. Tendo, pois, recebido a Igreja
Católica no Novo Testamento, por instituição do Senhor, o sacrifício visível da
Eucaristia, deve-se também confessar que há n’Ele um novo sacerdócio, visível e
externo, no qual se transformou o antigo.
Nos que são ordenados este sacerdócio
ministerial soma-se ao sacerdócio comum de todos os fiéis. Portanto, seria um
erro defender que um sacerdote é mais cristão do que qualquer outro fiel, mas
pode afirmar-se que é mais sacerdote: pertence, como todos os cristãos, ao povo
sacerdotal redimido por Cristo e, além disso, está marcado com o caráter do
sacerdócio ministerial, que se diferencia essencialmente, e não apenas em grau,
do sacerdócio comum dos fiéis.
Não compreendo o empenho de alguns sacerdotes
em se confundirem com os outros cristãos esquecendo ou descuidando a sua missão
específica na Igreja, para a qual foram ordenados. Pensam que os cristãos
desejam ver no sacerdote um homem mais Não é verdade. No sacerdote querem
admirar as virtudes próprias de qualquer cristão e de qualquer homem honrado: a
compreensão, a justiça, a vida de trabalho – trabalho sacerdotal neste caso -,
a caridade, a educação, a delicadeza no trato. Mas, juntamente com isto, os
fiéis pretendem que se destaque claramente o caráter sacerdotal: esperam que o
sacerdote reze, que não se negue a administrar os Sacramentos, que esteja
disposto a acolher a todos sem se constituir chefe ou militante de
partidarismos humanos, sejam de que tipo forem; que ponha amor e devoção na celebração
da Santa Missa, que se sente no confessionário, que conforte os doentes e os
atormentados, que ensine catequese às crianças e aos adultos, que pregue a
Palavra de Deus e não qualquer tipo de ciência humana, que – mesmo que a
conhecesse perfeitamente – não seria a ciência que salva e leva à vida eterna;
que saiba aconselhar e ter caridade com os necessitados.
Numa palavra: pede-se ao sacerdote que
aprenda a não estorvar em si a presença de Cristo nele, especialmente no
momento em que realiza o Sacrifício do Corpo e Sangue e quando, em nome de
Deus, na Confissão sacramental auricular e secreta, perdoa os pecados. A
administração destes dois Sacramentos é tão capital na missão do sacerdote, que
tudo o mais deve girar à sua volta. As outras tarefas sacerdotais – a pregação
e a instrução na fé - careceriam de base, se não estivessem dirigidas a ensinar
a ter intimidade com Cristo, a encontrar-se com Ele no tribunal amoroso da
Penitência e na renovação incruenta do Sacrifício do Calvário, na Santa Missa.
Deixai que me detenha ainda um pouco na
consideração do Santo Sacrifício: porque, se para nós é o centro e a raiz da
vida cristã, deve sê-lo, de modo especial, na vida do sacerdote. Um sacerdote
que, culpavelmente, não celebrasse diariamente o Santo Sacrifício do Altar,
demonstraria pouco amor de Deus; seria como lançar em cara a Cristo que não
compartilha da ânsia de Redenção, que não compreende a sua impaciência em se
entregar, inerme, como alimento da alma.
Sacerdote para a
Santa Missa
Convém recordar, com importuna insistência,
que todos nós, sacerdotes, quer sejamos pecadores quer santos, quando
celebramos a Santa Missa não somos nós próprios. Somos Cristo, que renova no
altar o seu divino Sacrifício do Calvário. A obra da nossa Redenção cumpre-se
continuamente no mistério do Sacrifício Eucarístico, no qual os sacerdotes
exercem o seu principal ministério, e por isso recomenda-se encarecidamente a
sua celebração diária pois, mesmo que os fiéis não possam estar presentes, é um
acto de Cristo e da sua Igreja.
Ensina o Concilio de Trento que na Missa se
realiza, se contém e incruentamente se imola aquele mesmo Cristo que uma só vez
se ofereceu Ele mesmo cruentamente no altar da Cruz… Com efeito, a vítima é uma
e a mesma: e O que agora se oferece pelo ministério dos sacerdotes, é O mesmo
que então se ofereceu na Cruz, sendo apenas diferente a maneira de se oferecer.
