REFLEXÃO DOMINICAL III
"Dou a Vida pelas
Ovelhas..."
Confesso
que ás vezes como católico, sinto uma “pontinha” de ciúmes dos dirigentes das
Igrejas Históricas, que são denominados de “Pastores”, que a meu ver é um
título mais profundo e sublime do que “Padre”, que por sua vez significa
“Pai”.Entretanto, ambos estão corretos e de acordo com o evangelho, pois a
palavra “Padre”, embora signifique “Pai” é compreendida no sentido de ser
aquele que cuida, toma conta, zela, dirige, mantém, e não aquele que “gera”,
embora ainda haja o argumento de que, no batismo a igreja filhos e filhas de
Deus, entretanto, o Batismo é realizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, portanto, a palavra pastorear é uma ação mais humana e esta é, a meu
ver, uma das mais belas alegorias aplicadas a Jesus, pelo evangelista.
No
antigo Testamento, a maioria dos pastores não eram donos do rebanho, mas
trabalhavam para alguém que era o verdadeiro proprietário. Em Ezequiel 34, Deus
censura os maus pastores e garante que ele mesmo irá cuidar do seu rebanho “Eu
mesmo apascentarei o meu rebanho, eu mesmo lhe darei repouso, buscarei a ovelha
que estiver perdida, curarei a ferida, reconduzirei a que estiver desgarrada”
Em
Jesus Cristo essa profecia se cumpre, e quando ele se apresenta como o Bom
Pastor, está dizendo a todos aqueles a quem confiou as ovelhas : “Vejam, é
assim que eu quero que tratem as minhas ovelhas”. Portanto, nenhum dirigente de
uma Igreja Cristã, poderá ter dúvidas sobre como tratar as ovelhas, a
consciência de que elas não são suas, não fazem parte de sua propriedade, deve
estar sempre presente na missão de um verdadeiro pastor. As ovelhas pertencem a
Deus, devem ser conduzidas até sua casa, e cabe ao pastor apenas mostrar o
caminho.
Há
neste evangelho um versículo que ensina de modo muito claro como age o
verdadeiro pastor, e aqui a reflexão se torna mais ampla, porque o recado não é
direcionado apenas aos dirigentes, mas a qualquer cristão que tenha na
comunidade alguma responsabilidade pastoral. Na nossa compreensão do dia a dia,
alguém que é BOM, é aquela pessoa quietinha, que não tem boca pra nada, que não
reclama, não critica, só faz o bem, é muito boazinha. Mas o conceito de BOM,
nesse evangelho, sendo aplicado a Pastor, quer antes de tudo nos mostrar que
Jesus, enquanto modelo perfeito de homem, no seu jeito de amar, vai além dos
limites.
Podemos
entender melhor esse pensamento na comparação entre o Pastor e o mercenário,
que também é um pastor, porém, profissional contratado, uma espécie de
“Tarefeiro”, que pastoreia o rebanho apenas pelo salário, tendo certas obrigações
e deveres constantes do contrato, por exemplo, diante de algum perigo que
rondasse as ovelhas, ele teria que defendê-las, porém, desde que a sua vida não
estivesse sendo colocada em risco: diante de um Leão faminto e feroz, ele podia
abandonar o rebanho á sua própria sorte, pois não tinha como enfrentar um leão,
ou seja, na defesa da vida das ovelhas há um limite. Então não vamos fazer mau
juízo do mercenário.
Entretanto,
é bom fazer uma pergunta fundamental: quem é que irá contratar um profissional,
que trabalhe apenas pelo salário, que apenas faça aquilo que é necessário, ou
que apenas cumpra o contrato? Se fosse em um time profissional, seria aquele
jogador que só entrou para ganhar o “bicho”, nunca vai “suar” a camisa, aliás,
nem a camisa do time ele vai vestir. É aquele agente de pastoral, ou
participante de um movimento, que sempre diz de peito estufado “A minha parte
eu sempre faço!”. Esse é o mercenário, que sempre faz o que tem que fazer, e
que é sua obrigação.
Jesus
Cristo, o único e verdadeiro Pastor, apresenta-se como BOM nesse sentido, de
que as ovelhas, cada uma delas em particular, são o alvo de sua atenção, de
modo que o seu interesse está voltado totalmente para elas, a vida do rebanho
todo e de cada ovelha, é mais preciosa do que a sua própria Vida, e se vier uma
matilhas de Lobos ferozes, ou um bando de leões famintos, ele nunca “dá no pé”,
mas fica e enfrenta, ainda que esse ato, marcado de um amor extremoso e
infinito, represente a perda da sua vida.
Há
uma tentação muito grande, de nesse Domingo do Bom Pastor, olharmos para os
nossos dirigentes e pastores, ministros ordenados e servos de Deus, colocados
pela Instituição à frente da comunidade, paróquia ou Diocese, criticar
duramente sua conduta e condená-los ao inferno ainda em vida, mas pensemos um
pouco naquelas ovelhas, numerosas ou não, ou quem sabe apenas uma ovelha, que
Deus colocou sob os nossos cuidados, na vida comunitária ou familiar, se a
nossa relação com elas, não se modelar em Jesus, o Bom Pastor, nosso pecado
será tão grave como o das lideranças, e também iremos um dia prestar conta
dessas ovelhas diante do único e verdadeiro DONO do rebanho. (Domingo do Bom
Pastor – João 10, 11-18)
José
da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0361.htm#msg01
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