REFLEXÃO DOMINICAL I
O
BOM PASTOR DÁ A VIDA POR SUAS OVELHAS
O discurso de Jesus
no evangelho de hoje é dominado pela figura do Bom Pastor. Se estrutura,
segundo a técnica de São João que nos apresenta, uma antítese: “pastor
mercenário”. O mercenário foge na hora do perigo, não tem nenhuma relação de
comunhão com as ovelhas, por isso, as abandona à própria sorte, deixando-as por
conta própria. O pastor, por sua vez, estabelece uma íntima comunhão com as
ovelhas, ou seja, Jesus nesta simbologia do pastor delineia positivamente a
figura de estreita comunhão que o liga a nós: Ele conhece. O verbo “conhecer”,
no vocabulário bíblico, é expressão viva do diálogo de amor que Jesus
estabelece com a humanidade, é uma expressão da morte de Jesus como gesto de
amor — doação do verdadeiro pastor por suas ovelhas. Jesus, o Bom Pastor, é
íntimo da vida humana, se importa com a nossa vida e isso deve ecoar para todos
nós como a certeza de que o Deus cristão jamais é asséptico, ausente, distante
da nossa vida. Jamais caminhamos pela vida sozinhos e desamparados. O Bom
Pastor nos acompanha e nos defende de todos os “lobos”, isto é, de todos os
males. É Ele que nos dá a vida eterna, por isso, no cotidiano da nossa vida
devemos buscar o Ressuscitado na luz, não na escuridão das más intenções. É
Jesus Ressuscitado que ilumina, orienta e anima nossa vida no dia a dia até a
vida eterna. A figura de Jesus Bom Pastor, tornou-se a imagem mais querida dos
primeiros cristãos, conforme nos atesta as catacumbas de Roma, onde Jesus é
representado carregando sobre seus ombros a ovelha perdida. Não podemos
confundir Jesus com um pastor autoritário, dedicado a exercer controle e
vigilância sobre seus discípulos, mas como um pastor que é bom e que, portanto,
cuida de suas ovelhas, dando por elas a sua própria vida. Não é possível contemplarmos
esta imagem de Jesus como pastor, desvinculando-a do mistério da sua morte e
ressurreição. A primeira característica do Bom Pastor é se preocupar: isto
significa que ele não as esquece, não as abandona nunca. Está sempre atento,
sobretudo às mais fracas e as doentes. Ao celebrarmos o “domingo do Bom
Pastor”, Jesus nos deixa uma mensagem que jamais poderá ser esquecida: devemos
nos preocupar com os enfermos, com os fracos, com os marginalizados, com os
esquecidos, com os indefesos. Esta lembrança é um grande convite a “conversão”
do nosso próprio ego, isto é, sairmos da centralidade do próprio eu e irmos ao
encontro do outro, pois o Bom Pastor não parece preocupar-se consigo, mas com
os outros. Nós, discípulos do Bom Pastor, precisamos nos curar da tentação da
“amnésia espiritual” que nos faz esquecer que o Bom Pastor dá a vida por suas
ovelhas e que podemos recorrer a Ele, sobretudo, quando nos sentimos cansados,
sem forças, perdidos ou desorientados.
Dom Cícero Alves de França Bispo Auxiliar de São Paulo
https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-48b-29-4o-domingo-de-pascoa.pdf
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