A assistência ou a falta de assistência de
fiéis à Santa Missa não altera em nada esta verdade de fé. Quando celebro
rodeado de povo, sinto-me satisfeito, sem necessidade de me considerar
presidente de nenhuma assembleia. Sou, por um lado, um fiel como os outros, mas
sou, sobretudo, Cristo no Altar! Renovo incruentamente o divino Sacrifício do
Calvário e consagro in persona Christi, representando realmente Jesus Cristo,
porque lhe empresto o meu corpo, a minha voz e as minhas mãos, o meu pobre
coração, tantas vezes manchado, que quero que Ele purifique.
Quando celebro a Santa Missa apenas com a
participação daquele que ajuda à Missa, também aí há povo. Sinto junto de mim
todos os católicos, todos os crentes e também os que não crêem. Estão presentes
todas as criaturas de Deus – a terra, o céu, o mar, e os animais e as plantas
-, dando glória ao Senhor da Criação inteira.
E especialmente – di-lo-ei com palavras do
Concilio Vaticano II – unimo-nos no mais alto grau ao culto da Igreja
celestial, comunicando e venerando sobretudo a memória da gloriosa sempre
Virgem Maria, de S. José, dos santos Apóstolos e Mártires e de todos os santos.
Peço a todos os cristãos que rezem muito por nós, sacerdotes, para que saibamos
realizar santamente o Santo Sacrifício. Rogo-lhes que mostrem um amor tão
delicado à Santa Missa, que nos leve, a nós, sacerdotes, a celebrá-la com
dignidade – com elegância – humana e sobrenatural: com asseio nos paramentos e
nos objetos destinados ao culto, com devoção, sem pressas.
Porquê pressa? Têm-na por acaso os namorados
ao despedir-se? Parece que se vão embora e não vão: voltam uma e outra vez,
repetem palavras correntes como se acabassem de as descobrir… Não receeis
aplicar exemplos do amor humano, nobre, limpo, às coisas de Deus. Se amarmos o
Senhor com este coração de carne – não temos outro – não sentiremos pressa em
terminar esse encontro, essa entrevista amorosa com Ele.
Alguns vivem com calma e não se importam de
prolongar até ao cansaço leituras, avisos, anúncios Mas, ao chegarem ao momento
principal da Santa Missa, ao Sacrifício propriamente dito, precipitam-se,
contribuindo assim para que os outros fiéis não adorem com piedade Cristo,
Sacerdote e Vítima; nem aprendam a dar-lhe graças depois – com pausa, sem
precipitações -, por ter querido vir de novo até nós.
Todos os afetos e necessidades do coração do
cristão encontram na Santa Missa o melhor caminho: aquele que, por Cristo, chega
ao Pai no Espírito Santo. O sacerdote deve pôr especial empenho em que todos o
saibam e vivam. Não há atividade alguma que possa antepor-se normalmente à de
ensinar e fazer amar e venerar a Sagrada Eucaristia.
O sacerdote exerce dois actos: um, principal,
sobre o Corpo de Cristo verdadeiro; outro, secundário, sobre o Corpo Místico de
Cristo. O segundo ato ou ministério depende do primeiro, e não ao contrário .
Por isso, o que há de melhor no ministério sacerdotal é procurar que todos os
católicos se aproximem do Santo Sacrifício cada vez com mais pureza, humildade
e veneração. Se o sacerdote se esforça nesta tarefa, não ficará defraudado, nem
defraudará as consciências dos seus irmãos cristãos.
Na Santa Missa adoramos, cumprindo
amorosamente o primeiro dever da criatura para com o seu Criador: adorarás o
Senhor teu Deus e só a Ele servirás. Não adoração fria, exterior, de servo; mas
íntima estima e acatamento, que é amor profundo de filho.
Na Santa Missa encontramos a oportunidade
perfeita de expiar os nossos pecados e os de todos os homens: para poder dizer,
como S. Paulo, que estamos cumprindo na nossa carne o que falta padecer a
Cristo. Ninguém caminha sozinho no mundo, ninguém deve considerar-se livre de
uma parte de culpa no mal que se comete sobre a terra, consequência do pecado
original e também da soma de muitos pecados pessoais. Amemos o sacrifício,
procuremos a expiação. Como? Unindo-nos na Santa Missa a Cristo, Sacerdote e
Vítima; será sempre Ele quem carregará com o peso imenso das infidelidades das
criaturas; das tuas e das minhas…
O Sacrifício do Calvário é uma prova infinita
a generosidade de Cristo. Nós – cada um – somos sempre muito interesseiros; mas
Deus Nosso Senhor não se importa de que na Santa Missa Lhe apresentemos todas
as nossas necessidades. Quem não tem coisas a pedir? Senhor, aquela doença…
Senhor, esta tristeza… Senhor, aquela humilhação, que não sei suportar por amor
de Ti… Queremos o bem, a felicidade e a alegria das pessoas da nossa casa;
oprime-nos o coração a sorte dos que padecem fome e sede de pão e de justiça;
dos que sentem a amargura da solidão; dos que, no termo dos seus dias, não
recebem um olhar de carinho nem um gesto de ajuda.
Mas a grande miséria que nos faz sofrer, a
grande necessidade a que queremos pôr remédio é o pecado, o afastamento de
Deus, o risco de que as almas se percam para toda a eternidade. Levar os homens
à glória eterna no amor de Deus: esta é a nossa aspiração fundamental ao
celebrar a Missa, como o foi a de Cristo ao entregar a sua vida no Calvário.
Acostumemo-nos a falar com esta sinceridade
ao Senhor, quando desce, vítima inocente, até às mãos do sacerdote. A confiança
no auxilio do Senhor dar-nos-á essa delicadeza de alma, que se traduz sempre em
obras de bem e de caridade, de compreensão, de profunda ternura com os que
sofrem e com os que vivem artificialmente fingindo uma satisfação oca, tão
falsa, que depressa se converte em tristeza.
Agradeçamos, finalmente, tudo o que Deus Nosso
Senhor nos concede, pelo fato maravilhoso de Se nos entregar Ele mesmo. Que
venha ao nosso peito o Verbo Encarnado!… Que se encerre, na nossa pequenez,
Aquele que criou céus e terra!… A Virgem Maria foi concebida imaculada para
albergai Cristo no seu seio. Se a ação de graças há-de ser proporcional à
diferença entre o dom e os méritos, não devíamos converter todo o nosso dia
numa Eucaristia contínua? Não saiais do templo, mal acabeis de receber o Santo
Sacramento. Tão importante é o que vos espera que não podeis dedicar ao Senhor
dez minutos para lhe dizer obrigado? Não sejamos mesquinhos. Amor com amor se
paga.
Um sacerdote que vive deste modo a Santa
Missa adorando, expiando, impetrando, dando graças, identificando-se com Cristo
-, e que ensina os outros a fazer do Sacrifício do Altar o centro e a raiz da
vida do cristão, demonstrará realmente a grandeza incomparável da sua vocação,
esse caráter com que foi selado, e que não perderá por toda a eternidade. Sei
que me compreendeis quando vos afirmo que, ao lado de um sacerdote assim, se
pode considerar um fracasso – humano e cristão – a conduta de alguns que se
comportam como se tivessem de pedir desculpa por ser ministros de Deus. É uma
desgraça, porque os leva a abandonar o ministério, a arremedar os leigos, a
procurar uma segunda ocupação que a pouco e pouco suplanta a que lhes é própria
por vocação e por missão. Freqüentemente, ao fugir do trabalho de cuidar
espiritualmente das almas, tendem a substituí-lo por uma intervenção em campos
próprios dos leigos – nas iniciativas sociais, na política -, aparecendo então
esse fenômeno do clericanismo, que é a patologia da verdadeira missão
sacerdotal.
Não quero terminar com esta nota sombria, que
pode parecer pessimismo. Não desapareceu na Igreja de Deus o autêntico
sacerdócio cristão; a doutrina é imutável, ensinada pelos lábios divinos de
Jesus. Há muitos milhares de sacerdotes em todo o mundo que cumprem plenamente
a sua missão, sem espetáculo, sem cair na tentação de lançar pela borda fora um
tesouro de santidade e de graça, que existe na Igreja desde o princípio.
Aprecio a dignidade da finura humana e
sobrenatural destes meus irmãos, espalhados por toda a terra. É de justiça que
se vejam já agora rodeados pela amizade, a ajuda e o carinho de muitos
cristãos. E quando chegar o momento de se apresentarem diante de Deus, Jesus
Cristo irá ao seu encontro, para glorificar eternamente aqueles que, no tempo,
atuaram em seu nome e na sua Pessoa, derramando com generosidade a graça de que
eram administradores. Voltemos de novo, em pensamento, aos membros do Opus Dei
que serão sacerdotes no próximo Verão. Não deixeis de pedir por eles, para que
sejam sempre sacerdotes fiéis, piedosos, doutos, entregues, alegres!
Encomendai-os especialmente a Santa Maria, que torna ainda mais generosa a sua
solicitude de Mãe com aqueles que se empenham, para toda a vida, em servir de
perto o seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, Sacerdote Eterno.
São
Josemaria Escrivá.
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0339.htm#msg02
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